O noivo prometido
Capítulo 3 Paul Evans - Como assim seu pai quer que você se case com a herdeira da família Smith?! -Bernardo, meu primo, melhor amigo e advogado, me perguntou assim que cheguei ao clube de tiro. Eu já havia mandado uma mensagem falando sobre o que estava acontecendo entre mim e a minha família depois daquele fatídico jantar. O mesmo em que foi anunciado que eu teria que me casar com Catarina Smith, uma mulher que não era o amor da minha vida. Catarina não era a Tereza. - É isso mesmo que você está ouvindo, meu amigo, terei que me casar para ajudar a minha família a sair da falência. - As palavras saíram amargas da minha boca. Nunca passou pela minha cabeça que a empresa tivesse chegado a tal estado. Ou ele casa a minha irmã se quinze anos com um velho asqueroso. - Bernardo me olha espantado. - Como uma empresa do porte da sua, pode chegar a esse ponto? - Bernardo perguntou, e eu tinha a resposta na ponta da língua. - Como seu pai pode ser tão sujo ao ponto de casar uma menina? - Meu avô, antes de morrer, deixou a empresa brigando de igual para igual com a da família Smith. Fomos concorrentes diretos por longos anos a fio. No entanto, a realidade agora é outra: estamos endividados, segundo o meu pai. Precisamos de um casamento para reerguer o legado da família. Agora sobre ele ser um desgraçado, isso não tenho respostas. Meu pai, com suas poucas ideias e sua forma de pensar arcaica, nos levou a esse estado lamentável. Os modelos dos carros de luxo não foram renovados há anos, e não estávamos nem no top dez de marcas automotivas de luxo. Não éramos procurados pelas famílias mais ricas da cidade. Como manter um legado desse jeito? Não tínhamos nem a oferta, muito menos a procura. - Ele quer me vender para aquela família, Bernardo. Você tinha que ver o jantar que ele montou para comemorar o negócio como se fosse certo. Não é a primeira vez que meu pai me empurra para aquela garota que nunca foi parte de qualquer pensamento meu. -Bernardo arrumou o pente da sua arma. - Ele age como se eu fosse aceitar essa loucura sem questionar nada, sem me sentir um m*rda. Como ele não vê nada de errado em me casar com uma mulher que não amo? - Digo revoltado, e atiro no alvo. - Como ele quer que eu aceite um casamento só para fazer riqueza e resolver um problema que ele mesmo criou? - Amigo, que loucura é essa...- Bernardo finalmente falou. - Não fazia ideia de que seu pai estava desesperado a esse ponto. -Ele me disse sério e preocupado. -Nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de ele querer te obrigar a casar depois de tudo o que aconteceu no seu passado... -Olho para o nada quando Bernardo toca no assunto. Ele tentou me ajudar na época em que a minha paixão de adolescência chorava copiosamente, esperando que eu a defendesse pelos insultos do meu próprio pai, mas eu nada fiz. Bernardo é que teve que ajudar a menina, que deve me odiar até hoje. Eu dizia que a amava, mas não fui homem para a proteger. - Nem me lembre disso, porque a minha vontade é chorar de raiva e decepção! -Meus movimentos ficaram mais rígidos pela raiva. - Que tipo de homem é tão omisso a esse ponto? - Pergunto, vendo o meu próximo alvo. - Agora terei que me casar com alguém que deve me achar um fracassado... - Atiro no próximo alvo até descarregar a arma. Eu era bom no tiro, mas com raiva, eu era imbatível. - Pense bem, Paul. - Ele disse, encostando-se na parede. - Você vai ter que se casar com a garota, mas olhe pelo lado bom. Catarina é uma mulher maravilhosa, Paul. Esperta, inteligente e muito bonita... - Bernardo continuou, conhecendo a minha futura noiva melhor que eu. Suspirei frustrado. - Catarina não é a Tereza, Bernardo. Mas tenho que salvar a minha irmã. - Na minha opinião, se amasse mesmo a Tereza, teria ido atrás dela. - Olhei com raiva para ele. - Teria ido atrás, lutado por ela, teria feito de tudo para manter seu grande amor ao seu lado. - Palavras duras... - Digo com gosto de fel na boca. - Palavras necessárias, você sabe disso. Ambos eram jovens, imaturos e não tinham condições de ficarem juntos. No entanto, você abriu mão, e vai sofrer até quando? Tereza nunca mais foi vista, ela vive a vida dela sem você, e, sinceramente, você deveria fazer o mesmo. - O que eu faço com a culpa? - Pergunto, sendo sincero. - Engole com água, meu amigo, porque sua família precisava de você. Tem que amadurecer, Paul. Tomar as rédeas da sua própria vida. - Acha mesmo que não vou me livrar dessa situação, amigo?” Pergunto, lembrando da pequena Catarina que todos amavam e admiravam, mas meus olhos eram somente da Tereza. - Se você se livrar, sua família sucumbe à pobreza. É uma escolha difícil, mas é a única que você tem no momento. - Somente eu sei o que aconteceu naquela fatídica noite, Bernardo - Digo, me sentindo ainda mais frustrado. - E vai viver como mártir o resto da vida? Então não se casa com a menina Catarina. Pelo menos vai ter um propósito para tal sacrifício. - O tom de desgosto era visível. - Se fosse fácil... – Bernardo estava impaciente com a minha conduta. - E como vai se casar