ARTHUR VASCONCELOS
A redoma de vidro pesava na minha mão como se contivesse chumbo derretido, e não uma simples flor preservada.
Meus dedos traçaram a data entalhada na madeira escura. 12.05.2016. A textura áspera do entalhe contra a minha pele era uma confirmação física de um pesadelo que eu achei ter enterrado sob sete palmos de concreto e dinheiro.
— O que significa essa data, Arthur? O que aconteceu nesse dia?
Minha garganta fechou.
— 12 de maio — minha voz saiu como um arranhão. — Essa... essa é a data em que Anabela desapareceu.
Mas não era apenas a data. Aquela maldita rosa negra.
Meus olhos se fixaram nas pétalas escuras, aveludadas, congeladas no tempo dentro do vidro. Fui puxado para trás, violentamente, para um lugar diferente, em um tempo diferente.
Flashback
O cheiro de incenso e vinho barato impregnava o apartamento dela. Anabela estava sentada na beira da cama, a camisa deslizando por um ombro, a pele pálida brilhando sob a luz amarela do abajur.
— Gostou? — ela pergu