POV: Julian Dizem que o tempo cura tudo. Mentira. O tempo apenas afasta o sangue da superfície, empurrando a dor para lugares mais escuros, mais profundos, até que ela se torne útil. Eu aprendi a usar a dor como moeda. E Alexander me ensinou isso da forma mais cruel possível. Observo a fotografia em cima da mesa. Emily, sentada à beira do lago, as pernas cruzadas, o olhar perdido no horizonte. Frágil. Sozinha. Exatamente como eu queria que estivesse. Viktor havia feito um bom trabalho. Discreto. Paciente. Mortal. —Ela ainda hesita — diz ele, enquanto se encosta na parede do quarto de hotel. —Mas o peso da dúvida já a consome. Não durará muito. —Ótimo — respondo, girando o copo de uísque em minha mão. —Não precisamos que ela nos ame. Só que desconfie dele. —E Noah? —Um fantoche. Útil, por ora. O papel de porto seguro é uma armadilha clássica. Mas eficaz. Alexander sempre teve um gosto destrutivo. Não sabe cultivar, só sabe possuir. E quando alguém como ele ama
POV: Emily Era estranho como o silêncio podia ser tão barulhento quando se está tentando esquecer alguém. Noah me observava do outro lado da sala, as mãos nos bolsos, o olhar calmo. Ele sempre parecia saber quando eu estava me desfazendo por dentro, mesmo que eu sorrisse ou disfarçasse. Eu estava cansada de fingir. Cansada de resistir. Cansada de sentir Alexander em cada batida do meu coração, mesmo quando ele não estava ali. —Você está distante hoje — Noah disse, caminhando até mim, a voz baixa, gentil. —Só estou cansada — menti, porque a verdade doía demais. A verdade era que eu ainda sentia o cheiro de Alexander na minha pele, mesmo meses depois. Ainda escutava a forma como ele dizia meu nome, com raiva, desejo, desespero. Mas eu queria esquecê-lo. Precisava. E ali estava Noah: estável, doce, presente. O oposto de tudo que Alexander era. Ele parou diante de mim e tocou meu rosto com uma delicadeza que me quebrou. Seus dedos roçaram minha bochecha como se eu fosse feita d
POV: AlexanderNão era só o silêncio que me incomodava.Era a ausência dela.A falta de sua voz, seus passos, sua respiração ao meu lado. A ausência de tudo que se tornou indispensável.Emily.Mesmo tentando, eu não conseguia arrancá-la de mim.Passei os últimos dias enterrado em relatórios, reuniões e tentativas patéticas de convencimento de que o tempo curaria o que ela deixou. Mas não curou.Pelo contrário.Tudo que ela tocou em mim continuava aceso.E agora... agora havia algo pior.O silêncio dela estava diferente.Denso. Distante.Como se alguém estivesse ocupando o espaço que deveria ser meu.Entrei em meu apartamento e joguei as chaves no balcão.Liguei a tela do celular e a foto que tirei dela — sem que percebesse — ainda era o plano de fundo.Emily deitada na minha cama, os cabelos bagunçados, um sorriso sonolento nos lábios.Inferno.Era tortura.Peguei o copo de uísque com raiva. A bebida desceu queimando, mas não mais do que o ciúme que fervia no meu estômago.Eu sabia qu
POV: EmilyQuando abri a porta e vi Alexander ali, parado como se nunca tivesse ido embora, meu coração parou por um instante.Era como se todo o ar tivesse desaparecido do ambiente.Ele usava aquela camisa preta. A que eu gostava. A que eu odiava agora, porque me fazia lembrar do quanto ele era perigoso para mim.E mesmo assim, deixei que entrasse.O apartamento parecia pequeno demais com ele ali.Ou talvez fosse o peso da lembrança de tudo que vivemos.Ele caminhava devagar, olhando em volta como se procurasse vestígios de si mesmo no lugar. E havia.Nos cantos da minha memória.Nos suspiros que engoli nos últimos dias.—Você está bem? — ele perguntou, com a voz grave, mas baixa.Quase... gentil.Quase.—Você não pode simplesmente aparecer assim — murmurei, mantendo distância. —Não depois de tudo.—Eu precisava te ver.Aquela frase deveria me deixar furiosa.Mas me desmontou.—Alexander... — comecei, passando as mãos pelos cabelos, nervosa. —Você não tem esse direito.—E Noah tem?A
