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Capítulo 4 - Entre o Passado e o Desejo

O relógio marcava oito e quarenta e cinco da manhã quando Isabella entrou apressada na Moretti Corp, equilibrando uma pasta de relatórios e o café que mal tivera tempo de tomar. A semana estava apenas começando, mas a sensação era de que meses haviam se passado desde que assumira o cargo. Cada dia ali exigia dela mais do que competência — exigia controle emocional, concentração… e uma força que ela mesma não sabia que possuía.

A rotina ao lado de Ethan Moretti era um desafio constante. Ele era exigente, perfeccionista e dono de uma autoridade natural que fazia o ar mudar quando entrava em qualquer sala. Mas o que mais a desestabilizava era o modo como, mesmo tentando se manter distante, ele ainda encontrava maneiras de atingi-la — com um olhar, um comentário ou um silêncio calculado.

Ela o respeitava. Mas parte de si ainda se perguntava se respeitava o chefe… ou o homem que um dia amou.

— Bom dia, Sr. Moretti. — disse, entrando em sua sala com a postura impecável. — Aqui estão os relatórios de ontem e as confirmações das reuniões de hoje.

Ethan levantou os olhos do notebook. Estava sentado atrás da mesa de mogno, a jaqueta do terno pendurada na cadeira e a gravata afrouxada. O cabelo levemente desalinhado dava um toque quase perigoso à sua elegância.

— Bom dia, Srta. Duarte. — respondeu, pegando os papéis sem desviar o olhar dela. — Está pontual… gosto disso.

— A pontualidade faz parte da eficiência, senhor. — replicou, tentando manter o tom neutro, embora o jeito como ele a observava a fizesse perder o fôlego por dentro.

Ethan analisou os relatórios por alguns segundos, depois se recostou na cadeira. — Você tem se saído bem. Melhores resultados do que eu esperava.

— Obrigada. — ela respondeu, surpresa com o elogio. — Faço apenas o meu trabalho.

Um leve sorriso curvou os lábios dele. — Você sempre foi modesta. Mesmo quando não precisava ser.

O comentário pairou no ar como um sussurro proibido. Isabella desviou o olhar, sentindo o rosto aquecer.

— Prefiro focar no presente, Sr. Moretti. O passado não pertence a este escritório.

Ele ergueu as sobrancelhas, satisfeito com a firmeza dela. — É mesmo? Engraçado… às vezes parece que o passado está sentado bem à minha frente.

Isabella respirou fundo, controlando a raiva e o nervosismo. — Com licença, senhor. Preciso preparar os relatórios de desempenho.

Antes que pudesse se afastar, ele murmurou, com um tom quase provocador:

— Continue assim, Srta. Duarte. Mas lembre-se: aqui dentro, eu exijo foco. E emoções… distraem.

Ela apenas assentiu, saindo apressada da sala. Por mais que tentasse, não conseguia entender por que ele insistia em provocá-la. Parte de si queria gritar, relembrar tudo que haviam vivido — o amor, a decepção, a partida sem explicações. Mas outra parte sabia que o Ethan que ela conheceu já não existia. Agora, diante dela, havia apenas um homem frio, comprometido e completamente inacessível.

Ou pelo menos era o que ele queria aparentar.


O dia passou em uma mistura de reuniões e telefonemas. Isabella se mantinha ocupada o tempo todo, evitando olhar para a sala de Ethan. Ainda assim, sentia o peso da presença dele mesmo quando não o via. Era como se o simples fato de estarem no mesmo andar criasse uma tensão invisível.

Por volta das seis da tarde, o escritório começou a esvaziar. O som de saltos e teclados foi diminuindo, até restarem apenas ela e o barulho suave do relógio marcando as horas. Isabella ainda revisava uma planilha quando ouviu a porta do escritório de Ethan se abrir.

— Ainda aqui? — ele perguntou, aproximando-se lentamente.

— Sim, senhor. Quero deixar tudo pronto antes da reunião de amanhã.

— Dedicação admirável. — disse ele, parando ao lado dela. — Mas não é saudável trabalhar até tarde todos os dias.

— Estou apenas fazendo o que é esperado de mim.

— Ninguém te cobra isso.

Ela ergueu os olhos. — O senhor cobra.

Ethan deu um meio sorriso. — Toque pessoal interessante.

O silêncio entre eles se instalou de novo, mas dessa vez não era tenso — era quase… elétrico. Isabella tentava manter o foco na tela do computador, mas podia sentir o perfume dele misturado ao ar, a respiração próxima, o calor discreto que emanava de sua presença.

— Está com fome? — ele perguntou de repente. — Pedi algo para comer.

— Ah… não precisa, senhor.

— Insisto. — respondeu ele, já pegando uma pequena sacola deixada por um entregador. — Duas refeições. Eu imaginei que você ainda estaria aqui.

— O senhor planejou isso? — perguntou, arqueando a sobrancelha.

— Eu planejo tudo, Srta. Duarte. — respondeu com aquele tom que misturava ironia e charme. — É parte do meu trabalho.

