“Eu só queria ser livre para sentir a adrenalina viver dentro de mim, mesmo que o perigo e as escolhas erradas me perseguissem sempre. Desejei o novo e o novo sempre me trouxe perigo, mas eu jamais esperaria que ele me traria o amor, e que ele fosse o maior perigo que eu iria correr e que também seria a minha salvação.” Existe liberdade na prisão do amor? Marylin Darlinghton teve seu primeiro amor, mas foi um amor que ela jamais deveria ter sentido. Um amor errado, um amor repleto de dor, mas talvez tenha sido graças a ele que ela encontrou a verdadeira liberdade e o verdadeiro amor. “Eu perdi o que era mais precioso para mim, e ao perdê-la eu perdi tudo, inclusive a mim mesmo. Eu me perdi no amor que sentia pela minha pequena princesa, e pela culpa. Eu estou perdido na minha dor, na minha culpa e na ilusão da liberdade.” Há como encontrar perdão em memórias fragmentadas? Um homem perdido em uma ilha, perdido na perda e nas memórias que o atormentam. Preso à ilha, às suas memórias e à culpa, até que encontra alguém tão perdido e machucado quanto ele. Duas pessoas presas em uma ilha, ela à procura de sua liberdade e de um recomeço. Ele, preso em suas memórias e em sua culpa à procura da morte. Duas almas perdidas e presas em seus próprios tormentos e ilusões. Será que serão capazes de se encontrarem, se reconstruírem e se libertarem?
Ler maisPV Marylin Darlinghton
Sempre ouvi falar daquele sentimento bonito de quando uma mulher apaixonada entra no altar e olha em direção ao noivo, ali esperando, sorrindo para ela, diziam os apaixonados que aquele momento ficava em câmera lenta, como se tudo parasse e só existisse os dois naquele local, todas essas sensações segundo os apaixonados vinham através do amor, da paixão e de todo os sentimentos desconhecidos que rodeavam o casal.
Eu nunca sonhei em sentir esse sentimento, porque eu sempre soube que aquele momento lindo e que todos queriam um dia viver, significava a prisão de dois corpos, que ficariam ligados um ao outro, sem que eles pudessem viver a liberdade que eles tinham, que todos nós tínhamos, mesmo que ela fosse pouca, essa prisão que eles tanto almejavam só terminaria quando um deles percebessem que não valia a pena perder a liberdade para estar ali presos numa corrente de ouro, que jamais se quebraria se não fosse o desejo de lutar pelo animal dentro de nós que desejava mais do que qualquer coisa correr livre sem ter ninguém para se preocupar além de si mesmo. Correr sem olhar para atrás, apenas olhando para frente, sem ter medo de perder nada além daquele sentimento de liberdade que todos nós possuíamos, mas que apenas não tínhamos coragem de lutar para senti-lo de verdade como eu, que lutava acima de tudo. Mas que estava agora o deixando ir, dando passos cada vez mais devagar para chegar até o homem que me esperava ali no final do altar, William me observava de forma atenta, sorrindo como se eu fosse a coisa mais preciosa de todas, um sorriso no qual um dia acreditei, assim como acreditei no “Eu te amo”, que ele disse tantas vezes para mim, no qual eu retribuía, assim como suas carícias que me passavam proteção, desejo e prazer, tudo uma verdadeira mentira.
E, mesmo assim, aqui estava eu, olhando em sua direção, sentindo medo e dor pela liberdade que estava deixando para trás, meu ego, minha natureza, entrando nesse altar, estava deixando meu amor burro me levar, meu medo me vencer e me fazer perder tudo que eu mais almejava em todo meu ser, eu nunca tinha me sentido assim, era como se uma tristeza profunda possuísse meu ser, era um sentimento terrível. Respirei fundo ao chegar a William que pegou minha mão puxando-a delicadamente, cumprimentando-me com um beijo na boca, um selinho simples, que antes trazia um sentimento de pura felicidade, mas que agora eu percebia o quão frio era.
A cerimônia começou, a cada palavra do padre todos pareciam ficar mais emocionados, aquilo tudo devia ser emocionante para mim, mas infelizmente era como estar numa cadeira elétrica, esperando ligarem, para finalmente eu morrer com uma profunda dor, intensa e contínua, até parar de lutar e me deixar ser carregada pela escuridão.
