Capítulo 2

(Ponto de Vista de Noa)

— Estou aqui, meus amores. — Ajoelhei-me, estendendo os braços. — Sentiram falta da mamãe?

Tessa se atirou nos meus braços, apertando-se contra mim com um soluço que rasgou meu peito por dentro.

Enquanto isso, Milo permaneceu parado, tremendo tanto que mal conseguia manter o corpinho firme.

Mesmo assim, Tessa sorriu para mim.

— Mamãe. O papai disse que você nunca mais ia voltar. — A voz dela vacilou na última palavra.

— Mamãe, você veio buscar a gente? — Perguntou Tessa. — A Srta. Harper avisou que, se a gente saísse do quarto, ela ficaria furiosa e pediria ao papai que nos mandasse embora.

"Como se não bastasse estar hospedada na minha casa, aquela mulher ainda teve a ousadia de maltratar os meus filhos!" Abracei meus dois filhos com força, segurando a mãozinha de Tessa enquanto aconchegava Milo contra meu peito. Em seguida, levei-os diretamente para o quarto principal, que já foi meu, e entrei no banheiro. Eles precisavam desesperadamente de um banho e roupas decentes, afinal.

A banheira de mármore da suíte permanecia intacta, ampla o suficiente para que ambos tomassem, juntos, o primeiro banho digno em muito tempo.

Enquanto colocava Milo no chão com cuidado, pedindo a Tessa que o segurasse, algo capturou minha atenção: a foto do casamento. Elias e Harper, sorrindo juntos, radiantes. Imediatamente, fui até lá, arranquei a moldura da parede e a joguei no chão. Além disso, chutei-a com força, acertando em cheio o rosto de Harper.

"Deus…" Não foi o bastante, mas ao menos aliviou uma parte da raiva. Pouco depois, Elias entrou no quarto acompanhado do mordomo.

— Já deu, não é? — Gritou. — Primeiro você estraga a comemoração, e agora está destruindo a casa? Você acabou de voltar, Noa. Não me faça me arrepender por ter permitido que ficasse.

Minha paciência se esgotou.

— A sua comemoração? — Retruquei incrédula. — Vá em frente e comemore com seu anjinho enquanto seus filhos de verdade apodrecem no porão, passando fome num depósito de lixo.

Elias olhou para Tessa e Milo, franzindo a testa.

— Por que eles estão tão sujos? — Perguntou. — Vocês dois estavam brincando no quintal de novo?

"Ele não sabia?"

Deixei escapar uma risada seca e amarga.

— Você realmente é um imbecil, Elias. — Falei, com a voz cortante como navalha. — Por que não perguntamos isso à sua adorável Harper?

Harper apareceu no cômodo logo em seguida. Ao me ver com os gêmeos, arregalou os olhos e inspirou profundamente.

— O que aconteceu com Tessa e Milo? — Murmurou, com aquela expressão de inocência escancarada.

— Vai dizer que você não sabe?

— E por que eu deveria saber? Tessa e Milo não são minha responsabilidade. — Respondeu, apoiando a mão no peito de Elias. — Amor, você tem ideia do que houve?

Elias nos olhou, confuso e impaciente.

— A Noa está gritando por aí que trancaram os gêmeos no porão.

Harper suspirou alto de novo.

— Ah! Eu... Percebi que os gêmeos começaram a gostar de brincar no porão, e a empregada comentou que, às vezes, eles vão até lá e passam o dia inteiro brincando.

Ao meu lado, Tessa apertou minha mão com força, enquanto seus dedinhos trêmulos denunciavam o medo. Em seguida, ela balançou a cabeça com um desespero visível.

— Mamãe, a gente não…

— Pare de mentir, Harper. — Interrompi, com a voz afiada.

O sorriso dela congelou.

— Você mandou as empregadas trancarem eles no porão… — Continuei. — Os fez comer restos de lixo! Até ameaçou jogá-los na rua se eles ousassem sair! Crianças não mentem sobre algo assim.

Harper arregalou os olhos.

— Eu nunca faria isso! Por que eu trancaria eles?

Foi então que ela se virou para Tessa, adotando aquela voz melosa e forçada.

— Tessa, querida, você não me odeia, odeia?

Tessa encolheu-se sob o olhar de Harper, escondendo-se atrás de mim por instinto.

— Não, eu não odeio.

Logo, Harper se adiantou.

— Então por que mentiria para a sua mamãe? Eu nunca tranquei vocês, querida. Nunca.

No mesmo instante, envolvi Tessa com o braço, protegendo-a daquela presença venenosa.

— Chega.

Enquanto o corpinho de Tessa tremia contra o meu, seus olhos se voltaram para a foto de casamento despedaçada no chão. Harper também percebeu e, logo, levou as mãos à boca.

— Nossa foto de casamento! — Exclamou. — O que aconteceu?

Inclinei a cabeça.

— Aquilo? Joguei fora. Não gostei de ver as memórias de outra pessoa espalhadas no meu quarto.

O rosto de Harper se contorceu.

— Primeiro você me acusa de abusar de crianças, agora destrói minha vida aqui dentro? Você me odeia tanto assim, Noa?

Ela girou dramaticamente, como se fosse desmaiar, forçando cada gota de piedade possível.

Ao mesmo tempo, Elias a segurou, puxando-a para os braços.

— Não se deixe abalar por eles, Harper. Eu sei que você é inocente.

Foi então que, para meu horror, ele tirou Tessa dos meus braços e a estapeou com força nas costas.

Depois disso, rosnou:

— Foi para isso que eu te criei? Para sair por aí mentindo sobre quem cuida de você?

Tomei-a de volta, apertando-a com força contra o peito.

— Não toque nela!

— Você me enoja, Elias. — Cuspi. — Você bate na própria filha só porque uma aproveitadora pisca os cílios pra você? Abra os malditos olhos!

Elias elevou a voz, gritando de volta:

— Ah, claro. Você é perfeita, não é, Noa? Será que não foi você quem ensinou nossa filha a mentir? Porque isso parece coisa sua.

Ele continuou:

— Em vez de ajudá-la, depois de tudo o que aconteceu com o meu sobrinho, você escolheu se aliar aos nossos filhos para mentir sobre ela e afastá-la? Mesmo ciente de que ela ficou desamparada e precisava do meu apoio?

Diante dessa acusação, Harper se desvencilhou dos braços dele, tomada por um soluço angustiado, e se retirou apressadamente, em prantos, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor.

— A culpa é toda minha.

Elias foi atrás dela no mesmo instante.

Enquanto, ao meu lado, Tessa agarrava minha manga, com o rostinho contraído de inquietação.

— Mamãe. — Sussurrou. — O papai odeia a gente? Ele odeia eu e o Milo? Por que ele não acredita na gente?

Assim que aqueles olhos grandes e marejados me encararam, senti como se mil facas se cravassem no meu peito, e, movida por um impulso irreprimível, abracei os dois com força, tentando envolvê-los nos braços.

— Não, meu amor. Não. Você é a menininha mais inteligente, bondosa e maravilhosa do mundo. E você, Milo... É o garotinho mais doce, forte e incrível que uma mãe poderia ter. Vocês não fizeram nada de errado. Nada.

— Mamãe... — Quando a voz rouca de Milo finalmente escapou, o olhar antes vazio se preencheu de lágrimas quase instantaneamente.

— Pronto, já passou. — Murmurei, apertando-os ainda mais contra mim. — Não chorem, meus amores. Eu vou tirar vocês daqui, eu juro. Nós três vamos viver juntos de novo... E, dessa vez, vamos ser felizes. Eu prometo.
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