— Não me chame assim — respondeu Cateline com a voz gélida, ajustando o elmo para esconder qualquer traço de seu rosto. — Você sabe muito bem onde estamos.
O amigo ignorou a chamada de atenção.
—— Falta pouco para o seu aniversário de dezoito anos. Você deveria estar com suas amigas, escolhendo vestidos, penteados e sei lá mais o quê que as mulheres fazem antes de uma festa... não colecionando hematomas.
Ela quase riu da ideia , queria corrigi-lo a respeito de “amigas” no plural. A verdade era que só tinha uma — e, ironicamente, era irmã gêmea de Mason. Mas ao invés de corrigi-lo, apenas soltou um gemido abafado quando a dor latejava em sua perna ao dar um passo.
Mason mencionou para um banco próximo ao perceber que Cateline não conseguia firmar a perna no chão. Ela hesitou, mas a dor apertou obrigando-a sentar.
— Já tivemos essa conversa — disse com desdém, mancando até o assento. — Não estou a fim de repetir.
Sabia que ele só queria protegê-la, como fazia desde que tinha cinco anos. Mason sempre fora seu amigo mais fiel, disposto a arriscar-se por ela sem hesitar, não duvidava que ele daria sua vida por ela, assim como ela daria a dela por ele. Mas ela não queria ser protegida,ansiava por pertencer a algo maior. Desejava tomar suas próprias decisões, lutaria com quem fosse preciso para ter essa liberdade.
Mesmo que o campo de batalha fosse proibido para uma princesa, treinar poderia ser a única maneira de proteger seu povo. Seus poderes não se manifestaram e talvez não se manifestassem. Nos reinos, as habilidades eram herdadas de geração em geração, despertando entre os dez e os quinze anos, caso não manifestassem qualquer sinal nesse período, eram considerados corrompidos,e relegados a papéis secundários na sociedade, forçados a serviços domésticos, distantes das honras e responsabilidades nobres que tanto se orgulhavam.
Dentro de algumas semanas, Cateline completaria dezoito anos, mas até aquele momento não havia demonstrado o menor sinal de poder - um fato que preocupava profundamente seus pais. Para eles, a solução era simples e definitiva: ela deveria se casar com Callen.
O primogênito do rei Enrico Ress, monarca do Reino Esmeralda, tinha vinte anos e se preparava para assumir o trono assim como ela. Apesar de ser um partido desejado por muitas mulheres de várias cortes, nutria um interesse especial por Cateline desde que ela se entendia por gente. O problema era que, para ela, Callen não passava de um sujeito insuportavelmente arrogante e egoísta, alguém que gostava de exibir seu status e fazer com que os outros se curvassem à sua vontade.
Embora acreditasse que seus poderes ainda fosse aparecer, seus pais concordavam que, independentemente disso, o casamento traria vantagens inegáveis para a família. Que vantagens eram essas, Cateline não fazia ideia. Sempre fora excluída à margem dos negócios reais, proibida de ouvir qualquer discussão sobre o assunto, quanto mais questioná-los. A única certeza que tinha era que precisava de uma solução para sair dessa união.
— Preciso ir agora, até amanhã. Cat apertou a mão do amigo, lutando contra a vontade de puxá-lo para um abraço esmagador na frente de todos antes de partir.