Olhei para William que parecia querer tanto quanto eu que aquilo acabasse, ele não me olhava, apenas olhava para frente como se eu não estivesse ao seu lado segurando em sua mão, desejando que ele me amasse de verdade, porque eu o amava de uma forma tão intensa e burra que eu mesma me mataria se pudesse. Eu não havia escolhido amá-lo, eu apenas sentia. Se eu pudesse escolher, não escolheria sentir esse sentimento. Eu o odiaria se pudesse, eu o mataria se pudesse, mas não escolhíamos quem nosso coração amava, apenas podíamos decidir se o coração mandava ou não nessa decisão.
Observei William se virar para mim, assim como eu para ele, depois de tanto tempo tínhamos que nos encarar de verdade, sem desviar o olhar um do outro, como eu fazia quando ele me batia, eu nunca conseguia encará-lo depois, não por medo, mas por vergonha de não conseguir reagir.
No começo eu fugia e até batia de volta, mas depois de um tempo eu não aguentava mais e apenas me encolhia por vergonha de não ter forças para lutar pela minha vida, minha liberdade.
Respirei fundo, esperando o padre perguntar se William me aceitava como sua legítima esposa, ele sorriu antes de responder, deixando meu coração com um compasso a menos, quando ele respondeu um sonoro e enorme sim, fazendo minha vez chegar mais rápido, senti minhas mãos começarem a suar, meu corpo começar a esquentar como se não tivesse um vento congelante batendo contra minha pele. Senti pela primeira vez o peso enorme do vestido, os meus saltos apertando meus dedos e minhas pernas tremerem.
Virei-me para o padre focando em suas palavras:
— Marylin Darlinghton é de livre e espontânea vontade que aceita William Gauthier como seu legítimo esposo para amá-lo e respeitá-lo na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe?
O padre olhou para mim sorrindo, esperando minha resposta, assim como William, que apertava minha mão firme, começando a me machucar cada vez mais ao decorrer da minha demora, olhei para ele, vendo raiva começar a ser refletida pelos seus olhos castanhos e seu belo rosto, abaixei a cabeça respirando fundo, sentindo o medo e a vergonha me tomar. Eu nunca baixei a cabeça, nunca tive medo, eu sempre sentia felicidade, sempre levantava a cabeça, tinha coragem para correr atrás da minha liberdade, mesmo sabendo os problemas que ela sempre podia me causar, mas agora, aqui estava eu, prestes a dizer sim para um homem que não me amava, que me levaria a perder o meu ser, um homem que me mataria em algum momento ou me faria cometer os piores dos atos. Em algum momento eu me mataria, porque não me via mais no espelho, via apenas uma mulher com hematomas, com dor transparecendo no olhar, com uma tristeza profunda na alma, que jamais iria se curar. Eu não sentia mais meu espírito livre, mas eu ainda ouvia seus sussurros e ali naquele altar improvisado numa casa à beira-mar eu escutei assim como eu senti quando o vento me bateu e sussurros vieram a mim.
SALVE-SE.
Aquela única palavra cortante bateu em mim como o vento gelado que tinha me deixado, levantei a cabeça e encarei William, puxei minha mão com força, levantei meu vestido e corri passando por todas aquelas pessoas que me encaravam chocadas, mas aquilo não me preocupou nem um pouco, apenas corri, temendo ser seguida e capturada pelos homens de William, que em breve estariam me caçando e com medo dessa simples ideia eu não consegui olhar para trás.
Olhei para os lados percebendo que não tinha mais saída além do porto.
Observei todos aqueles barcos parados, desligados e guardados, totalmente seguros, como eu gostaria de estar agora, eu não tinha para onde ir.
Eu estava sozinha, pela primeira vez correndo para salvar minha liberdade, mas sem ter nenhuma saída à frente.
Parei exausta, com os pés doendo dentro do salto e sem ter coragem nenhuma de tirar eu apenas olhei em volta, estava presa novamente e com um futuro incerto, parecendo cada vez mais impossível.
