Dizem que o sentimento de culpa acompanha as mulheres em diferentes fases da vida. Confesso que já experienciei o sentimento amargo da culpa em situações anteriores, mas dessa vez, ele surgiu de uma forma totalmente inesperada.
Por mais que eu me esforçasse, não consegui parar de pensar no professor Schefler. A forma como ele me olhou.. é a primeira vez que me sinto tão afetada por um homem. Mas eu não deveria me sentir assim! Sou uma garota comprometida, com um namorado incrível que me ama. Sempre que me encontro em dilemas confusos, caminhar me ajuda a ter clareza sobre meus pensamentos, então, após o metrô, caminho alguns quarteirões até chegar em meu apartamento. Está tudo tão silencioso! Me deito em minha cama, e sinto meu corpo afundar, mas a mente incessante traz a tona uma sequência de pensamentos.. — Como queria poder te ligar, mamãe.. Você sempre me dava os melhores conselhos em momentos de indecisão.. - as lágrimas inundam meus olhos e a saudade, que se tornou um sentimento constante em mim, me assola em angústia. O barulho do celular tocando me traz de volta a realidade. — alô? — Espero que seu dia tenha sido bom, meu amor.. - a voz de Max soa terna e calma. — Oh Max.. minha voz soa embargada por causa do choro contido..— meu dia foi bom, adorei a faculdade nova.. a biblioteca é gigantesca, cheia de exemplares incríveis. — Vejo que a nova faculdade foi aprovada com sucesso. - ele ri de forma despreocupada e por um momento, a lembrança da imagem do professor Schefler invade minha mente. Eu não deveria pensar nele enquanto converso com meu namorado, mas seu olhar atrevido não saiu da cabeça o dia inteiro. — A faculdade é incrível mesmo.. estou feliz de ter voltado a estudar. Tenho certeza que mamãe está orgulhosa de mim, por me ver seguir em frente com minha vida, apesar da imensa falta que ela faz.. que vocês me fazem.— Eu também já estou com saudades, minha linda.. — Como está o andamento do projeto do resort? — Tudo certo, na medida do possível.. você sabe como são esses projetos, cheios de imprevistos. — Aconteceu algo? — A construtora representante do resort acabou excedendo prazos de licitações.. infelizmente acredito que terei que estender minha permanência aqui. — Estender? - A ideia de permanecer longe de Max além do previsto me deixa ansiosa e instantaneamente minhas mãos começam a suar. — Quanto tempo à mais você vai ter que permanecer aí? — Talvez eu tenha que ficar um mês.. A verdade é que em todos esses anos de namoro, nunca ficamos longe por mais de alguns dias. Essa seria a primeira vez que eu ficaria tanto tempo afastada de Max. Não seria justo com ele, ter qualquer outra reação a não ser me mostrar compreensiva. — Entendo meu amor.. bom, de qualquer forma me mantenha informada se será mesmo necessário. — Com certeza! Agora tenho que desligar, o fuso horário está acabando comigo.. - ele boceja e completa: — Vou dormir, amanhã cedo tenho uma reunião com os arquitetos tailandeses. Bom descanso, meu amor. Te amo. — Que dê tudo certo em sua reunião! Amanhã nos falamos. Te amo. Conversar com Max sempre me acalma, mas se antes eu já me sentia culpada, agora sinto o dobro. Em meio a choros contidos e desejos reprimidos, adormeço pensando em tudo, mas principalmente, nos olhos azuis do senhor Schefler.