Depois de Filha da Luz, Filho do Desígnio, Filho da Escuridão é o terceiro livro pelo ponto de vista do Heron. Uma luz se abriu no meio da escuridão e ele abriu os olhos para a vida. Seria possível que mesmo após tanto tempo ele ainda estivesse no meio do Vazio, conseguindo ter consciência para pensar no que estava fazendo ali? Heron não estava entendendo nada do que poderia estar acontecendo. E como ainda estava vivo depois de ter sido brutalmente ferido na batalha contra Lucien. Ele salvara a vida de quem mais amava para que ela pudesse ser feliz. Mas, e ele? Era tão mal ou tão desprezível que não merecesse talvez uma redenção? Ele achava que sim. Até ter a Morte Encarnada em sua frente e descobrir que na verdade ele estava em saldo com o Diabo, tendo que aceitar uma barganha perigosa com quem agora governava o Inferno. Seria fácil por ele ser um demônio? Talvez. Mas, Heron pode aprender que até mesmo sua própria escuridão pode olhar de volta quando se renasce dela.
Leer másNo Vazio, tudo era absolutamente nada. Uma rede de mentes interligadas, mas sem qualquer conexão ou corpos. Ali estavam para passar a mais absoluta cômoda e tediosa eternidade. Um rasgo na escuridão, trazendo luz inundou o que era tão monótono, um lugar onde raramente acontecia alguma coisa.
Pela primeira vez um corpo foi dimensionado para dentro, tomando forma e calor. O homem desenhado pelo céu e criado pelo Inferno, invadiu aquele além obscuro, sendo jogado nu e sem entender o que estava acontecendo. Ele caiu de joelhos pelo chão plano, mas sem definição ou qualquer parâmetro de onde sua extensão começava ou terminava. Se pôs de pé, meio tonto e seus olhos não enxergavam muito a frente. O rasgo no horizonte rapidamente se fechou, a escuridão se tornando absoluta mesmo em seus olhos poderosos.
Heron tentou compreender o que estava fazendo ali… Lembrava dos últimos momentos de vida, sabia que estava morto, completamente sem vida, nem mesmo a consciência que tinha naquele lugar. Ele era um demônio, não tinha alma nem paraíso pós-morte para que fosse depois que sucumbiu ao ataque de Lucien. Então o que aquilo tudo significava?
Tocou seu corpo para ter certeza de que era real, sua pele macia e forte do abdômen eram tão densas e estreitas como uma rocha. Sua mente trabalhava rapidamente e tinha certeza absoluta de que estava mesmo no meio do Vazio, Diabos sabia o porquê nem como. Apenas as lendas frescas em sua memória atemporal, fazia com que ele aliasse o local que estava e os momentos anteriores.
A nudez nunca havia sido um problema em sua vida. Mas, estar no meio daquilo sem vestimentas, incomodaria qualquer um. Então sem ter o que fazer, se colocou entre as pernas no chão e esperou por qualquer coisa mudar. Se ele havia sido trazido ali, algum motivo teria. Longe do que os humanos pensam, demônios não iam para o Inferno, que era destinado às almas mais vis e criaturas sobrenaturais maléficas. O Céu às almas boas e puras, assim também governado por anjos. As criaturas demoníacas como ele, apenas morriam. Ele sempre acreditou que era porque Deus sequer se daria ao trabalho de criar um lugar para eles, que estavam tão abaixo dos podres seres humanos, que não precisam de descanso ou danação eterna, apenas paravam de existir. E mais, uma vez que a aliança era feita com Lúcifer, nossa alma era destruída, por isso a encarnação bestial de nosso ser demoníaco.
Também quem se daria o trabalho de pensar no depois de um anjo, que havia preferido o Diabo do que o Senhor? Ele pensou.
Impaciente, Heron se deitou naquele chão inconstante, sem nenhum limiar, cujo seu corpo tocava apenas uma superfície plana. Ele fechou os olhos e lembrou de Handora. Estava ali por causa dela. Todo aquele sacrifício, ele esperava que tivesse valido a pena. E de alguma forma, sentiu que sim. Que mesmo toda a sua vida infame, pelo menos uma vez ele fez algo de bom para o mundo, em nome da mulher que amava. E amava com todas as forças, disso tinha certeza.