Não sei quanto tempo fiquei parada ali, mas sem dúvida, fiquei tempo suficiente para ser achada, porque quando tive coragem de voltar a andar eu nem sequer tive oportunidade, senti olhos me seguindo e sem olhar para trás, corri em frente, era final de semana nenhum daqueles barcos iriam sair tão cedo, eu estava morta, foi quando ouvi um barulho de motor forte e estrondoso, perto o suficiente para sentir o cheiro do motor queimando, apressei meus passos, chegando a tempo para ver o barco afastando-se da passarela, estava perto o suficiente para mim pular, mas também longe o suficiente para eu cair. Senti o vento bater forte como as ondas à frente, assim como o sussurro que aquela rajada forte trazia.
PULE!
Era uma ordem e sem pensar, corri o resto da passarela e pulei me segurando na beirada do barco, meus saltos caíram batendo contra a água, sendo levados para baixo pelo motor do barco, trazendo um impulso para não acontecer o mesmo comigo, usei toda minha força para subir e finalmente consegui me jogar para dentro do barco, caindo em cima de redes e mais redes de pescaria. Eu tinha conseguido. E só esse pensamento me fez sorrir, mas não o suficiente para ter coragem de olhar para trás e ver o porto e os homens de William. Continuei deitada e sorrindo com os olhos fechados, recebendo o sol e a brisa do mar, sentindo o barco se afastar cada vez mais e mais da minha prisão, eu não sei quando dormi, mas estava tão cansada e tão atormentada que caí em um sono profundo e só acordei quando senti alguém me chutar, fazendo com que eu abrisse os olhos e desse de cara com um homem alto e forte, que provavelmente tinha a minha idade, talvez mais pela altura e pelo corpo musculoso, ele me olhava curioso.
— Pai, acho que pescamos uma sereia – disse sorrindo, fazendo um velho senhor careca e de intensos olhos azuis aparecer atrás dele também curioso.
— Não me lembro de ter jogado a rede – disse, estendendo a mão para mim, olhei para sua mão e respirando fundo a peguei.
PV Marylin Darlinghton5 anos depois...Sentei-me ao lado do René no jardim enquanto observávamos Daphne junto com o avô cavalgando, conseguia ver o rosto orgulhoso do meu pai ao ver o talento que Daphne tinha com os cavalos assim como eu. — Ela é a sua cópia — disse René, abraçando-me. — Eu sei — disse, sorrindo sem conter o orgulho em minha voz. Acariciei minha barriga onde tinha mais um bebê a caminho, um menino dessa vez. — Esse também vai ser minha cópia — falei, fazendo René rir. — E você acha que eu não sei disso? Estou preocupado em ter que lidar com três pares de joelhos ralados em vez de só dois — disse, beijando meu pescoço e tocando minha barriga onde nosso pequeno Saymon chutava com força. — Muito preocupado — falou René. Ri. Estávamos casados havia 5 anos, casamo-nos alguns meses após o nascimento de Daphne enquanto ainda estávamos em Atenas. Eu não demorei a compreender que meu destino sempre esteve à minha frente e que René era o homem que me daria o verdadeiro am
PV René Carvalier4 meses depois…Olhei para Francine à minha frente, estávamos apenas nós dois no meu escritório, hoje era o dia em que deixaria tudo para trás finalmente, Mary estava me esperando em casa com as malas prontas para partimos para a Grécia, onde Ulisses, Aquiles e Ágata nos esperavam com tudo pronto para termos a pequena Daphne, esse era o nome da nossa pequena. Daphne, obviamente fui eu que escolhi, porque eu sabia que ela seria ruiva como a mãe e que provavelmente teria os olhos dela também, eu sentia que terei duas cabelos de fogo para fazerem meus dias intensos e felizes, Mary estava entusiasmada com o divórcio, e saber que William partiu para longe, fez algo se libertar de dentro da minha Sereia, e ela voltou a ser como Raymond gostava de dizer, um cavalo selvagem. Desviei meu olhar do porta-retrato de Mary que tinha em cima da mesa, e toquei meu colarinho, perto de onde a escuta dos federais estava presa, nunca imaginei que chegaria a essa situação, mas quando a i
