Capítulo 4 Amor platônico

Capítulo 4

Catarina Smith

Uma semana após a proposta de casamento...

— Você tem certeza disso? Depois que assinar este contrato, não tem mais volta, Catarina. Não terá como fugir da nossa sociedade… — Lila estava ansiosa, de pé na minha frente, esperando minha decisão.

— Vamos ser sócias para sempre! Não há nada que me tire da sua vida. Vamos estar mais unidas do que nunca.

Ela revirou os olhos. Lila era minha melhor amiga desde sempre. Era aquele tipo de amizade em que uma seria madrinha de casamento e dos filhos da outra. Do estilo que até o ciclo menstrual é no mesmo período, e que sabemos o que a outra está pensando sem precisar falar. Para demonstrar o tamanho da nossa irmandade, Lila praticamente era minha cúmplice em tudo; ela sabia cada um dos meus segredos, e eu os dela.

— Sabe que eu nunca voltaria atrás, não sabe? — Ela me olhou com aquele medo disfarçado.

Sendo que eu já tinha falado que não iria voltar atrás... Eu queria ser dona da minha marca de roupas, e eu seria. Nada iria me desviar desse foco, nada!

Lila estava com medo, afinal, essa sociedade era muito importante para ela. Minha amiga também queria seu recomeço, ela queria se livrar da sua madrasta.

— Para de bobeira. Já te disse que não vou voltar atrás, quero isso mais que tudo. Vou realizar o nosso sonho de qualquer maneira. — Falei séria. Não era possível que ela ainda duvidasse de mim.

Estávamos no nosso provável ateliê. Tudo dependeria da minha assinatura para comprar aquele pequeno prédio que seria o nosso ponto de partida. O corretor que tinha conseguido o lugar me olhou com uma expectativa quase sufocante.

Era um prédio que estava no mercado há algum tempo, mesmo sendo uma construção considerada mais nova. Como ficava em um lugar onde grandes empresas trabalhavam, ninguém se interessou pelo lugar, pois ele não comportava uma grande empresa, mas era grande demais para uma pequena empresa. Aliás, nada havia de errado com o prédio, ele era apenas pequeno para os outros e perfeito para nós.

— Sabem que este lugar é pequeno, mas é exatamente perfeito para o negócio de vocês. — O corretor falou, obviamente, não querendo perder a venda.

— Vamos assinar antes que vocês achem que eu não quero mais o prédio... — Peguei o documento e assinei, vendo o sorriso bobo do corretor e de Lila. — Já está praticamente pago e não costumo voltar atrás com a minha palavra.

— Parabéns pelo novo edifício, senhoritas. Sei que logo vão me procurar para buscar um prédio maior, pois este vai ficar pequeno para os seus sonhos. — Senti sinceridade em suas palavras e agradeci os votos de prosperidade.

— Obrigada. Que Deus te ouça, porque este prédio não foi barato, não... — Acabamos rindo e o homem gordinho e simpático começou a arrumar suas coisas para ir embora.

Ele tinha ganhado uma bolada com a comissão de vendas.

— Certo, meninas, está tudo certo e espero ter notícias de vocês em breve... — O homem se foi, nos deixando com a chave do edifício e uma satisfação imensurável.

Eu e a Lila começamos a rodar no lugar. Era a realização de um sonho. Finalmente montaremos nosso ateliê. Máquinas, mesas, vida... Seriam colocados aqui. Logo teríamos tudo que desejávamos.

Não estava acreditando que isso era real. Nós finalmente iríamos ter nosso próprio negócio e crescermos em nosso ramo. O sonho de duas meninas estava se concretizando.

— Olha o que eu trouxe... — Lila tirou um champanhe da bolsa e eu quase caí para trás de tanto rir.

Só a minha amiga para ter um champanhe com duas taças dentro da bolsa. Eu não sabia como ainda me surpreendia com ela, Lila era demais.

— Lila, você é inacreditável... — Ela abriu o champanhe e o barulho da rolha estourando ecoou por todo o lugar.

Nos sentamos no meio do ateliê e olhamos para as paredes brancas, o chão ainda sujo e o local todo vazio que continha todas as minhas economias e as de Lila.

