Narrado por Dmitri Volkov
Voltei tarde. Muito mais tarde do que devia. Quando atravessei os portões da mansão, a noite já engolia Moscou inteira e a neve parecia mais cinza do que branca. Eu esperava encontrar tudo em silêncio — empregados recolhidos, luzes apagadas, e Anya dormindo no quarto, como sempre reclamando no dia seguinte da minha ausência. Mas, ao abrir a porta, um cheiro forte me atingiu. Não era perfume, nem os pratos impecáveis que Irina sempre preparava.
Era cheiro de comida caseira. Alho, molho, especiarias. Cozinha de família.
Franzi a testa.
Atravessei o corredor, o paletó ainda sobre os ombros, e quando empurrei a porta da cozinha, quase não acreditei no que vi.
Anya estava ali, de avental, cabelo preso de qualquer jeito, mexendo uma panela fumegante com a expressão mais determinada — e irritada — que eu já tinha visto.
Dmitri: — O que diabos você está fazendo?
Ela se virou, olhos faiscando.
Anya: — Surtando, aparentemente! Porque só pode ser isso, né? A sua mulher