PV Marylin Darlinghton A porta foi trancada, e todos nos encaravam. — René precisa nos explicar o que está acontecendo, como você pode estar aqui? — falou o pai dele. — E por que apareceu dessa forma, porque não em uma reunião de família de forma íntima? E quem é ela? — falou o pai dele, trazendo seu olhar avaliativo em minha direção, ele desceu até minha barriga. — Ela está grávida? Ela sabe dos seus problemas? — perguntou, senti a mão do René apertar a minha, e toquei seu braço trazendo seu olhar para mim. Sorri levemente. Precisávamos fazer isso, tínhamos escolhido essa forma de aparecer por um motivo muito importante. Desviei meu olhar para a mulher morena, com um corpo definido, seus seios pulavam do tecido de couro justo demais para ela. — Eu não consegui pensar em uma forma melhor do que uma aparição pública para informar que eu estou vivo, vai ser bom para os negócios, sei que muitos clientes fechavam contratos apenas comigo, bom agora eles têm um motivo para voltar par
PV René Carvalier2 meses depois...Olhei para o longo vestido preto de Mary, analisando-o de cima a baixo. Havia duas aberturas, cada uma em um lado da perna, seguido de um decote que ia até um pouco abaixo dos seus seios, um decote em V que deixava seus seios agora maiores ainda mais atraentes, seu cabelo longo e vermelho estava todo para frente em seu ombro esquerdo, deixando-a ainda mais sensual, seu vestido era justo o suficiente para sua barriga de 4 meses ser notada, nosso pequeno bebê crescia mais a cada dia e Mary ficava ainda mais encantadora, como a sereia que ela era. Ela parecia pronta para o que estávamos prestes a fazer, mais pronta do que eu inclusive, seu rosto sério e determinado me mostrava isso. Ajudei-a a descer da limusine e nós dois paramos para encarar o tapete vermelho estendido pela escada da entrada da enorme mansão dos Carvalier, onde a festa de gala, tradição da minha família e da de Othon onde uniam todos os advogados de alto nível, promotores e juízes, a
PV Raymond DarlinghtonEsperava ansiosamente o elevador subir lentamente todos os andares até a cobertura, até levar-me à minha filha.Escutar sua voz no celular fez meu coração bater tão forte e rápido contra o peito que quase não consegui ouvir as palavras que sua voz doce dizia, mas desde que peguei o avião da Austrália para a Riviera, as palavras repetiam em minha mente.“Venha me ver papai, estou em Nice e estou com saudades.”Ela me mandou o endereço de onde estava e não me disse mais nada, o que deixava minha imaginação livre para criar todas as possíveis situações que a fizeram sair do castelo e do porquê de ter retornado para Riviera.Respirei fundo, assim que as portas do elevador se abriram e segui para o hall de entrada, parei em frente à porta e bati duas vezes. Ouvi duas vozes masculinas, toquei minha arma na cintura. Se William estivesse com Mary não pensaria duas vezes em atirar, ele não tocaria mais na minha filha, só por cima do meu cadáver.A porta se abriu, e surgi
PV René Carvalier — De quanto tempo você está, Mary? — perguntou Othon para Mary, enquanto esperávamos o piloto taxiar pela pista. — Eu não sei exatamente, mas o médico acha que estou entre 6 e 8 semanas — falou olhando pela janela, onde ainda conseguíamos ver Ulisses, Aquiles e Ágata, eles trouxeram as poucas coisas que deixamos na casa, e vieram se despedir com a promessa que retornaríamos para ter o bebê aqui na Grécia. — Dessa vez sou completamente a favor do relacionamento — falou Othon trazendo a atenção de Mary, agradeci a ele com uma troca de olhares. Deixar a Grécia, a ilha para trás era trilhar o caminho para encarar William frente a frente, assim como toda a bagagem que foi deixada quando Mary o deixou no altar. — Conquistei você quando descobriu que eu pulei em um barco em movimento — Mary brincou com ele. — Exatamente, sabe a probabilidade de aquele salto terminar de forma trágica? — Não tenho ideia — respondeu Mary sorrindo. — Eu também não, mas com certeza era
Último capítulo