Capítulo 4

(Ponto de Vista de Noa)

A princípio, tudo pareceu apenas uma tentativa de intimidação. Mas então, um deles estreitou os olhos, e o reconhecimento veio quase que instantaneamente.

— Ei... Você é aquele cara do cassino que sempre aparece na TV, não é?

E, de repente, tudo mudou.

— Pelo jeito, uns trocados não vão mais bastar. — Zombou o líder. — Agora que sabemos que você tem grana, que é rico, vamos descobrir o quanto é generoso de verdade.

Elias enrijeceu.

— Não estamos com muito dinheiro em mãos. — Respondeu com cuidado. — Que tal eu ligar para meu assistente? Ele trará o valor.

Então ele apontou para mim.

— Minha esposa pode ficar com vocês enquanto eu busco o dinheiro.

Senti o sangue gelar, já que ele havia apontado para mim.

Diante da situação, o líder da gangue soltou uma risada baixa e desprezível.

— Sua esposa? — Ele me analisou dos pés à cabeça como se eu fosse uma fruta machucada numa banca. — Está brincando, não é? Vestida assim? Parece mais uma vadia que você achou na rua.

Elias franziu a testa.

— Ela realmente é minha esposa, é só verificar nas notícias. E, se eu não voltar… Vocês podem fazer o que quiserem com ela.

No mesmo instante, o homem conferiu as informações, confirmou quem eu era e abriu um sorriso ainda mais largo, repugnante.

— Perfeito. Então vou deixar que sua esposa me faça companhia por um tempo.

E apertou minha bunda como se estivesse avaliando um pedaço de carne no açougue.

— Querida. — Disse ele. — Você pode não ser tão bonita quanto aquela outra ali, mas aposto que vai me divertir direitinho.

Logo em seguida, fez um gesto com o queixo para Elias.

— Pode ir, mas volte com o dinheiro. E lembre-se: se tentar me enganar, quem vai pagar é ela.

Elias e Harper se afastaram juntos e, sem que me restasse outra alternativa, implorei para que levasse meus filhos, já que era o mínimo que ele podia fazer por mim naquela situação. Por fim, ele atendeu ao pedido e os levou.

Já eu… Mais uma vez, fui deixada para trás.

Elias Ward só protegia quem realmente amava. E com certeza... A lista nunca me incluiu.

"Será que ele voltaria?

Eu não sabia ao certo.

Talvez não… Talvez estivesse apenas aliviado por finalmente me ver desaparecer da sua vida."

Uma hora se passou. Depois, outra.

Com aquela situação se arrastando, o líder da gangue perdeu a paciência, passou a andar de um lado para o outro, xingando sem parar e me lançando olhares sujos, como se não soubesse se preferia me agredir ou rasgar minhas roupas.

— Estou entediado, bonitinha. — Rosnou ele, lançando um olhar para meu jeans. — Que tal me fazer um agrado enquanto seu maridinho não volta?

O terror me invadiu, fazendo-me recuar com o coração acelerado. Contudo, estávamos em desvantagem numérica: dez homens, todos imponentes e com propósitos sinistros… Ou seja, sabia que não conseguiria sequer dar três passos antes de ser capturada.

A situação era perturbadoramente familiar, como um déjà vu angustiante, dando a impressão de que o passado tentava se repetir. No entanto, desta vez, eu estava determinada a não permitir.

Quando o líder se aproximou, reagi com um chute certeiro que o acertou em cheio entre as pernas. Ele gritou de dor e se curvou, mas, em resposta, me atingiu com um golpe no rosto, fazendo com que eu caísse no chão.

— Vadia. — Cuspiu ele, vindo em minha direção com passos firmes e violentos, até agarrar meu casaco e puxar meu colarinho com mãos famintas, cheias de brutalidade.

Fechei os olhos com força, pronta para o pior, quando o som dos tiros cortou o ar.

Houve gritos, desespero e o estalo seco das armas cortando o ar.

Quando abri os olhos, vi os homens de Elias invadindo o beco com armas em punho e expressões frias. O líder, por sua vez, mal deu dois passos antes de tombar sem vida, e os demais se espalharam como ratos, alguns sendo abatidos, outros escapando.

Tudo terminou em segundos.

Logo, Elias correu até mim, ajoelhando-se ao meu lado.

— Noa. — Chamou ele, com a voz rouca. — Você está bem? Voltei o mais rápido que pude. — Me desculpa. —

Em seguida, estendeu a mão, como se esperasse que eu desabasse em seus braços.

E então, como se não conseguisse evitar, acrescentou:

— Tive que levar a Harper de volta à mansão primeiro. Se algo acontecesse com ela, meu sobrinho me culparia.

No fundo, essa era a verdade. A mesma desculpa miserável de sempre.

Assim, olhei direto nos olhos dele e disse:

— Cala a boca.

"Não queria ouvir... Nem mais uma palavra!"

De volta à mansão, Elias prontamente retomou o papel de esposo zeloso. Chamou o médico da família para me examinar, permanecendo ao meu lado enquanto este avaliava o inchaço em meu rosto e os hematomas nos meus braços. Em seguida, ajoelhou-se junto à cama, afastando meus cabelos como se ainda houvesse algo entre nós.

— Meu casamento com a Harper é amanhã. — Informou em tom suave, como se isso devesse me consolar. — Só espere mais um pouco. Depois disso... Tudo vai melhorar.

"Melhorar?

Sim, iria. Mas não do jeito que ele imaginava."

Sorri, e naquele instante percebi que era o primeiro sorriso verdadeiro que brotava dos meus lábios em muito… muito tempo.

— Então você tem ainda mais motivos para não fazer sua noiva esperar. — Respondi, com a voz como uma lâmina envolta em veludo. — Vá. Descanse cedo e se prepare para o grande dia.

No mesmo instante, ele devolveu o sorriso, visivelmente aliviado. "Que ingênuo!"

Assim que ele saiu, peguei o celular e disquei.

— José. — Disse eu, quando ele atendeu. — Estou pronta. Organize tudo para amanhã, com o pessoal e o carro, às oito em ponto.

Assim, no mesmo segundo em que Elias confirmasse o "sim", eu já estaria distante, seguindo meu próprio caminho.

Em outras palavras, ele nunca mais veria a mim nem às crianças.
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