DylanDescobrir que o homem que você cresceu desprezando é, na verdade, seu pai... não é algo que você simplesmente supera com uma garrafa de uísque e uma noite mal dormida.Eu passei dois dias trancado no apartamento, tentando colocar os pensamentos em ordem, mas cada vez que fechava os olhos, era o rosto da Emily que surgia. E, logo atrás, a sombra dele.Alexander.O nome que antes evocava desdém agora me queimava como ácido. Eu o odiava. Odiava por ter se envolvido com ela, por ter invadido o que era meu... Mas, acima de tudo, odiava por ter sido mais verdadeiro do que qualquer outra pessoa na minha vida.Meu pai — Thomas — sempre foi o homem das aparências. O político promissor, o marido perfeito, o pai que exigia excelência. Mas agora eu sabia que tudo isso era fachada. Ele me criou sobre uma mentira.E Alexander... aquele homem frio, enigmático, que eu só via em reuniões de família ou escândalos abafados... ele era o meu pai de verdade.—Filho da puta — murmurei, olhando meu ref
SofiaEu sempre observei mais do que falei.Era mais fácil assim. As palavras nos comprometem. Os olhares, não. Eles deslizam entre os cômodos como sombras, carregando verdades que ninguém ousa dizer em voz alta. E, naquele apartamento pequeno de Boston, cercada por garrafas de vinho barato e silêncios pesados, eu assistia Emily se despedaçar, pedaço por pedaço.Ela tentava fingir que estava bem.Trabalhava, estudava, ria dos meus comentários ácidos. Mas bastava um segundo de distração para a verdade escorregar pelos olhos dela — aquela tristeza profunda, discreta, que só quem já sentiu reconhece.E eu já senti.Conheci Emily na faculdade, no segundo ano. Ela era aquele tipo de garota que parecia ter nascido para agradar: doce, inteligente, insegura de um jeito charmoso. Tão diferente de mim. Talvez por isso nos aproximamos. Talvez porque eu sabia que, cedo ou tarde, ela cairia. E eu estaria lá pra segurar — ou pra dizer “eu te avisei” com uma taça na mão.Mas dessa vez era diferente.
AlexanderO silêncio dela é mais cruel do que qualquer grito que eu já tenha suportado.Desde que Emily foi embora, meu mundo retomou o formato que sempre conheci: rígido, previsível, e miseravelmente solitário. Mas agora há uma diferença sutil — e devastadora. Antes, a solidão era minha escolha. Agora, ela me foi imposta.Tentei encontrar rastros.Liguei. Mandei mensagens. Falei com Sofia, que se limitou a me dizer que Emily precisava de tempo. Que precisava "respirar". Eu não disse o que pensei: que sem ela, quem estava sufocando era eu.Ela levou algo de mim quando partiu.Algo que nem eu sabia que existia.No escritório, nada fazia sentido. Assinava contratos com a mente em outro lugar. Meus sócios começaram a notar minha ausência mental. Um deles — Julian, um advogado novo com sede de poder — sugeriu que eu tirasse uma licença.—O senhor está... diferente. Instável — ele ousou dizer.Instável. Como se o controle que mantive durante anos estivesse escorrendo pelas rachaduras do me
EmilyTrês meses.Era isso que o calendário marcava desde o dia em que fui embora sem olhar para trás. Três meses em que aprendi a respirar sem o cheiro dele, a dormir sem o peso do seu nome nos meus sonhos.Mas esquecer... esquecer é outra coisa.Me instalei numa cidade pequena no interior de Vermont. Nada de prédios altos ou ruas movimentadas. Só campos, uma biblioteca antiga e o som das folhas arrastadas pelo vento. Era exatamente o que eu precisava: anonimato, paz, reconstrução.Encontrei trabalho como assistente numa pequena livraria chamada “Northern Words”. A dona, uma senhora de sessenta e poucos anos chamada Margot, me contratou após dez minutos de conversa. Ela nem perguntou sobre meu passado. Apenas olhou nos meus olhos e disse:—Alguém com esse olhar precisa estar entre livros. Eles sabem guardar segredos.Durante as primeiras semanas, minha rotina era simples. Acordava cedo, caminhava até a livraria, organizava os livros, limpava prateleiras, lia durante as tardes silenci