Handora em alguns momentos havia despertado o pior nele, mas não que exatamente fosse culpa dela. Sua indecisão obviamente não tinha favorecido sua vida, pendendo para o lado daquele anjo insuportável que era seu companheiro, mas ela também havia trazido luz, esperança e uma pontada de um fogo tão intenso, além de seu próprio que o fazia querer viver mais. Ele quis viver
mesmo, no entanto o preço para algo assim custaria muito mais do que ele estava disposto a pagar, do que adiantaria viver, se a mulher que ele amava não estaria ali? E pior, sabendo que ela tinha acabado de ter uma criança.
O demônio interior dele riu e o chamou de idiota. Mas, ele quis fazer o certo por ela, pelo menos naquele momento e conseguiu. O que o lembrou de outra ocasião que tinha feito quase a mesma coisa, por uma mulher. Ele já havia tido inúmeras companheiras de cama e algumas parceiras de crime durante um tempo. Se metia em cada enrascada por um rabo de saia, mas não deixava de viver. Afinal, tinha caído justamente por isso… Bem, não só por isso, no entanto ele adorava aproveitar cada segundo.
Mas, uma das piores situações foi em meados do século XV, estava passando épocas entre os monarcas daquela época para tirar o dinheiro de seus feudos e possuir suas mulheres. Não tinha certeza, mas talvez o termo Íncubo tenha sido criado por ele, claro que havia-se muito os demônios já se deitavam com humanos. Mas, o procriar veio dele e um certo desconforto o tomou ao se recordar do que tinha feito para aquela mulher.
Estava um palácio gigante na Europa e dizendo ser um Lorde, queria comprar algumas terras do rei em questão governante, que era mais feio que a forma dele demoníaca, mas com uma mulher de colocar reinos de joelhos perante sua graciosidade e beleza. Rosaline era de uma pele chocolate tão macia e cheirosa que o atordoava, um sorriso meigo, cabelos longos cacheados e olhos negros astutos. Claro que se atraíram logo de cara e iniciaram um tórrido romance de abalar as estruturas daquele lugar frio.
Alguns meses depois, ela começou a ter enjoos e reclamar de que até o perfume dele causava desmaios, o fato era que o rei não poderia gerar herdeiros e ao ver a esposa grávida desconfiou no primeiro minuto. Heron não a amava, mas tinha carinho por ela e prometeu cuidar de ambos. O rei, no entanto, ao ter certeza do traidor, mandou atirá-la em uma fogueira, queimando a moça e a criança que mal havia desenvolvido em seu útero. O desgraçado só havia tido a oportunidade, porque Heron tinha ido à aldeia preparar os cavalos e mantimentos para a fuga deles. Quando retornou para buscá-la, não só descobriu o feito, como destruiu o castelo abaixo, deixando as paredes molhadas e chapiscadas com o sangue de todos por suas garras.
A população ao saber da história por alguns trabalhadores que haviam fugido, o chamara de A Besta e a Igreja como um sacrilégio de um íncubo. Ele riu. Foi divertido quando se lembrou da cara do rei ao ser picado em tiras.
- Perdido em pensamentos, Heron? - uma voz retumbou com eco, na escuridão eterna.
Heron rapidamente se levantou e sentou, virando a cabeça em várias direções tentando identificar de onde tinha vindo a voz.
- Você não se lembra de mim, Azazyel? - a voz soou novamente.
Heron permaneceu onde estava e aos poucos, sentiu a presença marcante de um ser. Ninguém mais o chamava assim desde a queda dos anjos e a ascensão de um novo senhor do Inferno. Que seria apenas o próprio para repetir aquele maldito nome.
- Deveria ficar surpreso por você ainda estar vivo, Samael? - repetiu o nome angélico de seu outrora irmão de asas.
Ele riu e sua presença se tornou física ao aparecer a poucos metros de Heron em um feixe de luz clara.
