Capítulo 3

(Ponto de Vista de Noa)

Peguei os dois nos braços e os levei de volta para a casa de hóspedes, ordenando ao mordomo que chamasse um médico, que chegou rapidamente.

— A condição da menina é delicada, mas ainda assim administrável. Já o menino, infelizmente, está em situação mais grave. Ele apresenta desnutrição e sinais claros de trauma emocional. Por isso, recomendo que passe mais tempo com ele. O que ele mais precisa agora é de estabilidade… E, acima de tudo, de amor.

Assenti em silêncio.

Mais tarde, com Tessa adormecida e Milo encolhido ao seu lado, e já sem a presença do médico, fiquei sentada sob a luz fraca, tentando recompor cada parte do pesadelo pelo qual eles haviam passado. Afinal, pelas confissões sussurradas de Tessa, descobri toda a verdade.

Naquele mesmo dia em que Harper se mudou para o quarto principal, meus filhos perderam o único mundo seguro que conheciam: foram expulsos dos próprios quartos, trancados no porão e alimentados apenas com restos. Além disso, passaram a ser espancados com chinelos e ameaçados até que aprendessem a permanecer em silêncio.

Enquanto isso, no entanto, Harper fingia ser a madrasta carinhosa em público, e Elias, o idiota cego que era, a adorava como uma santa.

Quando, por fim, os gêmeos tentaram contar a verdade, ele não acreditou, já que ainda enxergava Harper como alguém pura, doce e intocável. À medida que raciocinava sobre isso, afastei o cabelo do rosto de Tessa, sentindo o peito arder com a força da culpa, da raiva, da dor e de uma fúria crescente.

Provavelmente me afundei demais na própria tempestade de pensamentos, porque sequer ouvi o momento em que a porta se abriu.

Elias entrou, recém-saído do banho, vestido com roupas casuais, como se não tivesse acabado de despedaçar minha alma uma hora antes.

E se aproximou devagar, como se tivesse medo de que eu fugisse.

Então se sentou ao meu lado.

— Senti sua falta, Noa. No segundo em que te vi no pátio, quis correr até você.

— Então por que não correu? — Perguntei.

Em resposta, ele me olhou como se eu fosse a "irracional". Como se, de fato, acreditasse que o que estava prestes a dizer faria alguma diferença.

— Por causa da Harper. — Respondeu, por fim. — Prometi cuidar dela depois que meu sobrinho morreu. Se eu tivesse corrido até você e te abraçado, te reivindicado como minha esposa, o que teria sobrado para Harper? O que as pessoas diriam? Que ela era a intrusa no nosso casamento? Você acha que ela sobreviveria a isso? Ela não é como nós, Noa. Não foi criada no nosso mundo. Ela... Valoriza a reputação mais do que tudo. No final das contas, eu só estava tentando dar um apoio.

— Tentando dar um apoio? — Soltei uma risada seca. — É assim que você chama isso? Se casando com ela?

Ele suspirou, frustrado.

— Eu realmente pensei que você estivesse morta, Noa. De verdade. Houve noites em que eu também quis morrer. Foi a Harper quem me manteve de pé quando achei que tinha te perdido.

— E agora? — Questionei, com a voz fria. — Agora que estou de volta? Qual é o seu plano, Elias?

— Agora? — Ele hesitou, como se realmente precisasse pensar.

— Sim. — Insisti.

— Você será sempre minha única e verdadeira Sra. Ward. Só que, mesmo assim, eu vou precisar dar aquele casamento à Harper. É apenas... Por formalidade.

Fitei-o em silêncio.

— Um casamento?

— Vai ser apenas de fachada, amor. — Disse ele, como se isso amenizasse a situação. — É você quem eu amo.

Antes que eu conseguisse encontrar as palavras certas para despedaçar aquele homem farsante, uma empregada invadiu o quarto.

— Sr. Ward. — Chamou ela, ofegante. — A bebê está com febre, e a Srta. Harper está implorando pela sua presença!

Elias se levantou num pulo.

— Por que está me contando só agora? Me leve até elas! E chame o médico da família!

E, assim, ele desapareceu.