AlexanderEla escreveu.Depois de meses de silêncio, de noites vazias e tentativas frustradas de fingir que não doía, ela finalmente escreveu. Suas palavras chegaram em uma manhã nublada, escondidas entre contas e documentos judiciais. Reconheci a caligrafia antes mesmo de abrir o envelope.O mundo parou quando li seu nome assinado com um simples “E.”.Cada linha era um sussurro do que fomos. Uma promessa contida. Uma dor que ainda latejava.“Talvez eu volte.”Quatro palavras. Quatro malditas palavras que incendiaram tudo dentro de mim.Larguei tudo naquele instante.Abandonei a reunião, ignorei as mensagens de Camille, mandei Julian para o inferno com sua intimação ridícula. Peguei as chaves do carro, dirigi sem rumo por horas. Precisava de ar, de espaço, de algo que me impedisse de correr atrás dela como um homem desesperado.Porque era isso que eu era.Desesperado.Nos últimos meses, Camille tem tentado me manter sob controle. Usando sua influência nos bastidores, seus contatos duv
NoahDesde o primeiro instante, eu soube que havia algo quebrado nela.Era como observar uma peça de arte antiga — bela, mas cheia de rachaduras invisíveis. Emily tinha esse jeito de sorrir com os olhos tristes, de se perder em pensamentos quando o mundo estava calmo demais. Nunca disse tudo, e talvez tenha sido isso que mais me atraiu: o mistério, o silêncio, a dor velada que eu quis curar.Mas há feridas que não se curam com presença.Há fantasmas que nem mesmo o amor espanta.E o fantasma dela tinha nome.Alexander.Nos três meses em que estivemos juntos, Emily nunca disse seu nome. Mas havia sempre uma sombra, uma ausência. Às vezes, ela acordava à noite, ofegante, olhando ao redor como se tivesse fugido de um pesadelo. Outras vezes, durante um beijo, seus olhos se perdiam por segundos longos demais.No começo, eu achei que era só trauma.Depois percebi que era amor.Distorcido. Ferido. Mas ainda presente.Mesmo assim, eu me permiti tentar.Eu a amava.Não da forma possessiva, int
EmilyTentei evitar abrir a carta por dois dias.Ela ficou ali, guardada na primeira gaveta da minha escrivaninha, como uma bomba silenciosa pronta para explodir. Eu a carregava dentro do peito mesmo antes de rasgar o envelope. Sabia que o conteúdo não apagaria a dor, mas talvez reacendesse uma parte de mim que eu vinha tentando enterrar.Na terceira noite, cedi.Apaguei as luzes, sentei-me no chão do quarto e a li sob a luz suave do abajur."Emily,Talvez eu não mereça te pedir isso. Mas preciso que saiba: continuo aqui. Esperando. Lutando.Se decidir voltar, não encontrará o mesmo homem.Encontrará um homem disposto a reconstruir o que destruiu.A."Minhas mãos tremiam. Meus olhos ardiam. E meu coração... meu coração era uma caixa de vidro trincada por dentro.Alexander nunca foi apenas um amante. Ele foi minha ruína, minha vertigem, meu vício mais puro. Fugir dele não significava só me libertar de um relacionamento perigoso. Significava tentar reaprender quem eu era sem ele.Mas e
POV: Julian Dizem que o tempo cura tudo. Mentira. O tempo apenas afasta o sangue da superfície, empurrando a dor para lugares mais escuros, mais profundos, até que ela se torne útil. Eu aprendi a usar a dor como moeda. E Alexander me ensinou isso da forma mais cruel possível. Observo a fotografia em cima da mesa. Emily, sentada à beira do lago, as pernas cruzadas, o olhar perdido no horizonte. Frágil. Sozinha. Exatamente como eu queria que estivesse. Viktor havia feito um bom trabalho. Discreto. Paciente. Mortal. —Ela ainda hesita — diz ele, enquanto se encosta na parede do quarto de hotel. —Mas o peso da dúvida já a consome. Não durará muito. —Ótimo — respondo, girando o copo de uísque em minha mão. —Não precisamos que ela nos ame. Só que desconfie dele. —E Noah? —Um fantoche. Útil, por ora. O papel de porto seguro é uma armadilha clássica. Mas eficaz. Alexander sempre teve um gosto destrutivo. Não sabe cultivar, só sabe possuir. E quando alguém como ele ama