110. Interceptação
A sexta-feira seguia com seu ritmo arrastado e cinzento, o céu fechado como uma cortina de chumbo sobre a cidade. Dentro da empresa, porém, o clima era outro — agitado, tenso, como se algo estivesse prestes a emergir das entrelinhas do cotidiano corporativo.
Paulo caminhava apressado pelo corredor do terceiro andar, os sapatos bem engraxados ecoando contra o piso de porcelanato. Tinha acabado de sair de uma reunião truncada com a área de compliance e, por alguma razão que ele próprio não saberia explicar, resolveu cortar caminho pelo núcleo administrativo, onde os estagiários e analistas juniores costumavam trabalhar.
Foi então que viu o carrinho de apoio de Isabela Duarte — aquele pequeno móvel metálico que ela usava para levar materiais entre setores, pendurado com pastas, bloquinhos e um fichário de capa azul. O carrinho estava encostado junto à impressora da baia sul, aparentemente esquecido por alguns minutos. Paulo hesitou. Olhou em volta. O ambiente estava vazio — Marina, a e