Henrique passou a manhã inteira encarando a tela do notebook. O relatório do caso Vicentini estava aberto há horas, mas as palavras não faziam mais sentido.
Cada nome listado, cada movimentação de processo, cada estratégia anotada parecia agora uma afronta direta ao que ele sentia.
E à verdade que Elize tinha confidenciado.
Fechou o notebook com força, apoiando os cotovelos na mesa e passando as mãos pelos cabelos.
O silêncio do apartamento era cortado apenas pelo som do relógio pendurado na parede — e do peso que batia no peito, um segundo de cada vez.
João Vicentini.
A ficha dele ainda estava nos arquivos do escritório. Henrique não era o responsável direto, mas sabia que a defesa desse tipo de cliente passava, vez ou outra, pela sua mesa.
Sempre achou que conseguiria se manter imparcial, frio, profissional. Mas agora?
Agora, ele sabia o que aquele homem tinha feito com Elize. Sabia que havia uma marca gravada a ferro por causa de um erro que, no fundo, tinha sido dele.