— Não acredito que estamos mesmo dando vida aos nossos sonhos... — Eu disse, bebendo champanhe e pensando nos próximos passos a partir dali.

— Eu não acredito que você ainda tenha dúvidas da sua capacidade de ser maravilhosa em desenhar roupas estilosas, contemporâneas e cheias de bom gosto. O estilista da França está louco para te conhecer, ele amou o nosso trabalho. Vamos longe, Catarina, o céu é o nosso limite. Você sabe o que isso significa, não sabe? — Lila me perguntou toda boba. — Logo estaremos nos maiores desfiles espalhados pelo mundo, amiga.

Ela fez a negociação com tal empresário. O mesmo veio a Nova York somente para conhecer a advogada da nossa empresa que nem tinha saído do papel.

— Eu sei, mas temos que ir com calma, amiga. Não temos nem maquinário ainda e você já quer que eu faça um projeto dessa magnitude... — Suspirei, frustrada. — Sabe que esse é o nosso segredo, não sei se meu marido vai aceitar essa história de estilista.

— Credo! Você vai se casar mesmo? - Era tão difícil assim acreditar nisso?

— Há grandes chances de sim, porque não é algo que eu possa fugir por muito tempo. — Falei de forma evasiva. — Eu realmente preciso resolver essa situação. Preciso focar mais no nosso trabalho, e para isso preciso casar... ou não. A questão é que se não for a pessoa que meu pai escolheu agora, vai ser outro futuramente, infelizmente na minha família, temos que nos casar para proteger o legado.

Lila concordou comigo. Ela sabia que eu tinha razão. Além disso, estávamos começando um empreendimento, não podíamos ir com muita sede ao pote.

— Amiga, olha como as coisas são: você sempre teve um amor platônico por Paul, vivia babando por ele pelos corredores da faculdade e sempre dava um jeito de ter as mesmas aulas que ele. Agora, anos depois, vocês têm uma oportunidade real de se tornarem marido e mulher! — Lila disse, fazendo cócegas em mim.

- Não exagera, eu somente era curiosa em relação há ele, nada demais. - Digo totalmente sem graça. - Agora em relação ao casamento, não sei, nunca mais vi Paul sem ser em eventos da alta sociedade e sempre quando ele me via, se mantinha distante... – Suspiro não querendo demonstrar que tenho medo dessa história. – Você sabe que ele teve vários casos na faculdade, mas nunca anunciou nenhuma namorada, e agora do nada nossos pais resolvem nos casar? No mínimo essa situação é estranha... - Ainda queria conversar com ele pessoalmente e sem intermediários.

Lila me olha com aquele olhar que sabe demais.

- Ele tinha um amor proibido como a empregada da família... - Olho para ela. - Estou te contando agora porque na época, não deu em nada, você já sofria pela distância dele. Então porque falar, não é mesmo?

- Como assim ele era apaixonado por uma empregada? - Lila suspira.

- Os empregados da minha família, sempre ficam comentando e fofocando sobre os patrões. Elas me contaram que foi um verdadeiro escândalo no dia que o Senhor Evans descobriu que o seu filho estava tendo um caso com a empregada. - Eu coloco as duas mãos na boca assustada.

- Deus... - Eu somente consigo falar isso.

- Amiga, Paul era perdidamente apaixonado por essa garota, as empregadas diziam que ele fugia toda noite para o quarto dela. - Fecho os olhos pensando como ele deve ter ficado depois de ter perdido o grande amor.

- Se ele era tão apaixonado, Por que ele não lutou pelo amor dela? Como ele deixou o seu próprio pai expulsar a sua paixão? - Lila dá de ombros.

- Catarina, vamos ser sinceras, sei que vai ser horrível que eu vou falar agora, mas a menina era empregada da família. Você melhor do que ninguém sabe como é preconceituosa nossa classe social. Somos herdeiras e nem podemos tomar as nossas próprias decisões sozinhas, imagina uma pessoa de classe inferior, que ameaça um ciclo de centrado de hierarquias. Nunca que o Senhor Evans iria permitir que seu filho primogênito fosse embora com a empregada da família. Paul também não correu atrás do seu grande amor, então, a menina foi exposta expulsa da casa da família Evans.

