(Ponto de Vista de Noa)
A princípio, tudo pareceu apenas uma tentativa de intimidação. Mas então, um deles estreitou os olhos, e o reconhecimento veio quase que instantaneamente.
— Ei... Você é aquele cara do cassino que sempre aparece na TV, não é?
E, de repente, tudo mudou.
— Pelo jeito, uns trocados não vão mais bastar. — Zombou o líder. — Agora que sabemos que você tem grana, que é rico, vamos descobrir o quanto é generoso de verdade.
Elias enrijeceu.
— Não estamos com muito dinheiro em mãos. — Respondeu com cuidado. — Que tal eu ligar para meu assistente? Ele trará o valor.
Então ele apontou para mim.
— Minha esposa pode ficar com vocês enquanto eu busco o dinheiro.
Senti o sangue gelar, já que ele havia apontado para mim.
Diante da situação, o líder da gangue soltou uma risada baixa e desprezível.
— Sua esposa? — Ele me analisou dos pés à cabeça como se eu fosse uma fruta machucada numa banca. — Está brincando, não é? Vestida assim? Parece mais uma vadia que você achou na rua.
Elias franziu a testa.
— Ela realmente é minha esposa, é só verificar nas notícias. E, se eu não voltar… Vocês podem fazer o que quiserem com ela.
No mesmo instante, o homem conferiu as informações, confirmou quem eu era e abriu um sorriso ainda mais largo, repugnante.
— Perfeito. Então vou deixar que sua esposa me faça companhia por um tempo.
E apertou minha bunda como se estivesse avaliando um pedaço de carne no açougue.
— Querida. — Disse ele. — Você pode não ser tão bonita quanto aquela outra ali, mas aposto que vai me divertir direitinho.
Logo em seguida, fez um gesto com o queixo para Elias.
— Pode ir, mas volte com o dinheiro. E lembre-se: se tentar me enganar, quem vai pagar é ela.
…
Elias e Harper se afastaram juntos e, sem que me restasse outra alternativa, implorei para que levasse meus filhos, já que era o mínimo que ele podia fazer por mim naquela situação. Por fim, ele atendeu ao pedido e os levou.
Já eu… Mais uma vez, fui deixada para trás.
Elias Ward só protegia quem realmente amava. E com certeza... A lista nunca me incluiu.
"Será que ele voltaria?
Eu não sabia ao certo.
Talvez não… Talvez estivesse apenas aliviado por finalmente me ver desaparecer da sua vida."
…
Uma hora se passou. Depois, outra.
Com aquela situação se arrastando, o líder da gangue perdeu a paciência, passou a andar de um lado para o outro, xingando sem parar e me lançando olhares sujos, como se não soubesse se preferia me agredir ou rasgar minhas roupas.
— Estou entediado, bonitinha. — Rosnou ele, lançando um olhar para meu jeans. — Que tal me fazer um agrado enquanto seu maridinho não volta?
O terror me invadiu, fazendo-me recuar com o coração acelerado. Contudo, estávamos em desvantagem numérica: dez homens, todos imponentes e com propósitos sinistros… Ou seja, sabia que não conseguiria sequer dar três passos antes de ser capturada.
A situação era perturbadoramente familiar, como um déjà vu angustiante, dando a impressão de que o passado tentava se repetir. No entanto, desta vez, eu estava determinada a não permitir.
Quando o líder se aproximou, reagi com um chute certeiro que o acertou em cheio entre as pernas. Ele gritou de dor e se curvou, mas, em resposta, me atingiu com um golpe no rosto, fazendo com que eu caísse no chão.
— Vadia. — Cuspiu ele, vindo em minha direção com passos firmes e violentos, até agarrar meu casaco e puxar meu colarinho com mãos famintas, cheias de brutalidade.
Fechei os olhos com força, pronta para o pior, quando o som dos tiros cortou o ar.
Houve gritos, desespero e o estalo seco das armas cortando o ar.
Quando abri os olhos, vi os homens de Elias invadindo o beco com armas em punho e expressões frias. O líder, por sua vez, mal deu dois passos antes de tombar sem vida, e os demais se espalharam como ratos, alguns sendo abatidos, outros escapando.
Tudo terminou em segundos.
Logo, Elias correu até mim, ajoelhando-se ao meu lado.
— Noa. — Chamou ele, com a voz rouca. — Você está bem? Voltei o mais rápido que pude. — Me desculpa. —
Em seguida, estendeu a mão, como se esperasse que eu desabasse em seus braços.
E então, como se não conseguisse evitar, acrescentou:
— Tive que levar a Harper de volta à mansão primeiro. Se algo acontecesse com ela, meu sobrinho me culparia.
No fundo, essa era a verdade. A mesma desculpa miserável de sempre.
Assim, olhei direto nos olhos dele e disse:
— Cala a boca.
"Não queria ouvir... Nem mais uma palavra!"
…
De volta à mansão, Elias prontamente retomou o papel de esposo zeloso. Chamou o médico da família para me examinar, permanecendo ao meu lado enquanto este avaliava o inchaço em meu rosto e os hematomas nos meus braços. Em seguida, ajoelhou-se junto à cama, afastando meus cabelos como se ainda houvesse algo entre nós.
— Meu casamento com a Harper é amanhã. — Informou em tom suave, como se isso devesse me consolar. — Só espere mais um pouco. Depois disso... Tudo vai melhorar.
"Melhorar?
Sim, iria. Mas não do jeito que ele imaginava."
Sorri, e naquele instante percebi que era o primeiro sorriso verdadeiro que brotava dos meus lábios em muito… muito tempo.
— Então você tem ainda mais motivos para não fazer sua noiva esperar. — Respondi, com a voz como uma lâmina envolta em veludo. — Vá. Descanse cedo e se prepare para o grande dia.
No mesmo instante, ele devolveu o sorriso, visivelmente aliviado. "Que ingênuo!"
Assim que ele saiu, peguei o celular e disquei.
— José. — Disse eu, quando ele atendeu. — Estou pronta. Organize tudo para amanhã, com o pessoal e o carro, às oito em ponto.
Assim, no mesmo segundo em que Elias confirmasse o "sim", eu já estaria distante, seguindo meu próprio caminho.
Em outras palavras, ele nunca mais veria a mim nem às crianças.