Ela lembrava daquela noite como se o tempo tivesse ficado preso no vento. A Baía das Abelhas era um espelho de luzes dançando sobre a água, mas seus olhos estavam fixos nele — no garoto de cabelo azul que tinha invadido seu pensamento dias atrás.
Elize não era de se distrair em serviço. Mas naquela noite, algo nela tinha resolvido cruzar uma linha.
Vestia preto da cabeça aos pés: um vestido leve, que se movia com o vento salgado; uma jaqueta de couro curta, marcada pelo tempo e pelas noites nas docas; e o coturno surrado que ela usava como parte da armadura. O cabelo preso numa trança lateral — não para parecer bonita, mas para não atrapalhar sua visão se precisasse correr. Sempre pronta.
Ela o viu antes que ele a visse, é claro. Como sempre.
Rick estava sozinho, explorando o cais fora do horário permitido, como se não soubesse — ou não se importasse — que ali era território marcado. Encostado numa pilastra de madeira, observava o mar com uma calma que irritava. O cabelo azul