Escolho uma cadeira na primeira fileira. Como uma boa garota estudiosa, sempre gostei de me sentar na frente, para poder prestar atenção em todos os detalhes da aula, assim como fazer anotações. O detalhe mais especial é que, meu caderno foi um dos últimos presentes que minha mãe me deu. Ela sempre me apoiou em tudo, e quando eu disse que queria estudar arquitetura, não foi diferente. Ela foi meu suporte, e se hoje estou aqui, foi com sua ajuda.
Confiro a hora no celular, ainda faltam alguns minutos para a aula começar. Aos poucos, os alunos vão preenchendo a sala. As vozes conjuntas, em conversas paralelas, juntas formam um coro quase incompreensível, mas uma conversa em particular me prende a atenção, a garota de vestido roxo e cabelos pretos, sentada na fileira posterior a minha, sussurra entre risos com sua amiga: — … Jasmine já havia comentado comigo sobre ele, sabia que ele é atraente, mas não nesse nível… - ela suspira e continua: — Com certeza, essa será minha matéria favorita a partir de agora…- as duas riem em sincronia. Fico ali por uns instantes pensando em quem elas poderiam estar conversando sobre, sem dúvidas deve ser de algum aluno na sala. Viajo em minhas lembranças e um sorriso singelo surge em meus lábios. Relembro do exato dia em que conheci Max, em minha antiga universidade… Era uma terça-feira cinzenta e chuvosa, nos esbarramos na biblioteca e desde então, não nos desgrudamos mais. — Bom dia, alunos… Sejam todos bem vindos! Uma figura extremamente alta surge pela porta, um homem com cabelos castanhos, vestindo um terno azul escuro sobre uma camisa branca, delicadamente posiciona sua maleta sobre a mesa. Ele retira alguns livros e papéis e os deixa em cima da mesa antes de olhar para os alunos. — Bom dia à todos! Me chamo Aleksander Schefler, e serei o novo professor de álgebra de vocês. Espero que juntos, aperfeiçoemos nossas habilidades em cálculos… – Seus olhos, azuis claros, como o céu em um dia de verão ensolarado, fitam os alunos de maneira despretensiosa, até pararem nos meus. Sinto um choque eletrizante invadir meu corpo nesse momento. Quase de forma automática, meu coração dispara e sinto um rubor em minha face. Por qual motivo esse homem está me olhando dessa maneira? Seus olhos, fixos nos meus, me encaram como se lessem minha alma através de um scanner. Por timidez, acabo desviando o olhar. Rapidamente o olho novamente, ele ainda me observa, agora de maneira curiosa, como um border collie que acaba de encontrar um coelhinho em seu quintal. Que estranho, por que me sinto assim?! Isso não faz sentido, ficar tão afetada por um olhar de um desconhecido… - uma voz no fundo da minha mente grita a resposta: você está assim porque seu atraente professor te olhou de forma quase obscena. Não posso me sentir assim, muito menos corresponder ao seu olhar convidativo… A aula discorre de maneira fluída, o professor Schefler possui uma ótima desenvoltura em suas explicações. Cálculos nunca foram uma facilidade pra mim, mas a sua forma leve e sucinta de explicar a matéria, acaba tornando álgebra algo não tão complexo de ser resolvido. — … As atividades estão na página 87 do livro, na próxima aula quero que todos tragam os cálculos resolvidos para correção, e caso tenham dúvidas, podem vir até a mim à mesa. Aos poucos, todos os alunos vão se esvaindo da sala, até sobrar apenas alguns alunos ao fundo da sala. Meus pés parecem estar colados ao chão…- que bobagem, Spencer! Digo à mim mesma em pensamentos. Guardo meu caderno na bolsa e me preparo para levantar, quando uma sombra alta se forma em minha frente. — Você deixou sua borracha cair ao chão…- ele se abaixa na minha frente, pegando-a e estende sua mão. Ao me entregar, sinto o toque quente de seus dedos em minha palma. O leve toque me afeta completamente, e sinto a face aquecer. Seus olhos se mantém fixos em mim, e novamente me sinto constrangida pela forma como ele me olha. — Não havia percebido que ela caiu… - dou um breve sorriso, no qual ele retribui. — Eu percebi, você passou a aula toda concentrada na aula e em suas anotações… ele olha em direção aos meus lábios e sem hesitação diz: — Sou observador, certos detalhes… não me passam despercebidos… ele sutilmente molha o lábio inferior com a ponta da língua. Meus olhos se voltam para seus lábios e permaneço ali por alguns segundos, parada sem reação. — Bom, é melhor eu ir.. - coloco a bolsa em meus ombros.. ainda tenho algumas aulas pela frente. — Não vai me dizer seu nome? Ele levanta uma sobrancelha, com um riso nos lábios. — Spencer Manfield. — Muito prazer, senhorita Manfield.. - ele me olha de um jeito extremamente sedutor. — Nos vemos na aula amanhã. Subitamente sinto meu corpo aquecer levemente, e a vergonha me invade. — Até amanhã, professor Schefler. Enquanto caminho em direção à sala da próxima aula, mesmo sem olhar para trás, posso sentir seus olhos azuis penetrantes me fitando esvair da sala.