- Você tem boa memória. Mas, tive que aparecer diante do caos que se instalou no Inferno pela saída de meus irmãos bastardos e toda aquela merda com aquela garota. Tudo já foi estabelecido e corre dentro dos padrões. - ele deu de ombros.
Samael ou Lúcifer para os humanos depois, era de uma beleza inigualável. Até mesmo Melahel ou Heron perdiam terrivelmente para ele. Os cabelos tão brilhantes cacheados e dourados tinha uma leve luz brilhante que ressoava toda vez que ele se movia. A pele branca como a lua e olhos tão claros azuis, pareciam o céu refletido à luz do sol. Na forma humana como aparentava diante de Heron, sua idade não poderia ser considerada superior a 25 anos pelo porte esbelto e grandioso do anjo caído.
- Que coisa desagradável, não? - Heron disse sarcástico. - Pode me dizer o que estou fazendo aqui? Estou morto, não estou? - a irritação começava a tomá-lo.
Vestido com roupas claras, mesmo sendo o comandante do Inferno, Lúcifer colocou as mãos juntas sobre a barriga lisa e negou com a cabeça.
- Você estava morto. - ele corrigiu. - Acontece que algum miserável ser me prendeu sob minha forma humana e me obrigou a fazer um pacto com a morte para trazê-lo de volta. - seus dentes rangeram e por um leve minuto, pareciam ter presas.
Heron coçou a cabeça, jogando o cabelo dos ombros, para trás.
- Isso não é possível. - ele sacudiu a cabeça. - Que tipo de pessoa faria isso? Ainda mais para me trazer a vida? - sua pergunta soou e ressoou pela escuridão.
Lúcifer ergueu as sobrancelhas claras.
- É isso que espero minha velha Senhora Morte responder. - ele murmurou.
Naquele mesmo fim de frase, uma sombra se elevou apenas um ou dois tons nas sombras, elevando sua forma retumbante e maliciosa. Um manto alto cobria o ser grotesco, que Heron havia visto apenas algumas vezes em sua existência fora daqueles tecidos todos. Não era nada agradável, e o demônio preferiu assim, ver a Morte sem qualquer questão.
- Não gosto de ser enganado. - a voz dela cortando o ar, perturbadora e grave.
Lúcifer riu.
- Ninguém gosta. Mas, vamos ao que interessa, que sei que meu irmão deve estar cansado. - Lúcifer continuou. - A questão não é nem por nos ter aprisionado, mas sim pela dívida em que te colocaram e que deve ser saudada de acordo com o que foi proposto.
Heron se arrepiou por completo.
- Que é? - exclamou.
Morte deu dois passos à frente, não muito longe de Heron.
- Eu quero almas. Estão me devendo almas. Muitas almas. - a Senhora obscura não parou de repetir.
Lúcifer revirou os olhos.
- A mim também… Mas, não só isso. Como seres sobrenaturais. Seria fácil capturar apenas humanos. Me prometeram almas místicas ou religiosas odiosas. E quero isso. - seu rosto trazia a ganância em cada linha de sua expressão.
Heron abri os lábios para contestar, mas não teve chance.
- Você não tem escolha. Uma vez que é você quem está sendo ressuscitado. Queremos a cabeça de quem nos enganou. Você não tem outra opção para seguir, menino. - A Morte alertou.
O som dos dentes dele sendo trincados com a raiva era audível.
- Ou o que? Serei morto? - debochou.
O semblante de Lúcifer mudou para um pesadelo em forma de homem.
- Não vai querer saber, irmão. Te proponho a aceitar essa barganha moderada em troca de que você viva novamente. Podendo fazer o que quiser.
Heron olhou para os dois e assentiu.
- Quais são os termos?
