Capítulo 5 – A Caçada dos Amaldiçoados

Parte 1

 

O céu parecia mais escuro naquela noite — como se a própria Lua tivesse recuado diante da ameaça que se erguia na clareira.

 

Hadassa e Lee, agora em suas formas lupinas, observavam a criatura que se arrastava do outro lado da mata. Era uma sombra viva, retorcida, feita de cicatrizes, dentes e ódio puro. Os olhos vermelhos como brasas queimavam direto na alma de quem ousasse encará-lo.

 

Um antigo alfa corrompido. Uma lenda que muitos consideravam apenas um conto para assustar filhotes: o espírito de um líder que violara o maior tabu dos lobos — destruir o vínculo sagrado com sua luna.

 

— Ele não é como nós… — pensou Hadassa, usando o elo telepático com Lee. — Ele fede a morte.

 

— E à ruína — respondeu Lee. — Mas não vamos recuar. Não esta noite.

 

A criatura se movia com lentidão, mas cada passo era acompanhado de uma aura de escuridão que murchava a vegetação ao redor. As folhas secavam ao contato. A grama tornava-se cinza. Era como se a própria essência da floresta temesse sua presença.

 

Hadassa se posicionou ao lado de Lee, os músculos tensionados, os sentidos alertas. O vento soprava contra eles, trazendo o cheiro pútrido da criatura. Juntos, pareciam formar um só corpo — dois lados de uma mesma alma, unidos agora por algo mais poderoso do que a origem que os separava.

 

Sem aviso, a criatura atacou.

 

Um salto brutal, impossível de rastrear para olhos comuns. Mas Lee era um alfa, e Hadassa, mesmo jovem, já era luna por instinto e sangue. Ambos pularam para os lados no momento exato, evitando as garras que acertaram o chão com um estalo seco. A terra rachou onde o impacto aconteceu.

 

— Ele é rápido demais — avisou Hadassa. — Não podemos enfrentá-lo de frente.

 

Lee rosnou, dando a volta na criatura.

 

— Então vamos caçá-lo como caçamos presas difíceis. Desgaste. Movimento. Ataque e recuo.

 

A estratégia era simples, mas perigosa. A criatura não era apenas rápida — ela era imprevisível. E parecia ser capaz de ler os movimentos, como se antecipasse o instinto dos dois.

 

Por várias vezes, Hadassa escapou por um fio de ser atingida. Uma garra chegou a raspar seu flanco, arrancando uma mecha de pelos e deixando um traço ardente de dor que queimava mais do que qualquer ferida física.

 

A criatura urrou. Um som agudo, reverberante, que fez as pedras vibrarem e os nervos de Hadassa se contraírem. Ela sentiu náuseas.

 

Lee avançou com força total. Atacou pelas costas, cravou as presas no pescoço da criatura. Um golpe direto.

 

Mas o monstro parecia imune à dor.

 

Com um giro, lançou Lee longe, batendo-o contra uma árvore, que se partiu ao meio com o impacto. Um estalo alto ecoou pela floresta, seguido de um gemido sufocado.

 

— Lee! — Hadassa tentou correr até ele, mas foi bloqueada pela sombra viva.

 

Ela recuou, sentindo o desespero crescer. Se algo acontecesse com ele… se Lee morresse ali… o vínculo entre eles seria quebrado, e parte dela morreria junto.

 

Mas então algo mudou.

 

A marca em seu peito começou a brilhar. A espiral lunar que antes pulsava discretamente agora se acendia como uma tocha viva. E ao longe, a Lua, antes encoberta por nuvens, surgiu com toda sua glória. Um feixe de luz banhou a clareira, tocando primeiro Hadassa… depois Lee, que se levantou com dificuldade, os olhos agora mais dourados que nunca.

 

— Hadassa — sua voz chegou pela mente dela como um trovão manso — …a Lua está conosco.

 

Ela sentiu. Dentro de si, o poder pulsava, quente e antigo. Como se as ancestrais lunas despertassem em seu sangue. Como se a própria natureza gritasse: “reaja!”

 

Hadassa avançou.

 

Não com fúria.

 

Mas com propósito.

 

A criatura tentou interceptá-la, mas desta vez, ela desviou com uma graça sobrenatural. Pulou, girou, e atingiu o monstro com as garras bem nos olhos. Ele urrou, recuando, cego por instantes.

