A espera foi curta, mas o rangido pesado do portão abrindo soou quase como um aviso. Entrei e caminhei pelo jardim impecável, onde o aroma doce das flores contrastava com a frieza que me aguardava lá dentro.
Na sala, como sempre, estavam Juliana e Rafaelly. A primeira, com seu vestido caro e perfume marcante, sentava-se no sofá como uma rainha em seu trono; a segunda, absorta no celular, ergueu os olhos e sorriu de canto ao me ver.
— Olha só quem resolveu aparecer — disse Juliana, a voz carregada de falsa surpresa. — E trouxe… o que são? Souvenirs do seu novo marido?
Senti o calor subir pelo rosto, mas mantive a postura firme.
— Estou aqui para falar com o meu pai.Rafaelly soltou uma risada curta.
— Aposto que é sobre dinheiro. — Ela me avaliou da cabeça aos pés, com aquele ar de desprezo treinado. — Ou será que veio pedir conselhos matrimoniais?Ignorei. Não valia a pena reagir.
— Não quero falar com vocês, apenas com meu pai. — Respirei fundo, tentando não deixar a irritação transparecer.Juliana recostou-se no sofá, entediada.
— Leandra, você é tão dramática. Tenho certeza de que seu pai está cuidando do que veio pedir.— Ele não está, e por isso vim aqui.
— Infelizmente, ele está ocupado. Posso pedir para o Cláudio vir falar com você.
Poucos minutos depois, o empregado apareceu.
— Senhor Lúcio pediu para avisar que o pagamento será feito em breve. Ele pede para a senhora aguardar.O vazio dessas palavras caiu sobre mim como um balde de água fria. “Em breve” não significava nada quando a vida da minha avó estava em risco. Mas não havia espaço para discussão.
— Diga a ele que o hospital não pode esperar. — Olhei para o empregado com firmeza, como se pudesse atravessar aquelas paredes e alcançar meu pai.Ele apenas assentiu e saiu, deixando-me sozinha com o veneno disfarçado de sorrisos das duas mulheres.
— Viu só? — disse Juliana, ajustando o arranjo de flores sobre a mesa. — As coisas se resolvem… para quem sabe esperar.
Rafaelly riu de forma curta.
— Por que não pede dinheiro ao seu marido?A vontade de responder estava na ponta da língua, mas engoli cada palavra. Não valia a pena gastar fôlego com quem só entendia de luxo e desprezo. Breno resmungou, e antes que chorasse, o peguei no colo. Assim que se acalmou, o coloquei no carrinho novamente.
— O papel de babá lhe cai muito bem — continuou Rafaelly, provocando-me com um sorriso presunçoso.
— E o de vadia mimada, a você. Boa tarde. — Foi tudo que disse antes de me virar e caminhar para a saída.
Atravessei o jardim de volta ao portão, cada passo acompanhando o som abafado das risadinhas delas.
No carro, com os meninos finalmente adormecidos, permiti-me fechar os olhos por um instante. Foi então que o celular vibrou.
Gael Lubianco apareceu no visor.
— Alô?
— Hoje à noite teremos um jantar. Quero você pronta às oito. — Sua voz era objetiva, sem espaço para perguntas. — Jantar? — repeti, surpresa. — Clientes importantes, minha assistente a levará para escolher roupas apropriadas, esteja pronta.Ele desligou antes que eu pudesse responder.
Uma semana atrás, minha vida girava em torno do hospital, dos meninos e das farpas da minha madrasta e meia-irmã. Agora… estava dividida entre um casamento que não escolhi, dois bebês que não eram meus, e o medo constante de perder a única família verdadeira que me restava.
Em menos de um mês tudo havia virado de cabeça para baixo.
Passei a mão pelo rosto, tentando afastar o peso dessa constatação. Sabia que não havia tempo para lamentar. Precisaria me preparar para mais uma noite desempenhando o papel de esposa perfeita de magnata… enquanto, por dentro, queria estar ao lado da minha avó, cuidando dela.
Chegando à mansão, Francisca me ajudou com os meninos fez algumas perguntas e disse que cuidaria deles enquanto eu estivesse fora e agradeci.
Um tempo depois Francisca bateu à porta.
— Senhora Leandra, Mariane já chegou. Está na sala de visitas.
— Pode me chamar só de Leandra.
— Como quiser. — Sorriu de leve, e acrescentou: — O carro estará pronto em breve.
Agradeci e fui me arrumar. Ao descer, encontrei uma jovem que parecia ter saído diretamente de um catálogo: cabelos lisos e brilhantes, maquiagem impecável e um sorriso treinado. Ela se levantou assim que me viu.
— Muito prazer, senhora Lubianco. Sou Mariane e vou acompanhá-la para escolher um vestido adequado para a recepção.
A palavra “adequado” me pesou nos ouvidos. Não significava o que eu gostava, mas sim como Gael queria que eu fosse vista. Ainda assim, assenti. Bater de frente não valia a pena.
— Pode me chamar de Leandra. — Estendi a mão, mas ela me surpreendeu com um abraço caloroso, genuíno.
— Então vamos, Leandra. O senhor Alfredo já nos espera.
No carro, enquanto deslizávamos por ruas largas e arborizadas, senti o olhar dela me estudar com uma simpatia discreta.
— Para onde vamos?