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Até Que As Nozes Nos Separem

Até Que As Nozes Nos SeparemPT

História Curta · Contos Curtos
Montanha Rio  concluído
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Resumo
Índice

Na festa do nosso primeiro aniversário de casamento, eu caí no chão — de cara no tapete vermelho, arfando como um peixe fora d’água. Enquanto isso, Carlo Pipino, meu marido, estava com o braço jogado ao redor de Gianna Verde, a paixão de infância dele, bebendo champanhe e rindo. Gianna sabia que eu era alérgica a nozes. Então, obviamente, ela banhou tudo com molho de avelã. Só bastou uma mordida e boom — minha garganta travou, meus pulmões incendiaram, e urticárias estouraram como confete. Fui pegar meus remédios de alergia — e puxei um punhado de M&Ms derretidos. Gianna riu quando viu minha cara. — Surpresa! Carlo trocou seus remédios. Sério, Siena, tudo isso só por causa de uma noz? Dramática demais, não acha não? Eu escorreguei da cadeira, chiando, enquanto a multidão apostava quanto tempo minha performance ia durar. — Carlo... meus remédios... Eu vou morrer. Ele suspirou, irritado. — Deus, como você é dramática. Por que as mulheres sempre fingem que vão morrer por atenção? Você sabe que eu te amo. Só para com esse showzinho. Naquele instante, meu coração quebrou mais rápido do que meus pulmões. Parei de implorar. Acionei o sinal de socorro. E liguei para minha família de verdade.

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Capítulo 1

Capítulo 1

Meu celular acendeu com uma mensagem.

[Dez minutos.]

— Dez minutos. — Eu repeti. Só aguenta.

Carlo, o grandão, o temido Capo Pipino, notou meu movimento. Os olhos dele congelaram.

— Sério? Chamando a polícia?

Antes que eu escondesse, ele arrancou o telefone da minha mão e o jogou pela janela da cobertura. Um estalo seco — e nada. Meu último vínculo com o mundo exterior havia sumido. Ele se agachou ao meu lado, as pontas dos dedos roçando minha bochecha, com a voz calma e letal.

— Você sabe as regras. A gente não chama a polícia. E pode confiar, querida — traditori não saem vivos.

Tentei balançar a cabeça, mas minha garganta estava travando, meu corpo pesado como chumbo.

— Eu não sou traidora... Carlo, eu sou alérgica... Eu preciso dos meus remédios...

Gianna surgiu, agarrando o braço dele.

— Ah, por favor, Siena. Isso é dor de verdade ou só seu drama de sempre? É uma festa de aniversário, não um teatro comunitário. Você realmente chamou a gente aqui só pra humilhar o Carlo? Isso não é amor — isso é triste.

A multidão gargalhou. Ela o puxou, e tudo voltou — as mesmas reprises de sempre. Gianna nunca calava a boca pra dizer que conheceu ele primeiro. Como se isso desse algum direito a ela. Toda vez que eu tocava no assunto, Carlo sorria, arrumava meu cabelo.

— Amor, se fosse pra acontecer alguma coisa, já teria acontecido. Não pensa demais.

Ela entrava no meio, com uma risada falsa.

— Por favor, eu nunca iria querer alguém tão mandão quanto o Carlo. Só você aguenta esse ego.

E eu acreditava. Burra, né? Mas aí vieram as coincidências. Cada encontro, ela aparecia. Cada conversa, ela roubava. Eu ficava ali, um fantasma ao lado do próprio marido. Depois veio a preocupação falsa.

— O que foi, Siena? Incomodada porque Carlo e eu temos química demais? Não seja tão sensível.

Carlo nunca dizia nada. Só ria. Como se eu fosse o problema. Agora ela nem fingia mais.

— Você é patética. Sempre agindo como uma princesinha mimada. Já pensou o quão exaustiva você é? Não consegue nem respirar sem Carlo olhar pra você.

— Eu sou mesmo alérgica... Só... me dá meus remédios.

Silêncio. Depois, risadas. Mais cruéis.

Gianna cortou o som.

— Meu Deus, ela ainda tá fingindo? Carlo, fala que você não está caindo nessa.

Os capangas dele apareceram.

— Não amolece agora, Capo! Se mostrar fraqueza ela pisa em você!

— Isso, Capo! Bota ela no lugar!

Qualquer restinho de dúvida dele se afogou ali.

Ele nem olhou pra mim.

— Chega, Siena. Corta o teatro. Se você gosta tanto do chão, a gente continua brincando disso em casa. Tá todo mundo olhando. Levanta antes que eu perca a paciência de verdade.

Eu continuei no chão.

Algo passou pelo rosto dele — talvez culpa, talvez medo — e ele deu um passo na minha direção. Gianna entrou na frente rápido, bloqueando.

— Carlo, não cai nessa. Alergia não deixa ninguém roxa. Ela tá é bêbada.

Balancei a cabeça, quase sem conseguir mexer.

— Remédios...

Antes que eu terminasse, Gianna se abaixou e me deu um tapa. Uma vez. Duas.

— Melhorou? Ficou sóbria agora?

Meu rosto ardia, mas ela não parou. Então ela puxou um frasco minúsculo da bolsa, os olhos brilhando.

— É isso que você quer?

Cada nervo meu gritou que sim.

Gianna riu, sacudindo o frasco.

— Então vem pegar, Siena. Engatinha, e é seu.

Eu não conseguia ficar de pé, mas a sobrevivência gritava mais alto que o orgulho. Arrastei meu corpo, arranhando o carpete com as mãos. Quando cheguei perto, ela puxou o frasco pra longe.

A risada dela cortou o ar — alta e cruel.

— Deus, Siena, você é patética! Engatinhando como um cachorro? Acho que você é só lenta demais.

Então ela despejou os comprimidos num copo de uísque. Os comprimidos brancos chiaram e sumiram no líquido âmbar. Um som escapou de mim, parte soluço, parte suspiro estrangulado.
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