POV: NoahFazia dois dias que Emily não respondia minhas mensagens.Duas noites em que o silêncio dela falava mais alto do que qualquer palavra.A princípio, tentei me convencer de que era só o trabalho. Ou a cabeça cheia com os últimos eventos.Mas quando fui até o apartamento dela e encontrei a porta trancada, as luzes apagadas — e o perfume masculino no corredor —, o chão começou a ceder.Não era só paranoia.Era instinto.E meu instinto sempre me alertou sobre ele.Alexander.Sentei no banco do carro e encarei o volante como se ele tivesse as respostas. Minhas mãos estavam fechadas em punhos no colo. Minha respiração era um caos tentando parecer calma.Eu a amava.Isso não tinha mudado.Mas amar alguém que talvez ainda ame outro… era como mergulhar de olhos abertos num abismo.Peguei o celular e abri as últimas mensagens."Você está bem?""Emily, me responde, por favor.""Se precisar de espaço, eu entendo. Mas me fala alguma coisa."Nada.Eu conhecia aquela ausência.Era a mesma q
POV: AlexanderEu observei tudo.De longe, é claro. Como um predador paciente.Emily não fazia ideia do quanto me irritava ver seu sorriso se curvando para outro homem. Nem imaginava que cada vez que ela tocava o braço de Dylan ou deixava escapar um riso para ele, algo dentro de mim se partia — e se reconstruía com mais raiva.Dylan.Nunca imaginei que fosse ele.Eu sempre soube que Noah era uma ameaça. Mas Dylan... Dylan foi traição interna. Um rato escondido no nosso próprio círculo, roendo aos poucos aquilo que era meu.Me escondi nas sombras por tempo suficiente. Dei a ela o espaço que disse precisar. Tolice minha.Emily nunca quis espaço. Ela quis liberdade. Para se perder. Para se vingar de mim. Para experimentar o mundo sem as correntes que eu, no fundo, sempre soube que ela desejava que eu colocasse de volta.Ela podia tentar fugir.Mas tudo ao redor dela ainda levava meu nome.Hoje, estacionei o carro a uma quadra do prédio onde Dylan agora estava hospedado.Sim, eu sabia. So
POV: Emily*Dylan dorme ao meu lado.Respiração leve, corpo aquecido pelo cobertor fino que cobre parcialmente nossos corpos. Ele é bonito, gentil, e ultimamente tem sido meu porto seguro… ou pelo menos, a tentativa de um.Mas enquanto ele dorme, os pensamentos que me mantêm acordada têm outro nome.Alexander.Ele não me liga. Não aparece. Não manda nenhuma mensagem. Mas sei que está por perto. Porque consigo senti-lo — como um raio prestes a cair.E pior: a cada dia, sinto falta da tempestade.A cabeça de Dylan se move levemente no travesseiro, e ele murmura meu nome com uma doçura que deveria me aquecer o coração.Mas tudo o que sinto é culpa.E vazio.Levantei devagar, vestindo apenas a camiseta dele e andando descalça até a cozinha do pequeno apartamento. As luzes da cidade dançavam através da janela, refletindo nas garrafas vazias de vinho que deixamos sobre a bancada. A noite passada tinha sido… quente. Ele me tocou com desejo, com delicadeza. Me fez rir, me beijou como se tives
POV: AlexanderEla estava lá.Usando aquele vestido preto ridiculamente simples, como se não tivesse consciência do que provocava. Como se seus olhos grandes e ansiosos não estivessem me desafiando desde o momento em que entrou naquele salão.Emily.A mulher que partiu meu orgulho em dois.A mulher que eu ainda quero.Ela chegou com ele.Dylan.Meu sobrinho.O idiota sorridente que acredita, ingenuamente, que pode amar como um homem de verdade. Que pode protegê-la de mim.Não pode.Por fora, mantive a compostura. O terno ajustado, o copo de whisky equilibrado na mão. Mas por dentro, uma guerra silenciosa se formava. Uma guerra entre o que restou de racionalidade em mim… e o desejo de tê-la de novo.Inteira.Arfando sob o meu toque, gemendo o meu nome como se fosse uma súplica.Quando passei por ela no salão, senti.O corpo dela enrijeceu.O olhar se desviou.Mas o cheiro dela… maldito cheiro de jasmim e pecado… ainda estava preso em mim.Ela tentou fingir força. Tentou agarrar a mão d