Ela não teve escolha senão aceitar. Sentaram-se à mesa de reuniões, um de frente para o outro, o ambiente iluminado apenas pela luz suave da cidade através das janelas. A conversa começou leve — assuntos de trabalho, metas, resultados — mas logo foi ganhando outra tonalidade.

— Nunca imaginei que voltaria a te ver assim. — disse Ethan, quebrando o silêncio. — Aqui, ao meu lado, trabalhando comigo.

— Nem eu. — respondeu Isabella. — O mundo dá voltas, não é?

— Voltas… ou ironias. — ele murmurou. — Ainda me pergunto o que te trouxe de volta.

Ela desviou o olhar. — A necessidade de um emprego, talvez. Não foi o destino, se é o que está pensando.

— Não acredito em coincidências. — disse ele, com o olhar fixo. — Se você está aqui, há um motivo.

Isabella sentiu o coração apertar. — E se o motivo for apenas seguir em frente?

— Então por que seus olhos ainda me procuram quando acha que não estou olhando? —

O silêncio que se seguiu foi pesado. Isabella ficou imóvel, incapaz de responder. Ethan se inclinou levemente, apoiando os cotovelos sobre a mesa.

— Ainda é a mesma, Isabella. Tenta parecer forte, mas eu sei quando está lutando contra algo.

Ela o olhou diretamente, com firmeza. — E o senhor ainda é o mesmo: convencido e arrogante.

Ele sorriu de canto. — E você ainda sabe como me provocar.

Por um instante, o tempo pareceu parar. A tensão entre eles era quase palpável. Isabella tentou desviar o olhar, mas ele estendeu a mão e segurou o pulso dela com delicadeza — o suficiente para fazê-la estremecer.

— Diga-me que isso acabou. — ele murmurou, a voz rouca. — Que você realmente seguiu em frente.

— Eu… — ela começou, mas as palavras se perderam.

— Diga, Isabella. — insistiu, olhando nos olhos dela. — Diga que nada disso mais te afeta.

Ela o fitou, sentindo o coração acelerar. — Eu não devo satisfações, Sr. Moretti.

Ele soltou o pulso dela lentamente, respirando fundo, tentando recuperar o autocontrole. — É, talvez eu tenha ultrapassado um limite.

— Sim, ultrapassou. — respondeu ela, com firmeza. — E não é o tipo de limite que o senhor tem direito de cruzar.

Ethan se levantou, caminhando até a janela. Ficou alguns segundos em silêncio, olhando a cidade iluminada. — Eu nunca quis que terminasse assim.

— Então por que terminou? — ela perguntou, sem conseguir conter a raiva contida há anos. — Por que simplesmente desapareceu da minha vida sem explicações?

Ele virou o rosto lentamente, o olhar cansado, mas intenso. — Porque eu precisei escolher entre o que sentia e o que devia fazer.

— E escolheu o dever.

— Escolhi o que era certo na época. — respondeu, com voz baixa. — Mas nem sempre o certo é o mais fácil de carregar.

Isabella se levantou, aproximando-se. — Pois saiba que sua escolha destruiu mais do que imagina.

Os dois ficaram frente a frente, tão próximos que bastaria um passo para que o passado voltasse por completo. O silêncio era pesado, cheio de lembranças e de tudo o que não foi dito.

— Se está tentando me desestabilizar, não vai conseguir. — disse ela, com firmeza.

— Não é isso que eu quero. — respondeu ele, quase num sussurro. — Só quero entender por que ainda me olha como se me odiasse… e me amasse ao mesmo tempo.

Ela deu um passo para trás, confusa, tentando conter as lágrimas. — Porque talvez eu ainda não saiba a diferença.

Ethan se aproximou de novo, a voz mais suave agora. — Isabella…

— Não. — interrompeu, levantando a mão. — Isso não pode acontecer. O senhor é meu chefe. E está noivo.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, depois assentiu, voltando a se afastar. — Tem razão. Esqueça o que aconteceu aqui.

Isabella pegou suas coisas e respirou fundo. — Já esqueci.

Mas ambos sabiam que era mentira.

Enquanto ela deixava a sala, Ethan observava, tentando entender como uma única mulher conseguia abalar tanto a estrutura que ele levara anos para construir. Do lado de fora, Isabella caminhava pelo corredor vazio, o coração acelerado e os pensamentos confusos.

Ela queria odiá-lo. Queria apagar o passado, apagar o toque, o olhar, o cheiro dele. Mas parte de si sabia que seria impossível. Porque por mais que o tempo tivesse mudado tudo, o sentimento permanecia ali — vivo, perigoso e incontrolável.

Naquela noite, sozinha em seu apartamento, Isabella ficou olhando para o teto, relembrando cada palavra, cada olhar trocado. O rosto dele ainda a perseguia, assim como a lembrança do que quase aconteceu.

E do outro lado da cidade, Ethan olhava para a janela de seu apartamento, o anel de noivado em cima da mesa. Tocou o objeto com os dedos e, por um momento, pareceu hesitar. O dever o chamava. Mas o coração… o coração ainda pertencia à mulher que ele jamais conseguiu esquecer.

O relógio marcou meia-noite. E o silêncio da cidade guardou, mais uma vez, o segredo de dois corações divididos entre o orgulho, o desejo e um passado que nunca morreu.

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