Leve Embora o Herdeiro DelePT

Quando o advogado me disse que Cláudio, meu marido por oito anos, estava legalmente divorciado de mim e era casado com outra mulher, fiquei paralisada.

Não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

Meu celular vibrou. Era uma mensagem de Cláudio.

— Amor, hoje volto ao Brasil. Comprei a bolsa nova que você queria. Preciso resolver um assunto rápido na empresa, mas depois vou direto para casa te ver.

Ao ler a mensagem, meu coração se partiu em pedaços com aquela mentira.

Se fosse em outra época, eu ficaria feliz, pois Cláudio sempre me trazia presentes das suas viagens.

Mas agora eu estava no saguão do aeroporto, onde eu queria fazer uma surpresa para ele, e fiquei atordoada quando vi uma figura familiar saindo do portão de desembarque.Ele, com seu porte alto e um terno preto que o deixava ainda mais imponente, segurava uma mulher ao lado com todo cuidado, com um olhar cheio de ternura. Ela, com a barriga saliente, parecia muito feliz.

Era Gabriela Nunes.

Meu coração se apertou, e todo o meu corpo tremia.

Eu e Cláudio crescemos juntos, fomos amigos de infância.

Vinte e oito anos sem nos separar. Eu achava que nosso amor era inabalável.

Mas agora, todo esse sentimento parecia um veneno coberto de açúcar.

Lembrei que tinha perdido minha certidão de casamento há um ano, e Cláudio me disse que tinha pedido ao assistente dele para emitir uma segunda via.

Pensando bem, o documento que eu assinei na época deve ter sido o divórcio...

A memória foi como uma facada no meu coração.

Apertei o buquê que tinha preparado para ele, as unhas quase se enterrando na minha palma.

Olhei para ele uma última vez e me virei para ir embora, jogando as flores no lixo.

Cheguei em casa e me senti sem forças, como se tivessem arrancado minha alma.

Entrei no banheiro e, impulsivamente, peguei um teste de gravidez.

Ao ver as duas listras, senti a ironia do destino.

Há três meses, fui sozinha à clínica para a minha décima segunda tentativa de fertilização in vitro.

Durante nossos anos de casamento, nunca conseguimos ter um filho.

Cláudio dizia que não era importante e que todo o amor dele seria só para mim.

As tentativas anteriores haviam falhado.

Cada uma delas transformou esperança em decepção.

Mas no fundo, eu ainda queria ter um filho nosso.

Há seis meses, enquanto ele estava em viagem, usei o material genético que havíamos armazenado e fiz a décima segunda tentativa.

Ontem, a médica me disse que a gestação deu certo, e os bebês estavam saudáveis!

Já são três meses, e são gêmeos, um menino e uma menina.

Eu ia fazer uma surpresa no nosso aniversário de casamento, mas, pelo jeito, ele já tinha virado pai do filho de outra pessoa.

Não é à toa que ele não se importava se eu teria um filho ou não, afinal, ele já era pai.

De repente, passos ecoaram na sala e Cláudio apareceu.

Eu rapidamente enxuguei as lágrimas, escondi o teste atrás de mim e o coloquei no bolso.

— Amor, por que você não me respondeu? Fiquei preocupado, achei que tinha acontecido algo.

Ele se aproximou rapidamente, com o rosto cheio de ansiedade.

Abaixei a cabeça para evitar seu olhar.

No começo do nosso namoro, uma vez fiquei brava com ele e ignorei suas mensagens de propósito. Ele chegou a usar um helicóptero para me procurar na cidade toda.

Esse tipo de amor só existe nas minhas lembranças agora.

O carinho e a preocupação dele devem estar sendo direcionados a outra pessoa.

— Eu estava com uma amiga fazendo compras e meu celular descarregou. — Forcei um sorriso.

Ele me abraçou, me apertando suavemente. Apoiando o queixo na minha cabeça, ele disse com uma voz rouca e suave:— Não faça isso de novo. Você sabe que não posso viver sem você.

Meu corpo ficou tenso nos braços dele, meu coração cheio de emoções misturadas.

Nesse momento, o celular dele tocou. Cláudio olhou para a tela e o rosto dele ficou sério.

— Amor, vou atender lá fora.

Ele me soltou e foi para a varanda.

Levantei a cabeça e vi ele se afastar, senti um aperto no peito.

Alguns minutos depois, ele voltou correndo e pegou a jaqueta.

— Aconteceu algo urgente na empresa, tenho que ir. Volto logo.

Eu não disse nada, só acenei com a cabeça.

Quando a porta se fechou com um estrondo, a figura de Cláudio desapareceu completamente da minha vista.

Joguei o teste de gravidez no lixo e as lágrimas caíram de novo. "Filhos, me desculpem, a mamãe não pode dar a vocês uma família completa. Mas a mamãe vai amar muito vocês e dar o melhor do mundo."

Uma semana se passou e eu cuidei da transferência da herança e do meu passaporte. Estava preparando tudo para ir embora com os gêmeos. A felicidade de Cláudio, Gabriela e do filho deles não será afetada.