A cidade dormia sob um véu de tensão. As luzes que piscavam nas vielas de Istambul pareciam mais ameaçadoras do que protetoras naquela noite. As ruas estavam silenciosas, mas não em paz — era o tipo de silêncio que precedia o som de tiros, o cheiro de pólvora, o gosto metálico da guerra.
Baran estava de pé diante do espelho, vestindo o paletó preto com a calma inquietante de um homem que já fez as pazes com o inferno. Suas mãos enluvadas ajustavam os botões enquanto seus olhos não desgrudavam dos meus. Eu o observava em silêncio, sentada na cama, coberta por um lençol branco, como se meu corpo nu ainda carregasse os vestígios da última madrugada — de amor, de promessas, de medo.
— Você vai voltar pra mim — declarei, não perguntei.
Ele caminhou até mim, se ajoelhou à beira da cama e encostou sua testa na minha.
— Só se você prometer estar aqui quando eu voltar — murmurou.
— Sempre estarei. Por você, por nós. Até o fim.
Ele respirou fundo. Tocou minha barriga com delicadeza.
— E por ele