 

Lee, cambaleando, juntou-se a ela.

 

— Pronta para terminar o que começamos?

 

— Agora ou nunca.

 

Ambos saltaram juntos. Dois corpos. Uma alma. E quando atingiram a criatura, a luz da Lua explodiu ao redor deles como uma auréola prateada.

 

As sombras recuaram.

 

O monstro caiu.

 

E o silêncio voltou à floresta.

 

Por alguns segundos, tudo ficou parado. Lee e Hadassa arfavam, lado a lado, observando o corpo disforme da criatura começar a se desmanchar como poeira levada pelo vento.

 

— É o fim? — ela perguntou, com a voz embargada.

 

— Não — respondeu Lee. — É só o começo.

 

 

---

 

Eles retornaram à caverna exaustos, sujos de sangue e lama, mas vivos.

 

A noite parecia mais clara agora. E o laço entre eles… mais forte.

 

Hadassa se deitou sobre a pedra forrada com peles, e Lee sentou-se ao seu lado, passando os dedos sobre o ferimento dela com delicadeza.

 

— Você se feriu por minha causa — sussurrou ele.

 

— Eu me feriria mil vezes, se fosse por você.

 

Ele beijou sua testa. Depois suas pálpebras. Depois sua boca, com lentidão.

 

E ali, entre sombras que se dissipavam e marcas que começavam a cicatrizar, eles entenderam algo: o amor entre um alfa e uma luna não era apenas desejo ou destino.

 

Era guerra.

 

Era renascimento.

 

Era poder.

 

Parte 2

 

O amanhecer chegou silencioso.

 

A neblina dançava por entre as árvores da floresta densa, como se o mundo segurasse a respiração após o que acontecera. Hadassa e Lee permaneciam juntos no abrigo improvisado, seus corpos ainda sensíveis da batalha, mas seus espíritos pulsando com uma energia nova.

 

— Aquilo não era um espírito comum — Lee quebrou o silêncio, a voz rouca.

 

Hadassa concordou. Seu olhar estava fixo no céu pálido, mas sua mente mergulhava nas visões que tivera quando a marca em seu peito se acendeu. Ela vira outras luas. Outras lutas. Outros pares de lobo e luna, em tempos antigos.

 

— Era um antigo alfa. Corrompido pelo exílio, talvez... mas havia mais. Algo preso nele. Como se fosse um recipiente.

 

— Um receptáculo? — Lee virou o rosto. — Para quê?

 

— Não sei… mas a escuridão nele parecia viva. Independente. Como se algo mais o controlasse.

 

Lee se levantou. O corpo ainda doía, mas a mente dele já funcionava como a de um verdadeiro alfa: alerta, analítica, buscando padrões.

 

— Precisamos falar com Daron.

 

Hadassa hesitou.

 

— O xamã da sua alcateia?

 

— Sim. Ele é o único que ainda tem acesso aos textos antigos e às lendas não contadas.

 

Ela se levantou ao lado dele, pegando a adaga cerimonial com o símbolo lunar.

 

— Então vamos. Antes que algo pior acorde.

 

 

---

 

A trilha até as terras dos Sombrios era sinuosa e cercada de armadilhas naturais — gavinhas venenosas, armadilhas de cheiro, trilhas ilusórias feitas por encantadores da floresta. Mas Lee era filho da terra e conhecia cada árvore. Hadassa, por sua vez, confiava no instinto — e esse instinto agora parecia mais aguçado do que nunca.

 

Chegaram à clareira sagrada no meio da tarde.

 

O círculo de pedras antigas, envolto em cipós e ervas queimadas, era onde os rituais de sangue e passagem eram feitos. No centro, sentado como se esperasse por eles há horas, estava Daron.

 

Velho. Cego. Envolto em peles negras e tatuagens que cobriam todo o peito e braços. Seu cheiro era de raízes e fumaça.

 

— Trouxe a luna proibida — disse, sem abrir os olhos.

 

Hadassa parou, sentindo um calafrio na espinha.

 

— Ela tem um nome — respondeu Lee.

 

Daron riu com uma garganta seca como folhas mortas.

