Capítulo 2 Casar?

Capítulo 2

Cinco anos atrás...

Catarina Smith

— O que o seu pai falou sobre a nossa ideia? — Lila me perguntou enquanto nos sentávamos para almoçar no clube. — Finalmente você teve coragem de falar com ele, não é mesmo? — Acabei rindo, nervosa.

Estávamos animadas para começar o nosso negócio. Eu e Lila, ou melhor, Eliane éramos melhores amigas e inseparáveis, e queríamos tirar nossa ideia do papel. Na faculdade, sempre estávamos juntas, e o nosso maior sonho era abrir um negócio próprio para fazer nossos sonhos se tornarem realidade, sem a interferência dos nossos pais.

Lila era uma mulher forte e decidida. Ela já tinha dito ao pai que iria trabalhar, ponto final. Já eu... bom, eu vivia em uma bolha criada pelo meu pai e meus irmãos. Não conseguia tomar uma decisão sozinha, nem sair para baladas sem ter um deles por perto. Ter um encontro, namorar...

Eu só não era uma “boca virgem” porque meu grande amor tinha me beijado sem querer, e eu ainda considerava aquele o melhor beijo da minha vida. Ele estava bêbado, era uma festa de calouros — a única que meus irmãos me deixaram ir, e a minha primeira experiência em festas de jovens. Naquela festa tão livre, meu caminho encontrou o de um dos homens mais lindos que eu já tinha visto. Ele era tão alegre, animado e cheio de vida... Eu nunca pensei que ele me olharia nos olhos e me beijaria.

— Alô, Catarina? Você ainda está aí? Deus, você vive no mundo da lua — ela disse, estalando os dedos na minha frente.

— Perdão, Lila... — me ajeitei na cadeira, perdida novamente no mundo da lua. — Não falei com ele. Você sabe que meu pai não gosta nem da ideia de ter uma filha trabalhando. Segundo ele, me criou para ser uma princesa, e princesas não trabalham, têm que ser amadas, cuidadas e ter tudo provido por seu rei ou príncipe. — Fiz careta ao pensar na minha casa como um castelo e em nós como membros da realeza.

— Seu pai ainda vai te casar com um grande idiota por causa dessas regras bobas que ele segue. Sua família realmente parece da realeza, pois somente na Idade Média existiam casamentos por acordo, iguais aos que seu pai prega e deseja fazer — Lila era totalmente contra casamentos baseados em contratos.

Eu já não conseguia ser assim. Sempre fui apaixonada pelo meu pai, sua boneca no meio dos brutamontes dos meus irmãos. A menininha dos olhos deles. Meus irmãos também eram apaixonados por mim, então era difícil dizer "não" para eles.

— Acho que ele nunca vai me casar, isso sim. Meu pai é muito ciumento, ele nunca confia em ninguém. Acredito que não há pessoa que vá estar à altura das expectativas dele... — Suspirei, frustrada. — Acho melhor fazer o que eu já tinha programado. Vamos montar a empresa às escondidas. A CEO será oculta, ninguém vai saber o nome, jamais! — Eu disse séria, e Lila balançou a cabeça.

— Você sabe que sou sua advogada, e isso é algo complicado. E se a sua empresa estourar no mundo da moda? Como você vai manter o anonimato?

— Eu sou inteligente, Lila. Quando fiz a faculdade de moda, ninguém levava fé em mim, achava que era um ato vazio. Meus pais achavam que era apenas um capricho, mas eu fiz duas faculdades em vez de uma. Sabe o quanto eu ralei para ser a melhor, e meu pai nem faz ideia... — Olhei para todos que se divertiam no clube. — Eu vou ter a minha marca. É algo que eu posso fazer. Aliás, sócias... nós podemos fazer.

— Então, sócia... está na hora de tirar do papel o seu primeiro projeto. Vamos vender e ver até onde a nossa empresa vai alcançar... — Lila pediu um champanhe para comemorar, e logo estávamos chamando a atenção do clube inteiro. Quem toma champanhe às dez da manhã de uma terça-feira?

Fiquei no clube por horas, resolvendo vários assuntos com Lila. Como ela disse, tínhamos que vender nosso primeiro projeto para ter capital de giro e começar a crescer. Foram horas e mais horas de conversa, e até fechamos o aluguel de uma sala no centro da cidade. Se dependesse de mim, logo estaria montando nosso primeiro prédio empresarial, fábrica e showroom. Iríamos fazendo de tudo para mostrar que não sou apenas uma princesinha do papai, que tenho visão de negócio, que posso ser uma marca grande.

Volto para casa animada.

