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O sol brilhava intensamente sobre seu reino , banhando tudo com uma luz dourada fazendo as flores dos jardins do castelo parecerem ainda mais vibrantes. O aroma do café fresco e dos pães quentes preencheu o ar assim que Cateline cruzou a entrada da sala de refeições.

 O ambiente era amplo e luxuoso, iluminado pelas grandes janelas que se abriam para o viridário. A claridade atravessava os vidros cristalinos e refletia sobre o piso de mármore branco polido. As paredes eram adornadas com tapeçarias vermelhas e douradas, cores do brasão da família, contrastando com o lustre de cristal que pendia elegantemente do teto, lançando reflexos cintilantes que espalhava pelo ambiente, fora isso, o ambiente parecia sem vida, não havia quadros, cores, nem ao menos vasos com as belas flores do lado de fora.

No centro da sala, uma longa mesa de madeira escura estava repleta de iguarias dignas de um banquete, fartura suficiente para alimentar uma centena de pessoas, embora apenas três ocupassem os assentos: o rei e a rainha, elegantemente trajados com tecidos finos e ricamente ajaezado, e a pequena Abera, irmã caçula de Cateline. O vestido branco da menina, bordado com delicadas borboletas de renda, destoava com suas bochechas rosadas, as mão gorduchas aparava-se no colo um gesto que demonstrava sua educação impecável. Conhecendo bem a irmã, Cat sabia que o vestido permaneceria sem nenhuma mancha durante todo do dia. A pequena, mesmo com apenas cinco anos, já mostrava ser o oposto da irmã; comportava-se bem à mesa, seguia todas as regras sem questionar e era perfeitamente linda, idêntica à sua mãe, uma mulher tão bela quanto   uma jovem de vinte anos.

A atenção de todos se voltou para a princesa quando ela entrou mancando levemente. Seus cabelos escuros estavam desgrenhados, uma mistura de suor e poeira por passar horas cavalgando até outra extremidade da corte,  sua pele parda, geralmente radiante, estava oleosa e pálida . Vestia uma calça preta, bota de couro e uma capa  escura desbotada, usada para cortar o frio da madrugada, quando saía de fininho sem que ninguém percebesse. Já conhecia praticamente todos os horários dos empregados, assim como cada canto do Castelo que não era utilizado, o que facilitava sua fuga toda manhã.

Se Cat não percebeu a desaprovação no olhar da mãe, o arquejo sutil de suas sobrancelhas perfeitamente delineadas e a forma como seus lábios pressionaram-se em uma linha fina não deixava dúvidas.

Era inconcebível para a rainha que a filha, a futura soberana do reino, desfilasse por aí parecendo um trapo. As incontáveis aulas de etiquetas que ofereciam refinamento, postura e delicadeza  – qualidades essenciais para qualquer mulher da realeza, não surtiram efeitos, apesar dos esforços dos melhores tutores do reino, a princesa parecia imune a essas lições

A princesa não precisava ouvir nenhuma palavra para entender o julgamento silencioso. O desprezo nos olhos da mãe falava por si só, carregado de uma frustração que se acumulava há anos. Cateline sabia o que iria seguir. O mesmo sermão entediante sobre responsabilidade, postura e a necessidade de se portar como uma verdadeira herdeira do trono.

— Cateline! — exclamou sua mãe. — O que você estava pensando quando saiu assim?

— Fui cavalgar pela colina. — Ela deu de ombros, aproximando-se para sentar na cadeira.

— Nem pense nisso! — sua mãe a repreendeu. — Você parece uma selvagem. Vai tomar banho e vista o vestido que deixei em seus aposentos. Em breve, a família Ress estará aqui e não quero que eles a veja nesse estado.

Cat não pode evitar revirar os olhos, mas, por experiência, sabia que discutir com a mãe só prolongaria mais o discurso. Afastando-se do salão, a princesa saiu segurando a vontade de bater os pés no chão como uma criança contrariada. Odiava como sua mãe conseguia estragar seu dia com tão poucas palavras.

Seguiu pelos corredores do castelo, sentindo o frio do mármore sob as botas enlameadas. Assim que entrou em seus aposentos, fechou a porta com mais força do que pretendia, o estrondo reverberando pelo quarto silencioso, sem se dar ao trabalho de remover a capa ou as botas, se jogou sobre a cama, fitando o teto.

Se fosse qualquer outra visita, teria menos motivos para se irritar. Mas, com exceção de Eli, a família Ress era um verdadeiro pé no saco. Tentaram forçar uma aliança com seu pai anos atrás, uma proposta que, na época, fora recusada. Mas com a demora de seus poderes em se manifestarem, essa aliança finalmente aconteceu, não duvidava que a mãe foi essencial para tal decisão.

Defeituosa.

A palavra que a rainha  adorava lembra-la, ecoavam em sua mente como um feitiço maldito, desde que dissera que teria que casar. O tom da mãe foi frio, prático, como se estivesse falando de um simples enfeite, e não da própria filha.

"Não ouse deixar que Callen perca o interesse em você. Ele é sua única chance de continuar sendo útil, já que até agora tem se mostrado um erro lamentável. Defeituosa".

Fechou os olhos e soltou um suspiro longo, tentando conter o nó que se formava em sua garganta. Mas era inútil.  Por mais que odiasse admitir, parte de Cateline temia que seu povo fosse punido. O reino já não era tão imponente quanto antes, e os inimigos sabiam disso. Os Ress ofereciam segurança e estabilidade que eles precisavam, além de um grande exército.

Seu olhar vagou pelo quarto, posando no vestido rosa sobre a cadeira. A seda brilhava, uma armadilha delicada, perfeita, assim como sua mãe gostaria que ela fosse. Cateline não foi feita  para as dobras suaves de rendas impecáveis.

E, no entanto, usaria o vestido. Jogue o jogo ela repetia. Faria o que fosse preciso para ganhar tempo e salvar sua corte.

Ela encontraria um jeito.

Ou morreria tentando.

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