POV: NoahEu sempre fui bom em ler pessoas. Faz parte da minha natureza. Talvez por isso, quando Emily me recebeu com aquele sorriso contido naquela noite, eu soube na hora: havia algo errado.Era como se ela estivesse tentando manter uma aparência de normalidade. Mas seus olhos — ah, os olhos dela — diziam outra coisa.Dor.Culpa.E medo.—Tá tudo bem? — perguntei, me inclinando para beijá-la.Ela hesitou um segundo antes de retribuir. Só um segundo, mas foi o suficiente para meu estômago se revirar.—Claro — respondeu, dando um sorriso forçado. —Só estou cansada.Cansada.A desculpa favorita dos que estão tentando esconder algo.Entrei em seu apartamento e fechei a porta atrás de mim. A sala estava diferente. Não bagunçada, mas... desalinhada. Como se alguém tivesse estado ali e ela tivesse tentado arrumar às pressas.Meus olhos vasculharam o ambiente automaticamente. E foi então que notei.Um copo na mesa de centro.Vazio. Mas não era o dela. Era maior, mais pesado, como os que cos
POV: EmilyO som da porta batendo ainda ecoava nos meus ouvidos.Noah tinha ido embora.E, com ele, a única certeza que eu ainda tinha nesse caos emocional.Eu me sentei no chão da sala, abraçando os joelhos. A taça de vinho continuava intocada na mesa de centro, ao lado do copo que Alexander usara. Eu deveria tê-lo jogado fora, escondido qualquer rastro... mas não consegui.Parte de mim queria que Noah descobrisse.Porque parte de mim estava cansada de mentir.A dor era real. Pulsava no peito como uma ferida aberta. Mas o que mais doía era saber que eu a tinha causado.Noah não merecia aquilo.Ele merecia uma mulher inteira.E tudo o que eu conseguia ser era um campo de batalha entre o passado e o presente.Me levantei cambaleando e fui até o banheiro. Me encarei no espelho.Cabelos bagunçados. Olhos vermelhos.Marcas no pescoço que nem tentei esconder direito.Marcas dele.Alexander.Eu me odeio por ceder. Por deixá-lo me tocar como se ele ainda fosse dono de mim.Porque, no fundo,
POV: DylanTem gente que acha que o silêncio é seguro.Mas o silêncio... ele fala. Grita. Revela.Principalmente quando você sabe ouvir.E eu sempre soube.Observei da janela do escritório enquanto o carro de Alexander sumia no fim da rua. O mesmo carro que, horas antes, eu tinha visto estacionado em frente ao prédio da Emily.Sabia que não era coincidência.Nada envolvendo Alexander é.A verdade é que há semanas eu venho observando tudo. Emily, Noah... e principalmente ele.Não porque sou um santo.Mas porque, no fundo, sempre desconfiei que havia um jogo maior acontecendo.E eu odeio perder — até quando ainda nem sei as regras.—Você está obcecado — ouvi a voz de Sofia atrás de mim.Me virei. Ela estava encostada na porta, os braços cruzados, aquele sorriso irônico que me tirava do sério e me atraía ao mesmo tempo.—Só estou atento — rebati.—"Atento"? — ela riu. —Você anda seguindo seu próprio tio. Isso já ultrapassou a linha do razoável faz tempo.Sofia era o tipo de mulher que vo
POV: EmilyEu ainda sentia o cheiro dele.Era como se Alexander tivesse deixado uma marca invisível no meu apartamento, nas paredes, nos lençóis... em mim.Mas não era só o cheiro. Era o peso.O peso do que ele disse. O jeito como me olhou. O modo como tocou meu rosto como se fosse dele.Como se ainda fosse dele.Eu queria gritar.Queria arrancar de mim tudo o que me fazia hesitar entre o passado e o presente.Noah era o presente. Doce. Gentil. Estável.Mas Alexander era... a ruína que sempre me atraiu.Peguei o celular, os dedos tremendo. Mandei a mensagem para Dylan antes que perdesse a coragem."Você estava certo. Ele voltou. Eu me perdi de novo."E logo depois, me odiei por isso.Porque no fundo, o que eu esperava? Um salvador?Talvez fosse isso mesmo que eu buscava — alguém que me arrancasse da minha própria escuridão. E Dylan... ele sempre esteve lá, observando. Sem julgamentos. Sem máscaras.Menos de meia hora depois, ouvi a campainha.Ele estava ali. Rápido demais. Como se já