- Como ele ficou depois disso? Sabe que eu não procurei saber sobre ele, porque o mesmo nunca demonstrou sentir algo por mim. - Ela concorda.

- Ele ficou arrasado, mas teve que seguir em frente. E aposto que ele vai se casar contigo por causa do pai.

Rio sem humor, Era duro saber que ele só queria se casar comigo por causa do meu sobrenome. Paul nunca me veria como mulher, tenho quase certeza disso.

- Pelo seu silêncio, você está com medo de ser somente negócios? - Essa era uma pergunta válida.

- E não é válido a minha desconfiança? Paul nunca soube da minha existência, nos beijamos em uma noite de festa, e ele nunca veio brigar comigo ou ter me dito que se arrepende de ter abusado de mim. – Digo brava. - Agora eu descubro que ele era apaixonado por outra pessoa, e se ele ainda amar ela?

Eu sei que não foi bem assim, mas ainda me fere saber que ele nem cogitou em um momento da sua vida que me beijou na faculdade.

E não ajuda saber que ele já foi terrivelmente apaixonado por outra pessoa, será que essa mulher ainda existe?

- Quem abusou de alguém foi você, amiga! Ele é quem estava bêbado, você era quem tinha a voz da razão gritando para se afastar daquele Deus grego. – Lila diz bebendo a bebida pelo gargalo. - E muito pelo contrário foi você que foi lá e beijou o cara, ainda quer que ele lembre?

Sinto as minhas bochechas corarem...

- Você está ao lado de quem? - A fito na expectativa da sua resposta.

- Da minha amiga ser feliz e finalmente livre! - Ela diz daquele jeito exagerado que somente ela tem. - Olha a oportunidade que você está ganhando? Casada você pode pedir para trabalhar e Paul concorda, não vai ficar escondendo os seus projetos e seu dinheiro dos seus pais. – Ela estava certa. – Seu futuro marido não tem cara que vai se importar ou querer uma Amélia dentro de casa, Catarina. Paul não tem como te exigir que você fique em casa para fazer a janta, e tire seus sapatos quando chegar cansado do trabalho. Fora que ele não precisa de fato saber o que você faz... – Suspiro.

- Eu preciso conversar com ele, não posso continuar nessa situação... – Vejo meu celular tocar e era o número que não tinha salvo ainda.

Atendo, pois, tínhamos que voltar para casa e fazer todos os pedidos das maquinas de costura para nossa empresa, fora que tínhamos que comprar mesas, cadeiras, arrumar minha sala e arrumar a sala da Lila.

Eram muitos detalhes que precisavam ser pensados com calma e ser feitos com uma certa urgência, cada dia naquele prédio ficava fechado, era mais uma probabilidade de nós perdemos dinheiro.

- Alô? - Atendo me levantando e logo sento novamente com a voz que fala do outro lado da linha.

- Filha? – Era a minha mãe. – Estou organizando o jantar do seu noivado...

- Mas já? – Eu nem tinha dado a minha resposta.

- Seu pai está com pressa filha, a situação da outra família não é muito boa... – Passo a mão no cabelo. – Ele sabe que já se interessou por Paul...

Ninguém respeita mais o segredo da outra pessoa?

-MÃE! - Não queria me casar somente por causa de uma paixão.

- Desculpa filha, eu falei sem querer... - Suspiro.

- Meu pai acha que estou apaixonada por Paul? – O silêncio confirma tudo.

- Ele quer a sua felicidade, Catarina. Saber que um dia foi apaixonado pelo Paul somente deu a certeza ao seu pai que esse é o melhor caminho para você.

- Aí mãe... - Ela não me deixa falar.

- Venha para casa, você tem que se arrumar para o seu jantar de noivado. - Desliga.

- Droga!

- O que foi? - Lila para na minha frente.

- Meu pai sabe que um dia já fui apaixonada por Paul.

- Ah não...

- Agora ele vai querer que eu me case com Paul, as coisas somente pioram para aquela família. Ele quer fazer negócios, e acho o motivo para me obrigar a me casar com Paul.

Suspiro com a cabeça confusa, eu poderia estar casando com uma pessoa que ama uma mulher que nunca vai poder ter.

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