Capítulo 7 - A Reunião dos Nomes

Chovia.

O necrotério reverberava um som úmido, grave, como se as paredes respirassem.

Kieron — ou Key’Ryn, como agora sabia se chamar — caminhava entre os corredores com Evelyn ao seu lado, cada passo mais pesado.

Ao fundo, portas batiam sozinhas.

As luzes piscavam, os nomes sussurrados por vozes antigas voltavam a preencher o ar:

— Elijah…

Mara…

Jonas…

Clara…

Dimitri…

Koraline…

Zahir…

— São eles — disse Nix, surgindo do nada. — Os doze.

— E o décimo terceiro? — Evelyn perguntou.

Nix fitou Kieron.

— Ainda está adormecido.

---

No antigo setor de armazenamento, os corpos estavam em pé.

Não como zumbis.

Mas como reflexos de algo maior, mais profundo.

E cada um deles tinha os olhos dourados — como os de Kieron no reflexo da água.

— Eles eram como eu… — ele sussurrou. — Acordantes?

— Fragmentos de ti — respondeu Nix. — Cada nome que você guardou, cada vida que tentou restaurar… Era uma parte do todo que você é.

— E agora querem me tomar?

As figuras se moveram ao mesmo tempo.

— Não tomar — disse um deles, a voz reverberando em todas as direções. — Queremos ser novamente.

Em ti, temos chance de existência.

Fora de ti… somos pó.

Kieron deu um passo à frente.

— E se eu quiser devolvê-los? Liberar cada um?

Outra figura respondeu:

— Alguns querem partir.

Outros… querem permanecer.

E então começaram a cercá-lo.

Evelyn tentou intervir, mas foi repelida por uma onda de vento.

Nix se posicionou à frente de Kieron.

— Escolha agora, Key’Ryn.

Abra-se… ou rasgue o véu que une vocês.

Ele fechou os olhos.

Inspirou.

E, um a um, falou os nomes.

Com cada nome pronunciado, uma alma se libertava — com lágrimas, com gratidão, com medo.

Até que restaram três.

Três que se recusavam.

Os olhos deles ardiam em laranja.

— Nós não queremos esquecer.

Nós queremos voltar.

Eles avançaram.

E foi então que Kieron gritou:

— ENTÃO LEVEM MINHA HISTÓRIA, MAS NÃO MEU CORPO!

Um estrondo.

A pedra espelhada explodiu em sua mão.

Luz. Dor. Memória.

---

Silêncio.

Ele acordou no chão do necrotério.

Evelyn o observava, assustada.

— Kieron? Você está bem?

Ele respirou fundo.

— Não sei mais o que é "bem", Evelyn.

Mas sabia de uma coisa.

Os três que ficaram… ainda estavam dentro dele.

E estavam acordados.

O necrotério parecia mais escuro naquela noite, embora as luzes estivessem acesas.

Como se uma sombra houvesse se instalado entre as paredes, quieta, observadora.

Kieron lavava o rosto numa das pias do porão. A água escorria fria, mas o que queimava era o que pulsava debaixo da pele.

Letras.

Palavras.

Nomes.

Marcas douradas começavam a surgir em seus braços, como tatuagens vivas que brilhavam sob a luz fraca.

— Você está… se transformando — disse Evelyn, espantada.

Ele ergueu os olhos para o espelho.

Mas o reflexo… não o seguia.

Era como se outra versão dele estivesse ali, preso no vidro, sorrindo com crueldade.

— Eles estão em mim — disse Kieron, a voz rouca. — Três deles. Não se foram.

— Consegue ouvi-los?

Ele assentiu lentamente.

— Sussurram. Tentam confundir. Me mostram lembranças que não são minhas… ou talvez sejam.

---

Enquanto Kieron lutava com o próprio corpo, Evelyn explorava a sala de registros — onde fichas de todos os corpos recebidos no necrotério eram arquivadas.

Folheando páginas antigas, uma ficha chamou sua atenção:

"Paciente sem identificação.

Sexo feminino.

Aparenta 16 anos.

Data de entrada: 3 dias antes de Kieron começar a trabalhar aqui.

Observação: o corpo desapareceu misteriosamente da câmara fria nº4."

Ela leu novamente.

Desapareceu.

Mas Evelyn estava ali. Ela era o corpo.

Ou pelo menos… achava que era.

Atrás da ficha, colado com fita amarelada, havia um bilhete manuscrito:

"Se este corpo voltar, não tente enterrá-lo.

Ele é a chave.

O começo e o fim."

Evelyn tremeu.

---

De volta à sala principal, Kieron cambaleava entre sussurros.

— Nos liberte…

Nos alimente…

Nos deixe ser você…

Ele caiu de joelhos.

As marcas em seus braços queimavam, as vozes se misturavam.

Então, por um instante, ele sentiu…

Três corações batendo dentro de si.

---

Evelyn entrou correndo.

— Kieron, encontrei algo! Você… você não me recebeu por acaso. Eu já estive aqui antes. Antes de você!

Ele a olhou. As pupilas dele estavam cortadas por fios dourados.

— Eu sei.

Porque você não é só uma alma perdida.

Ele tocou o ombro dela.

— Você é o elo.

A chave que faltava entre os nomes e o véu.

Evelyn cambaleou, assustada.

Atrás deles, os armários da sala começaram a se abrir sozinhos.

As fichas voaram como folhas em vento profético.

Uma nova voz ecoou.

Não uma das três dentro de Kieron.

Outra.

Mais antiga.

Mais próxima.

— Então finalmente se lembraram de mim.

Kieron. Evelyn.

Está na hora de voltarmos onde tudo começou…

O Hospital Esquecido.

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