Poucos meses antes, Tessa e Milo também enfrentaram uma febre. Na ocasião, pedi a Elias que chamasse um médico, mas ele respondeu com indiferença, como se aquilo fosse irrelevante:

— É só dar um xarope.

Mas agora, sendo que era a bebê da Harper, virou emergência... Um caso crítico onde ele não suportava a ideia de deixar Lila com apenas um xarope...

"Claro!

Seria apenas para cuidar da Harper…

Uma ova!"

— Mamãe, você está triste? — Perguntou uma vozinha.

Ao olhar para baixo, vi Milo acordado, subindo no meu colo, com os bracinhos se enrolando na minha cintura. Logo, sua cabecinha se acomodou no meu ombro.

— Mamãe, não fique triste… Por favor. — Sussurrou.

Engoli em seco e o abracei com força.

— Não estou triste, amor. — Menti suavemente. — Só estou pensando.

— Pensando no quê, mamãe? — Milo perguntou, me olhando com aqueles olhos grandes e sinceros.

Em resposta, beijei sua testa e o envolvi nos braços.

— Estou pensando em levar você e a Tessa para a antiga casa da mamãe. É lá que vocês vão conhecer o tio José, o irmão da mamãe. Quando éramos pequenos, éramos como você e a Tessa.

Ele me olhou com um leve sorriso, sonolento e delicado.

— Desde que você esteja com a gente, mamãe... — Disse ele, sério. — Não vai embora de novo não, por favor?

Naquele instante, meu peito se apertou de um jeito que machucava.

— Eu não vou. — Prometi, encostando minha testa na dele. — Eu juro, meu amor. A mamãe nunca mais vai deixar vocês dois.

Nem agora. Nem nunca!

Alguns dias depois, Harper apareceu na casa de hóspedes…

Sorridente e envolta naquela doçura artificial, ela me convidou "gentilmente" para jantar, dizendo que queria fazer uma festa de boas-vindas, mas optou por algo mais discreto, porque "achou" que eu não gostaria de muita gente.

— Só algo pequeno. — Disse ela. — Apenas entre nós.

Harper surgiu vestida como a atração principal em um vestido vermelho-sangue que colava em seu corpo como se anunciasse ao mundo quem realmente pertencia ao lado de Elias Ward.

O jantar foi em um restaurante estrelado da Michelin, na parte nobre de Manhattan... Acessível apenas com reserva.

Na chegada, Harper e Elias tomaram a dianteira, de mãos dadas, desfrutando dos olhares como se fossem da realeza.

Quanto a mim e aos gêmeos? Apenas seguimos atrás. Eu estava usando apenas jeans e uma jaqueta antiga: nada de especial.

Depois do jantar, Harper se enroscou no braço de Elias como um troféu exibido com orgulho, sugerindo:

— Amor, por que não vai pagar a conta? A gente espera aqui.

A voz dela soou doce demais, quase enjoativa.

Diante disso, não escondi o que estava sentindo, e Elias, claro, percebeu.

Virando-se para mim com uma carranca.

— Dá para parar com isso? Você está estragando a noite. Custava tentar mostrar um pouco de gratidão pelo que a Harper fez? Ela reservou esse lugar assim que soube que você tinha voltado. Será que não dá para, ao menos, fingir simpatia?

"Simpatia?

Depois de tudo o que ele me fez viver, e de tudo que Harper fez com meus filhos, ele ainda tinha coragem de achar que eu deveria sorrir e fingir?

Deus, que patético."

Após o jantar, Harper propôs, com entusiasmo, um passeio pelo parque.

Para alcançar o estacionamento vindo do parque, era necessário atravessar um beco lateral.

E foi nesse momento que as dificuldades começaram.

A entrada do shopping estava cercada por indivíduos suspeitos, à espreita de dinheiro fácil… Ou de algo ainda mais perigoso.

Logo, ao avistarem Harper e Elias trajando roupas de marca, perceberam uma oportunidade.

— Vamos facilitar as coisas, que tal uma pequena doação? — Sugeriu o líder, sorrindo cinicamente. — Em troca, vocês passam em segurança. Justo, não é?
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