 

— Todos os nomes serão esquecidos quando a Lua Sangrenta subir. Mas sente-se, pequena luna. E você também, filho da Noite. Contem o que viram.

 

Eles contaram tudo.

 

O ataque. A criatura. A marca acesa. O vínculo que se fortalecera na batalha. Daron os escutou com atenção, sem interromper, movendo os dedos em gestos rituais sobre uma tigela de água.

 

Ao final, mergulhou as mãos e sussurrou palavras em uma língua antiga.

 

A superfície da água estremeceu.

 

Formas tomaram forma líquida: lobos antigos, luas vermelhas, sangue derramado sobre pedras. E então… o símbolo que Hadassa carregava no peito, fundido a outro que ela não conhecia.

 

— O que é isso? — ela perguntou.

 

Daron inspirou fundo.

 

— Vocês não mataram uma aberração. Vocês libertaram o selo.

 

— Selo? — Lee franziu a testa.

 

— Há mil anos, duas alcateias — a dos Sangue-Ferro e a dos Sussurrantes — selaram juntos o espírito de um deus da caça corrompido. Ele se alimentava de laços proibidos. Destruía pares lunares. E para prendê-lo, os antigos criaram dois receptáculos. Um alfa. Uma luna. Um de cada lado da guerra.

 

Hadassa sentiu um arrepio.

 

— Está dizendo que nós somos… reencarnações?

 

Daron sorriu. Triste.

 

— Não exatamente. Vocês são descendentes diretos. O selo não é só simbólico. Está no sangue de vocês. No vínculo. E agora que se uniram… o selo foi rompido.

 

O silêncio caiu como um peso de ferro.

 

— Isso significa… que o deus caçador está solto? — Lee perguntou, a voz pesada.

 

— Não ainda. Mas a criatura que enfrentaram era uma fração dele. Um fragmento da maldição. E mais virão. Cada um mais forte. Até que o verdadeiro espírito acorde.

 

Hadassa se ajoelhou, o rosto pálido.

 

— Como o impedimos?

 

— Há uma chance. — Daron levantou um dedo. — Mas exige sacrifício.

 

— Diga — Lee se adiantou.

 

— Vocês precisarão encontrar o Coração da Lua Esquecida. Um cristal antigo, escondido nas ruínas da alcateia extinta. Apenas o toque de uma luna marcada e o sangue de um alfa da Noite podem despertá-lo. Com ele… talvez consigam aprisionar o espírito novamente.

 

— E se falharmos? — Hadassa perguntou.

 

Daron respondeu com um sussurro:

 

— Então o mundo verá a última caçada. E desta vez, ninguém será poupado.

 

 

---

 

Mais tarde, sozinhos sob a luz do entardecer, Lee segurou a mão de Hadassa.

 

— Você tem medo?

 

Ela o encarou. A marca ainda brilhava fracamente sob a pele.

 

— Tenho. Mas não de morrer.

 

— Do quê, então?

 

— De perder você antes do fim.

 

Ele a puxou para um abraço. Os dois ficaram em silêncio, ouvindo o som distante de corvos sobrevoando a floresta. Sinais de que algo, em algum lugar, já estava despertando.

 

E eles não tinham mais tempo a perder.

 

Parte 3

 

A noite caiu com pressa.

 

O céu, antes límpido, agora se cobria de nuvens densas que escondiam a lua. A trilha rumo às ruínas da Alcateia do Vento Cortante — a extinta linhagem dos guardiões do selo — estava coberta por musgo, pedras partidas e marcas de garras antigas.

 

— Estamos perto — Lee sussurrou, agachado atrás de uma formação rochosa. — Sinto o cheiro da morte nesta terra.

 

Hadassa ficou ao lado dele, os olhos aguçados iluminando a escuridão com tons prateados. Seus sentidos estavam cada vez mais refinados desde o vínculo. Era como se, ao lado de Lee, ela pudesse ouvir até o sangue das árvores pulsando.

 

— Aqueles que morreram aqui… deixaram fragmentos de dor. Isso ecoa pelo chão.

 

O caminho até o Coração da Lua Esquecida exigiria mais do que força. Exigia coragem para encarar o passado.

 

 

---

 

As ruínas surgiram como espectros entre a névoa.

