O mundo parecia em paz. Pela primeira vez em meses, não havia espelhos sussurrando nomes. As cidades não tremiam com a aproximação de realidades paralelas. O céu era apenas céu.
Mas Kieron sabia: toda cura deixa marcas. E algumas, mesmo invisíveis, ainda doem.
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Na sede da Ordem da Lembrança, os corredores estavam mais silenciosos do que o habitual. Os iniciados ainda se acostumavam com o novo equilíbrio. Muitos haviam perdido partes de si no Véu Invertido. Alguns não se lembravam mais do próprio nome. Outros, agora sonhavam com vidas que não eram suas.
E havia os que sonhavam com Kiera.
— Ela aparece em quase todos os relatos oníricos — disse Ezra, empilhando pergaminhos. — Como uma menina vestida de branco, segurando um livro em branco.
Kieron olhou para a janela. Lá fora, Kiera brincava sozinha, fazendo desenhos no chão com carvão.
— Ela não é mais só minha filha — disse ele. — Ela é a guardiã de todas as possibilidades.
— Isso é um peso — murmurou Evelyn, entrando na sala.
Kiero