— Para uma boutique. Você vai gostar.
Quando chegamos, fiquei sem palavras. O lugar parecia um palácio de vidro, reluzindo luxo por todos os cantos. Logo na entrada, uma vendedora surgiu com entusiasmo ensaiado.
— Senhora Lubianco! — pronunciou meu sobrenome como se fosse uma senha mágica. — Temos peças separadas especialmente para a senhora.
Fui guiada até um salão repleto de vestidos que pareciam obras de arte. Tecidos nobres deslizavam em ondas de cetim, seda e tule. Experimentei alguns, com a ajuda paciente de Mariane. Um vermelho intenso me chamou a atenção, mas, ao sair do provador, ela balançou a cabeça.
— Muito chamativo para a primeira aparição. Precisamos de algo elegante, mas sóbrio. Algo que transmita segurança.
Enquanto ela buscava outra peça, ouvi passos decididos atrás de mim. Virei e vi Paulina. Vestido justo, óculos escuros, duas sacolas de grifes luxuosas nas mãos.
— Ora, se não é a nova senhora Lubianco. — Seu sorriso não chegava aos olhos. — Veio fazer compras? Espero que não esteja tentando… compensar.
— Compensar o quê? — perguntei, mantendo o tom sereno.
Ela abaixou os óculos e me encarou como quem prepara um veneno bem dosado.
— Compensar o fato de que Gael não se casou com você por escolha. Todos sabem que é na minha cama que ele vai se divertir todas as noites.
Senti meu sangue ferver, mas respirei fundo. Não lhe daria o prazer de ver minha raiva.
— Talvez. — respondi calma. — Mas os filhos dele parecem gostar da minha presença. E isso me basta.
Foi como acertar uma flecha certeira. O sorriso dela desapareceu, mesmo que por segundos. Mariane voltou nesse instante, trazendo um vestido azul-marinho de tecido fluido.
— Experimente este, Leandra. Vai ficar perfeito. E você, Paulina, deseja algo? — perguntou, com uma cortesia gélida.
Paulina murmurou algo e saiu, os saltos estalando contra o piso. Assim que ela se afastou, Mariane me encarou.
— Está bem?
— Estou. — sorri de leve. — Obrigada por intervir.
— Não se preocupe com aquela modelinho de araque. Mesmo na sua simplicidade, você é mais mulher que ela.
— Não precisa exagerar para me confortar.
— Não é exagero. — Ela disse firme. — Eu reconheço caráter quando vejo.
Aceitei o vestido e fui ao provador. Quando saí, Mariane bateu palmas.
— Eu disse!
Olhei no espelho e, por um instante, não me reconheci. O corte abraçava minha cintura, revelando curvas que eu mesma tinha esquecido.
— Não sabia que ainda tinha essas curvas… — murmurei.
— O vestido certo faz milagres. — Mariane sorriu. — Agora que encontramos seu estilo, vamos levar mais algumas peças. Depois, salão de beleza.
Seguimos para um salão luxuoso, onde recebi um tratamento completo: cabelo, maquiagem, unhas. Ao voltarmos, até o motorista, senhor Alfredo, me lançou um elogio sincero pelo retrovisor.
— Acho que isso é o começo de uma boa amizade. — Mariane disse ao anotar meu número.
Sorri em resposta.
No horário marcado carro já nos esperava na frente da mansão. Gael estava na sala, impecável em seu terno escuro, ajustando a gravata diante do espelho. Quando me viu, seus olhos percorreram lentamente cada detalhe. Não havia desejo, mas havia aprovação.
— Está adequada. — Vindo dele, soou quase como um elogio.
Chegamos a um hotel cinco estrelas, daqueles que brilham como jóias na noite. O saguão exalava perfume caro e poder. Assim que entramos no salão, percebi que todos os olhares se voltavam para Gael e, por tabela, para mim. O peso de ser percebida como parte dele, mesmo que só de aparência, era quase palpável.
Ele me conduziu até a mesa principal, cumprimentando pessoas com apertos de mão firmes e sorrisos calculados. Eu também sorria, tentando parecer natural, como se aquele fosse meu lugar. Não era. Mas precisava passar aquela impressão.
A primeira meia hora foi um desfile de nomes, investimentos e negócios que eu mal compreendia. Gael falava com a segurança de quem domina o jogo; eu apenas assentia, bebendo goles pequenos de água, esforçando-me para parecer envolvida, mas mantendo-me atenta para não perder nenhum detalhe.
Foi então que um rapaz se aproximou. Seu terno não era tão caro quanto os outros, mas havia algo genuíno no seu sorriso.
— Você é Leandra, certo?— Sou Henrique. Trabalhei com a Almerinda na biblioteca comunitária há alguns anos.
O nome da minha avó aqueceu meu coração de imediato.
— Você conheceu minha avó? — perguntei, surpresa e emocionada. — Claro. Uma mulher incrível. Ela me incentivou muito quando estava começando na faculdade — ele sorriu, lembrando-se. — Reconheci você pelo sorriso. Vocês têm o mesmo. Ela falava tanto da netinha querida.Fiquei tocada. Era raro encontrar alguém que conhecesse a parte mais verdadeira da minha vida, aquela que não podia ser comprada ou exibida. Começamos a conversar sobre a biblioteca, projetos sociais e alguns livros que minha avó me fazia ler. Por alguns minutos, senti-me transportada para um mundo normal, simples, onde a preocupação maior era apenas a paixão por aprender e compartilhar conhecimento.
Quase esqueci onde estava. Quase.
Foi então que senti um olhar pesado pousar sobre mim. Um reflexo na parede me revelou Gael. Parado, observando, o maxilar tenso. Cada gesto meu parecia errado aos olhos dele.
Ele atravessou o salão com passos firmes, ignorando as pessoas que tentavam puxar conversa. Quando chegou, segurou minha mão com uma força que beirava a brusquidão.
— Com licença — disse, dirigindo-se a Henrique com um sorriso frio demais para ser cordial.Sem esperar resposta, ele me conduziu até um canto mais afastado, perto de uma das varandas. O vento da noite trouxe um pouco de ar fresco, mas o olhar dele queimava minha pele.
— O que você estava fazendo? — Sua voz era baixa, quase um sussurro. — Está tentando me envergonhar?Olhei para ele, confusa.
— Não. Apenas conversando.— Conversando? — Ele deu um passo mais próximo. — Quero você ao meu lado, Leandra.