POV: EmilyEstava tudo indo bem. Pelo menos, era isso que eu repetia para mim mesma todas as manhãs, ao abrir os olhos e sentir o braço de Dylan me envolvendo como um abrigo seguro.Mas ultimamente, a segurança parecia frágil.Frágil como um vidro trincado — que a qualquer momento pode estilhaçar.Dylan tinha mudado. Pequenas coisas, mas que eu não podia mais ignorar.Esquecimentos, atrasos, olhares vazios no meio de uma conversa.Ele sempre foi gentil. Atento. Mas agora… agora havia sombras nos olhos dele que não estavam ali antes.— Está tudo bem no trabalho? — perguntei naquela manhã, enquanto ele vestia a camisa branca e ajustava a gravata no espelho.Ele hesitou por um segundo. Um segundo. Mas eu vi.— Está sim, só algumas pendências com clientes. Coisa normal.Mentira.Eu senti.Nos beijamos rapidamente e ele saiu, deixando para trás o cheiro amadeirado e aquela inquietação latejando no meu peito.Fui até a cozinha, preparei um café que ficou amargo demais e me sentei na bancada
POV: EmilyO envelope estava em minhas mãos havia horas.Eu o levei comigo para casa, larguei-o no sofá, fui para o quarto. Depois voltei, sentei no tapete, encarei-o como se fosse um animal enjaulado.Talvez fosse.Um animal que, se solto, dilaceraria o pouco de equilíbrio que ainda me restava.Tentei ignorá-lo. Fiz café. Tomei banho. Vesti o moletom mais confortável que encontrei. Mas o envelope estava ali, como uma sombra viva, como um sussurro constante me chamando.“Abra. Descubra.”Quando finalmente decidi rasgá-lo, minhas mãos estavam geladas.Dentro havia fotos.Fotos de Dylan.Conversando com homens engravatados. Entrando e saindo de um edifício da Northmoor. Um deles era claramente associado a Alexander.E havia mais. Documentos copiados, e-mails impressos.Um deles me fez perder o ar."Ela é um recurso instável. Mas se nos der acesso à conta de transição do pai, tudo valerá a pena."Assinado: D. HarperMinhas mãos tremiam. A frase parecia um soco direto no estômago.Recurso
POV: EmilyAcordei com a sensação de que não deveria ter acordado ali.O quarto estava na penumbra. Cortinas pesadas filtravam a luz da manhã, e o cheiro inconfundível de Alexander — uma mistura de madeira, tabaco e desejo — impregnava os lençóis, minha pele, o ar.Eu estava nua.Coberta apenas pelo lençol amassado e pelos pecados da noite passada.Lentamente, voltei à realidade.Os toques dele ainda estavam na minha pele, como tatuagens invisíveis. Seus beijos... seu corpo contra o meu... as palavras roucas que ele murmurava enquanto eu me rendia, uma vez mais, ao que jurava não querer.Mas era mentira.Querer Alexander era como respirar.Instintivo. Doloroso. Necessário.Virei o rosto no travesseiro, tentando afastar os pensamentos. Mas eles vinham como ondas, esmagando tudo.A forma como ele me olhou antes de me despir.O modo como seus olhos varreram meu corpo, como se nunca tivessem me esquecido.E eu…Eu implorei.Sem palavras.Com o corpo. Com os gemidos abafados. Com as unhas
POV: EmilyA cidade parecia mais fria naquela manhã.Ou talvez fosse eu.Caminhei pela calçada estreita, com o casaco fechado até o pescoço, mesmo que o frio não estivesse tão severo. Era uma armadura. Frágil, simbólica. Mas naquele momento, era o que eu tinha.Desde que saí do apartamento de Alexander, me senti como uma peça solta num quebra-cabeça que ninguém queria terminar. A lembrança da noite passada ardia sob minha pele. As palavras de Dylan ecoavam com a força de uma bofetada.E eu?Eu apenas sobrevivia.Minha mente me torturava com memórias que se atropelavam:— As mãos de Alexander em meu corpo, possessivas, famintas.— O olhar de Dylan quando me viu vestida com a camiseta do outro.— As cartas. As mentiras. O sexo. A verdade.Era demais.Até para alguém como eu, acostumada a engolir a dor calada.Voltei para o meu apartamento depois de caminhar por horas. As ruas estavam mais vivas do que eu. Pessoas riam, carros buzinavam, a vida pulsava. Mas dentro de mim, havia apenas ru