— O que está acontecendo? — Mal estacionei o carro na porta da mansão e ouvi os berros dos meus irmãos e do meu pai.

— Ninguém vai me responder? — Minha mãe foi a primeira a vir na minha direção.

— Filha, que bom que você chegou... — Ela me abraçou. — Vamos deixar seus irmãos e seu pai discutirem algo da empresa. Nós duas não temos nada a ver com essa situação... — Minha mãe tentou me puxar, mas Caio soltou uma gargalhada amarga ao lado de Carlos, que tentava segurá-lo.

— Agora vocês vão tentar esconder isso dela também? Como pretendem casar a minha irmã sem que ela saiba? Ela tem que saber, certo? — Caio perguntou, irônico. — Ou você vai redigir um contrato e fazer ela assinar? — Meu irmão perguntou para o meu pai, que estava vermelho de raiva.

— Que tipo de pai você pensa que eu sou? Que tipo de monstro casaria a própria filha sem o consentimento dela? — Meus irmãos pararam e me olharam.

Minha cabeça só conseguia pensar em uma palavra, uma única palavra que tinha sido dita e que eu tinha certeza que se referia a mim.

Casamento.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

— Filha, eu queria falar com você com toda a calma do mundo, queria te explicar todos os prós e contras do que vou te propor. Não é nada obrigatório. Eu nunca te obrigaria a casar com ninguém! Você é a minha princesinha. Se estou querendo te propor isso, é porque é assim que os casamentos acontecem em nosso meio. Hoje é você, e futuramente também vou casar os seus irmãos...

— Você vai me casar? — Perguntei em um fio de voz. Logo agora que eu estava tomando coragem para montar a minha empresa, para realizar os meus sonhos... - Do que meus irmãos estão falando, pai?

— Você ainda dá ouvidos aos seus irmãos? Desde quando eu obrigo vocês a fazer algo que não desejam? - Nos calamos. - Tenho sonhos para os três, mas nunca colocaria a minha empresa ou riqueza na frente da felicidade de vocês. - Ele me abraça.

— Então me conta o que está acontecendo para Carlos está bufando de raiva. Eu ouvi bem a palavra "casamento".

Meu pai na mesma hora ficou tenso, ainda me envolvendo em seus braços. Eu sabia exatamente a resposta da minha pergunta. Meu pai foi criado em uma família tradicional, e regras vêm junto com a bagagem de pertencer à família Smith. O medo de uma grande riqueza cair em mãos erradas era maior que qualquer outra coisa. Nenhum casamento nessa família foi feito com base no amor, somente em contratos de negócios formandos e firmados para o bem de nossa riqueza. Essa era a raiz na qual a minha família foi fundada e da qual nunca se afastaria.

Vejo meus irmãos cruzarem os braços e olharem para o meu pai, aguardando sua resposta. Era uma batalha silenciosa que agora ocorria naquela sala. Nós três crescemos sabendo exatamente o nosso futuro, mesmo que não soubéssemos, de fato, o que isso significava. Bom, eu não sabia até chegar em casa e ver essa grande confusão, e o pior, que era por causa de um futuro casamento.

— Filha, eu e a sua mãe nos casamos em um acordo de casamento justo e vantajoso para ambas as famílias, mas não focamos no negócio que envolvia a nossa vida e sim na possibilidade de sermos felizes. Podíamos nos odiar e fazer da nossa vida de casal um verdadeiro inferno, mas lutamos para sermos felizes e temos um casamento de trinta longos e felizes anos. — Meu pai amava muito a minha mãe, disso eu nunca duvidei. — Como eu não escolhi, você e seus irmãos não irão escolher também. Não por birra ou porque eu quero que sofram, mas porque esse é o melhor caminho.

— Então vou me casar com o escolhido que o senhor achar ser o candidato ideal? — Pergunto com uma pitada de sarcasmo. — Sabe que posso ter sorte como o senhor e a mamãe, mas também posso me dar muito mal, pai. Posso me casar com um homem que me faça infeliz e sofrer muito, tem noção disso? A pessoa com quem o senhor me casar pode me fazer muito infeliz, quero deixar bem clara essa observação.

Carlos e Caio chegam a ficar irritados com a minha fala, mas não estou falando nenhuma mentira! O fato de eu ser a princesinha deles não quer dizer que eu seja o mundo de um homem, até porque eu nunca tive oportunidade de ter um ficante ou namorado.

Tenho uma paixão, mas é um segredo que guardo a sete chaves.

— Eu o mato! — Caio fala com um olhar raivoso, e Carlos sorri frio.