 

Arcos partidos, muralhas cobertas por runas esquecidas, e ossos — muitos ossos — espalhados como oferendas antigas. No centro do antigo templo lupino, havia uma estrutura de pedra semelhante a um altar, coberta por líquen e raízes. Um pedestal com um encaixe em forma de meia-lua.

 

— É aqui — Hadassa se aproximou, sentindo a energia vibrar em sua pele.

 

Lee tocou o pedestal. Seu sangue ferveu. Um rugido invisível ecoou pelas colinas, e o vento soprou de forma antinatural.

 

— Não estamos sozinhos — ele rosnou.

 

E então, as sombras se moveram.

 

Das frestas das pedras e das árvores retorcidas, lobos deformados surgiram. Suas peles eram negras como breu, os olhos ocos, como se fossem comandados por um propósito que não era mais seu.

 

— Guardiões amaldiçoados — Hadassa sussurrou, desembainhando sua lâmina lunar. — Espíritos que deveriam descansar.

 

Lee se transformou em um salto, seu corpo assumindo a forma lupina completa: pelagem escura, olhos dourados, presas expostas. Hadassa sentiu o calor da transformação correr por seu corpo, suas unhas se alongando, a pele marcando com símbolos lunares.

 

— Sem hesitar — ele disse.

 

Eles atacaram juntos.

 

 

---

 

O combate foi brutal.

 

Os guardiões não sangravam. Suas formas não obedeciam às leis do mundo físico. Eram feitos de sombra, raiva e lembrança.

 

Hadassa girava como uma dançarina da morte, sua lâmina traçando círculos de luz. Lee era puro instinto, rasgando e esmagando os inimigos como uma força da natureza.

 

Mas para cada criatura caída, outra surgia.

 

— É o selo — Hadassa gritou — Ele está rompido, e esses são os ecos que ele atrai!

 

— Então temos que selar logo!

 

Lee olhou para o pedestal. Sabia o que precisava fazer.

 

Correu até ele, mesmo com os guardiões se lançando sobre seu corpo. Cravou as garras no próprio peito e deixou seu sangue escorrer sobre a pedra.

 

Hadassa, em sincronia, pressionou a marca em seu peito contra o encaixe da meia-lua.

 

O mundo tremeu.

 

 

---

 

Uma explosão de luz varreu a ruína.

 

Os guardiões gritaram, mas não com dor — com alívio. Suas formas se dissiparam em faíscas douradas, como se tivessem sido libertas.

 

No pedestal, uma pedra começou a surgir. O Coração da Lua Esquecida.

 

Era pequeno, cinzento, mas pulsava com uma energia silenciosa e antiga. Hadassa o segurou, e sentiu lágrimas escorrerem por seus olhos. Era como segurar todas as histórias de amor e dor de suas antepassadas.

 

— Conseguimos? — Lee se aproximou, ensanguentado, mas firme.

 

— Não. Apenas começamos.

 

 

---

 

Enquanto deixavam as ruínas, um som ecoou pelas montanhas.

 

Uma risada.

 

Não humana. Não lupina. Uma entidade que despertava.

 

E em algum lugar, bem distante dali, olhos escarlates se abriram pela primeira vez em séculos.

 

O espírito do Caçador estava acordando.

 

E ele queria sua presa.

 

Parte 4

 

O silêncio que caiu após a libertação dos espíritos era denso.

 

Hadassa ainda segurava o Coração da Lua Esquecida, sentindo-o vibrar como se fosse um ser vivo. A pedra pulsava em sincronia com o vínculo que ela e Lee compartilhavam — uma conexão que agora parecia mais antiga do que suas próprias vidas.

 

— Ele vai nos caçar, não vai? — ela sussurrou.

 

Lee assentiu.

 

— O espírito sabe que temos isso. E sabe que juntos… somos a chave para selá-lo de novo.

 

Eles estavam sentados à margem de um riacho, limpando o sangue das feridas. A água corria calma, mas o ar estava pesado. Lee sentia algo se aproximando.

 

Foi quando uma figura surgiu do outro lado da margem.

 

Alto. Corpo esguio. Cabelos brancos como neve e olhos cinzentos como aço polido. Vestia uma túnica negra com marcas tribais gravadas a fogo. Um lobo caminhava ao lado dele — completamente branco, exceto pelos olhos vermelhos.

 

— Quem é você? — Lee rosnou, levantando-se de imediato.