com ela? Se tem mágoas, porque vai se casar? Vai viver infeliz ao lado dela? - E como eu vou negar o casamento e deixar a minha família sem teto? Não posso fazer isso... - Bernardo esvazia o pente de balas no alvo. - Seu pai te deixou sem saída... - Concordo. – Então, te aconselho a parar de se lamentar, usar esse casamento como seu bote salva vidas e procurar no futuro, se livrar dele. Assim, quando estiver forte financeiramente, você pode pedir o divorcio e deixar Catarina achar alguém que possa amar ela de verdade. – Suas palavras cruas e realistas me deixam animado. – Seu pai sabe que eu nunca iria concordar com esse casamento, ele está usando a falência eminente para te obrigar a viver com uma mulher que não deseja. Então meu amigo, tire vantagens, cresce financeiramente, faça a sua própria empresa. Realize o seu sonho, mesmo que seja às custas de algo que já está quebrado. Não ame Catarina, para que a sua saída seja breve. Quem sabe no futuro você consiga rever Tereza e consiga o seu perdão? - Não vou amar ela, seria uma grande traição com a mulher que eu jurei amar para sempre. - Então não se envolva, faça seu plano, sua vida, mantenha o casamento, mas sem envolvimento emocional. – Diz por fim. - É muita canalhice, mas é melhor prometer algo que nunca vou conseguir cumprir. – Ele concorda. – Voltando a sua noiva, ela sempre foi um partido e tanto meu amigo, possa ser que seja uma oportunidade única para você tirar Tereza da cabeça e tentar ser feliz de fato. – Olho para o meu amigo achando que ele deve acreditar em fadas também. – Ou vai pelo caminho que eu te falei, a escolha é sua. - Ah, Bernardo, não presto para essas coisas de amor, não cara, eu somente não queria ser obrigado há mais uma vez fazer o que não desejo. – Digo jogando a pistola vazia na mesa. - Será que ninguém entende o que eu sinto? - Eu entendo, mas você sabe que a saúde da sua irmã e sua mãe não merecem isso. E se vocês perderem seu patrimônio, provavelmente as mulheres da família vão sucumbir ao caos que seu pai impôs a todos vocês. – Bernardo pensa um pouco. – Se você não se casar, provavelmente Carla que será jogada nos braços de algum doido, já pensou nisso? Seu pai e meu pai não têm muita moral, Paul. São farinhas do mesmo saco! Eles não vão medir esforços para não perder tudo que já tem. Vamos para uma área coberta que serve bebidas. - Meu pai também já jogou isso na minha cara depois que eu me neguei a me casar com Catarina... – Balanço o cubo de gelo em meu copo. – Meu problema não é a Catarina, Bernardo, o problema é que eu sou quebrado demais para fazer essa menina feliz, me entende? – Pergunto sério para ele. - Como eu vou fazer alguém feliz, se eu mesmo não sei ser feliz? – Bernardo suspira. - Eu te entendo, pois somos farinha do mesmo saco, tudo que você passou, eu também passei em minha casa e decidi ser deserdado por esse motivo. Era eu sair daquele lugar ou enlouquecer com os meus pais loucos e narcisistas. – Bernardo tinha um passado bem pior que o meu, mas está catando os seus caquinhos e se reerguendo. - Queria ter a coragem que você tem, pegar a minha mala e ir para o outro lado do mundo somente para ter um pouco de paz! – Digo vendo que estava sem saída. - Agora eu vou fazer a pergunta que não quer calar, não vai desistir, vai? - Pelo jeito não... – Bebo a minha bebida. – Não posso. - Sabe que estou aqui com você, não sabe? – Olho para ele. - Claro amigo, eu sei... – Continuamos beber em silêncio. A partida da Tereza foi a pior decisão que eu tomei toda minha vida, agora não consigo seguir em frente, não consigo me relacionar com outras pessoas... É tudo complicado demais. Ainda tinha Catarina nessa história, se eu me casasse com ela, certo que não seríamos felizes. Não quando eu estiver pensando que estou traindo Tereza. Sinto meu celular tocar, quem seria essa hora da noite? - Quem é? – Bernardo pergunta. - Minha mãe. – Mostrou e saiu de perto. - Fala mãe? - Atendi com o tom de voz demasiadamente seco do que queria, mas não conseguia fingir ser outra pessoa com a minha mãe. Ainda estava zangado com a minha família que me colocou em um beco sem saída. - Seu pai marcou um jantar com a família Smith, temos que comparecer. – Fico mudo. – Sabe que nosso futuro depende desse casamento, Paul. - Vocês não me deixam esquecer... – Digo bem irritado. - Paul, se você não se casar, quem vai ter que se casar é a Carla. Sabe que nunca te pediria isso, mas ela acabou de completar dezoito anos, é uma menina ainda... – Engulo em seco. – Já pensou o que ela pode passar nas mãos de um homem mais velho e que não há ama? – Fico calado. – Você é o irmão mais velho, não queria nem estar lhe pedindo isso, mas por favor, proteja a minha menina. – Suspiro frustrado. - Eu vou jantar, mãe. Não chore por favor... – Ouço seus soluços e me sinto um crápula. - Obrigada meu filho, desculpa te dar tanto trabalho. - Não por isso, me manda o horário e endereço, estarei lá. - Obrigada Paul. – Desligo me sentindo um canalha que vai magoar alguém nesse processo, mas as peças estão todas contra mim nesse momento.