MIA
Encontrei outra carta de Cecília no criado-mudo. O papel era fino, dobrado com cuidado quase cerimonial. A caligrafia firme, elegante, como se cada letra tivesse sido desenhada com um bisturi.
"Não lute com força bruta, Mia. Ele se alimenta disso. Use o que ele não espera: sua calma, sua inteligência. Deixe que pense que está vencendo. A fuga exige silêncio, não gritos. A chave já está a caminho. Prepare-se. Mantenha-se inteira."
Fechei os olhos por um instante. Ainda tremia por dentro, ainda havia raiva e medo pulsando sob a pele, mas as palavras de Cecília eram uma lâmina fria atravessando a neblina. Eu precisava ser mais fria do que ele. Mais precisa. Fingir que cedi — só o suficiente.
Desci até o escritório dele. Sozinha.
Tomasio