Meus irmãos eram ciumentos ao extremo, mas eles tinham um bom coração, a única questão era que eles eram safados demais para se preferem a alguma garota, quem dirá casamento.

Caio era o mais velho, o filho que iria cuidar de tudo no lugar do papai. Carlos era um ótimo advogado, protegia tudo da família, e tinha seu próprio escritório de advocacia.

— Não fale besteiras, não vai matar ninguém, pois seu irmão precisa de você na empresa. Fora que não sou louco de entregar sua irmã para qualquer homem, estamos aqui para conversar — Meu pai conclui irritado.

Céus, eu iria me casar com alguém que não faço ideia de quem seja e, pior, nunca tive liberdade para ter outras experiências. Agora, teria que aceitar ou não o nome que meu pai colocasse na mesa. A única pessoa que eu beijei na vida, e ainda assim ele estava bêbado, foi Paul, minha paixonite da juventude. Eu babava por ele na faculdade, mesmo sabendo que nunca devo ter habitado os seus pensamentos.

— Qual é o nome do candidato? — Pergunto, já programando um “não” bem audível.

— Filha, sabe que terá que se casar, não pode fugir da sua responsabilidade por muito tempo, as outras meninas da sua idade estão já vendo os melhores partidos. Não é um pedido, é algo que terá que fazer, gostando ou não.

- Sabe que esse não é o meu sonho, pai. Quero ter a minha marca de roupas de grife. - Meu pai suspira.

-Sabe que moças de família se casam com os melhores candidatos da nossa sociedade, Catarina. Não posso te entregar a um zé ninguém!Fora que eu não sei se o seu marido vai deixar você trabalhar, minha filha. — Meu pai nunca iria me ouvir.

- Então não tenho direito de escolha?

— Podemos nos sentar e conversar sobre o que está acontecendo? — Meu pai nos convida a nos sentar na sala.

Nos sentamos.

— Recebi uma visita muito interessante hoje à tarde. A patriarca da família Evans foi até a minha empresa fazer uma proposta interessante. — Meu pai começa a falar. — Ele está com alguns problemas em sua empresa, fez maus negócios e se vê bem fraco no mercado. Sabe que a empresa Evans é a minha maior rival nos negócios, não sabe? Mesmo com todos os problemas, eles ainda estão me incomodando.— Todos sempre soubemos que meu pai tinha a família Ribeiro como sua dor de cabeça constante.

— Sim, pai, ele está quebrado e veio tentar te vender ações?

— Não, Evans veio propor uma fusão da sua empresa com a minha, me daria sessenta por cento das suas ações.

— No caso, ele não quer que eu compre as ações, ele quer um elo mais forte… — Eu sabia o que ele queria, que elo era mais forte que um casamento?

— Evans quer uma fusão, que as empresas sejam fundidas em uma e se tornem uma potência. Ele quer um casamento para manter a empresa ainda em sua família e aproveitar as regalias que meu nome leva. — Esse acordo era bom para eles, aliás, era excelente!

— Me trocar? Sou uma moeda de troca...

— Não filha...

- Continua pai... - Já estava arrasada.

— Ganho as ações de uma empresa que tem tudo para ser excepcional, fora que me livro de um concorrente que está me dando muita dor de cabeça. — Suspiro, imaginando onde eu entro nessa história.

— Nosso pai explicou tudo isso para nós dois ainda no escritório e não gostamos dessa ideia, não achamos que um casamento é a melhor solução. — Caio fala. — Até falamos de nós nos casarmos com a jovem Carla, mas os patriarca da família acham que seria melhor um casamento entre Paul e você.

Eu e Paul, eu e meu grande amor...

— Vejo potencial no menino Paul, acho que o pai dele não explora o seu potencial ao máximo. E seria bom ter ele ao nosso lado cuidando da empresa. — Meu pai argumenta com os filhos.

— Ele é um bom rapaz, nunca se meteu em confusão, a mãe dele só tem elogios em relação a ele no clube. Seria um bom partido para a nossa filha. — Minha mãe fala pela primeira vez.

Ofego com a possibilidade.

— Por isso queria casar os jovens Catarina e Paul, sei que seria um bom casamento. O menino é respeitoso e vai fazer a nossa menina feliz. — Meu pai diz, me olhando. — Então, minha filha, você poderia pensar sobre esse acordo que seria bom para ambas as partes? Eu sei que estudou com Paul e deve ter lembranças boas dele.

- Acho que não tenho muita escolha, tenho? - Meu pai nega.

— Vamos fazer um jantar para que você possa falar com Paul, quero que tudo seja feito da melhor maneira possível. — Meu pai decreta.

Eu seria obrigada a me casar com o amor da minha vida.

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