Abri meus olhos e pisquei contra a luz do Sol intensa, mas amanteigada e suave. Esfreguei minhas pálpebras como se tivesse dormido por muito tempo, e talvez tivesse, dado ao fato de que mais uma vez eu havia morrido.Me sentei sobre um campo de alfazemas e me lembrei de ter estado ali em um sonho não muito antigo. Passei meu cabelo atrás das orelhas e olhei pelos lados sobre a campina extensa, tentando entender como exatamente vim parar aqui. Handora havia dito que assim que morresse nós partiríamos juntos, para que eu pudesse descansar com ela. Não imaginei que fosse naquele lugar, embora de qualquer jeito, estar com ela era tudo que eu mais queria.Uma figura surgiu no horizonte e sorri.Me levantei correndo e me senti leve, feliz e tranquilo. Notei que n
Avancei sem temer o que viria à frente.Melahel disparou em uma reta, sem olhar para os lados enquanto os meus soldados topavam com os dele. Meu elo reluziu e comecei a correr, sem conter toda a fúria que carregava no peito por aquele anjo. Meu mundo resumiu aquilo e um foco entrou em ação, onde ele era minha atração principal. Ele não deixou a desejar assim que levantou as adagas, girando para investir contra mim em um jogo de corpo.Me desviei vendo pelos cantos dos olhos os outros, lutando bravamente contra os anjos, humanos sendo massacrados. Tive um vislumbre de Heron deslizando sobre a terra como um forte oponente e talvez tivesse subestimado o garoto de porte médio, mas que parecia um touro ao socar e chutar os que vinham pela frente. Kéres destilava gavinhas e vi at
De olhos fechados, rocei meu nariz pelo de Handora.Sua forma corpórea estava sólida em meus braços, nós dois esparramados por uma cama, em um dos quartos do castelo. Bem longe de Keres e sua raiva. Eu havia lacrado o quarto para poder descansar um pouco e a figura dela já estava ali, me esperando como se estivesse estado presente o tempo todo. E era bem provável que sim.Ela apertou meu braço e descansou a cabeça sobre meu ombro.Fiquei alguns segundos, respirando o mesmo ar que aquela mulher sublime e estonteante. Para mim era completamente difícil registrar sua presença e acreditar que aquilo era real. Passei tanto tempo sofrendo, a dor de não tê-la me sufocando em ondas terríveis. Mas, como um milagr
- Você vai cuidar dele? - perguntei com o coração quase saindo pela garganta.Chandra assentiu.- Não se preocupe. Não tem lugar mais seguro para ele do que aqui. Você não pode levá-lo para onde está indo, Hadria.Por um minuto, hesitei.- Como poderei conviver com isso? - minha voz falhou.Chandra ninou Donn. Nós três estávamos na borda da floresta tropical.- Escute, filho. O que está fazendo não é ruim. Está buscando o bem para todos. Como seria para Donn conviver no Inferno? É esse tipo de criação que quer que ele
Atravessei para uma parte de sombras entre dois coqueiros.Donn chorou irritado com a passagem turbulenta pelo portal, pois eu ainda estava em recuperação pelo que sofrera nas mãos de Melahel.Sob a ponta da areia fina e pálida, um Sol aquecia meu elo. Observei a ilha de Príncipe, um lugar que ficava no minúsculo país de São Tomé e Príncipe, na África Equatorial. Me lembrava de algumas coisas do lugar, mas em vista do que era antes, a população de média renda baixa, havia se espalhado pela área central e não sabia exatamente se o pequeno clã de bruxas ainda residia ali.Os Malakai eram velhos e antigos amigos.Grande parte do pode
Alguém deu um tapinha no meu rosto e acordei sobressaltado.Pisquei com apenas um dos meus olhos abertos e vi a realidade crua de minha cela, muito distante daquele lugar surreal com a mulher que amei um dia. Trinquei meu maxilar e a dor estava excruciante. Mas, estarrecido notei que uma figura estranha ao meu cotidiano de tortura, praguejava ao tentar arrancar as presilhas de metal dos fios de choques, que estavam tão enterrados em minha pele, que soltaram um pedaço de minha carne neles.- Droga. - ele xingou.Mesmo com a visão embaçada, consegui ver alguns traços dele e diante de mim estava um homem alto. Os cabelos loiros escuros, incríveis olhos azuis intensos com uma pele clara de alabastro. Achei seu rosto familiar, mas não estava consciente o
Último capítulo