 

— Meu nome é Nerion. E não estou aqui para lutar.

 

Hadassa estreitou os olhos.

 

— De que alcateia você vem?

 

— De nenhuma — respondeu o estranho. — Fui banido de todas.

 

O silêncio se fez. Nerion cruzou os braços, observando-os como se estudasse um antigo mito.

 

— Estive esperando este momento por muitos anos. O despertar. O retorno do Coração. E o nascimento de um novo vínculo alfa-luna forte o bastante para fazer frente à escuridão.

 

Lee não relaxou a postura.

 

— E por que nos procuraria?

 

— Porque vocês não podem fazer isso sozinhos.

 

 

---

 

Nerion os levou para uma caverna escondida sob as montanhas. Lá dentro, havia pinturas antigas gravadas nas paredes — cenas que pareciam ecoar os sonhos e visões de Hadassa.

 

Alfas e lunas de diferentes eras. Espíritos corrompidos. Selos de luz e sombra. Sacrifícios.

 

— Vocês dois são o último elo de uma linhagem de guardiões — disse Nerion. — A maioria foi caçada. Outros se renderam ao Caçador.

 

— E o que você quer? — Hadassa perguntou.

 

Nerion a olhou nos olhos.

 

— Quero ensiná-los como selar o espírito. Mas precisam entender: quanto mais forte o vínculo entre vocês, mais poder o selo terá.

 

Lee franziu a testa.

 

— Está dizendo que nosso poder… vem do que sentimos?

 

— Sim — disse o exilado. — O Caçador teme o que vocês representam: um amor que desafia as regras, um elo que une inimigos. Isso o enfraquece.

 

Hadassa sentiu o sangue ferver. Não era apenas um vínculo físico… era algo espiritual. Ancestral. E real.

 

— Então é isso — ela disse, com firmeza. — Ele quer quebrar o que estamos construindo.

 

— E ele vai tentar — confirmou Nerion. — Mas há algo que precisam saber. Ele já começou.

 

 

---

 

Enquanto descansavam naquela noite, uma nova presença apareceu em sonhos.

 

Hadassa foi arrastada para um mundo escuro — uma floresta sem folhas, um céu vermelho, e um lobo gigante feito de fumaça e olhos flamejantes. O Caçador.

 

— Você não pertence a ele — disse a voz profunda. — É minha por direito.

 

Ela tentou resistir, mas não conseguia acordar. As garras do Caçador a prendiam pelo pulso marcado, tentando puxá-la para dentro da escuridão.

 

Foi quando sentiu a presença de Lee, mesmo no sonho. Um calor a envolveu. E então… ela acordou.

 

Ofegante. Suada.

 

Lee estava ajoelhado ao lado dela, preocupado.

 

— Você também viu? — ele perguntou.

 

Ela assentiu.

 

— Ele tentou me tomar. Usou o vínculo. Queria quebrá-lo… me arrancar de você.

 

Lee a abraçou. Forte. Como se ela fosse desaparecer.

 

— Ele não vai conseguir. Nem que eu precise morrer para impedi-lo.

 

E pela primeira vez, Hadassa sentiu o coração dela dizer em silêncio o que as palavras ainda não ousavam:

 

Eu te amo.

 

 

---

 

Na manhã seguinte, Nerion os conduziu a um salão escondido nas profundezas da montanha. Ali, gravado no chão de pedra, estava o Círculo da Lua Perdida — o lugar onde o novo selo precisaria ser forjado.

 

— Aqui será feita a primeira convocação — disse Nerion. — Mas antes… devem se tornar um só.

 

Hadassa e Lee se entreolharam.

 

Não havia mais dúvidas.

 

Não se tratava apenas de sobrevivência. O mundo dependia deles, mas naquele momento… tudo que importava era o que sentiam um pelo outro.

 

E naquele círculo sagrado, com o coração da lua brilhando entre eles, Lee tocou o rosto de Hadassa com reverência.

 

— Hadassa… minha luna, minha guerra e minha paz… você aceita caminhar ao meu lado mesmo com o mundo contra nós?

 

Ela sorriu, com lágrimas nos olhos.

 

— Sempre. Até o fim.

 

E assim, seus destinos foram selados não pelo medo, mas pelo amor.

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