Terça-feira no escritório tinha um clima específico. Era dia de Augusto, o sócio fundador, fazer sua tradicional aparição semanal. Bastava alguém anunciar sua chegada para o ambiente mudar drasticamente — os sorrisos sumiam, os passos ficavam mais contidos, e o ar parecia mais pesado. Um velório com wi-fi, como Glória dizia baixinho, só para as mais íntimas.
Elize já estava acostumada com o burburinho que se formava toda vez que Augusto pisava no tapete da recepção. Mas naquela manhã, ao contrário da última vez, ele a cumprimentou com um leve aceno de cabeça. Um gesto mínimo, quase imperceptível, mas suficiente para fazer o coração dela bater mais rápido.
Ele seguiu diretamente até a mesa de Glória, onde pegou a agenda do dia — a mesma que ele próprio montava com o rigor de um relojoeiro suíço. Passou os olhos pelas anotações com a testa franzida, até parar em um item específico.
— Esse processo... — murmurou. — É o mesmo que quase perdemos o prazo por causa da bagunça nos arquivos