Era noite quando o primeiro Espelho-Fenda explodiu.
Não por impacto, nem por vandalismo — mas por sobrecarga. O vidro não aguentou conter tantas versões alternativas, tantas possibilidades em colisão. Ele estilhaçou-se em silêncio, e das lascas surgiram vozes. Ecos de vidas não vividas. Gritos de existências abortadas. O mundo estava se partindo de dentro.
Na sede da Ordem da Lembrança, o alerta foi imediato.
— Porto 7, distrito de Salvador — disse Ezra, ofegante. — O espelho explodiu, e duas entidades escaparam. Uma criança e… algo maior.
Kieron ergueu o olhar do manuscrito que escrevia. — O que significa maior?
Ezra hesitou.
— Um possível você.
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O local da explosão era um casarão abandonado no Centro Histórico. A área fora isolada, mas as pessoas ao redor relatavam pesadelos em massa, perdas de memória e, em alguns casos, acessos de fala em idiomas mortos.
Kieron, Lia e Evelyn foram os primeiros a entrar. O espelho ainda brilhava em fragmentos, flutuando como pequenos sóis partid