O frio daquela manhã cortava como vidro. O vento que serpenteava entre as árvores carregava mais que folhas — ele trazia sussurros. Palavras esquecidas, antigas, ecoavam nas frestas do tempo, e apenas aqueles que haviam atravessado o véu da morte conseguiam escutar.
Etan estava entre eles.
Desde a Canção da Alcatéia, ele andava como alguém entre dois mundos. Havia voltado, sim. Vivo. Respirando. Amando. Mas em seus olhos morava um traço do além. Um brilho que não se apaga com a luz do sol. Um vestígio do que ele viu — ou ouviu — enquanto sua alma vagava no limiar da existência.
— Você está diferente — comentou Elian, observando-o de longe.
Etan apenas assentiu.
— Eu ouço... vozes. Sons que não são desta floresta. Há uma melodia constante no fundo do mundo. Às vezes, ela sussurra meu nome.
Lia, preocupada, o acompanhava o tempo todo. Não deixava que ele ficasse sozinho por muito tempo. Ela sabia: os portões que se abrem entre os mundos nem sempre se fecham por completo.
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O Primeiro