A gigantesca biblioteca da faculdade estava praticamente vazia, apenas alguns alunos sozinhos, sentados espalhados pelas longas mesas de madeira lustrosa, que refletiam a baixa iluminação do local.
Após escolher cinco livros de história da arquitetura, me dirijo pra única mesa vazia ao fundo da biblioteca. A iluminação amarelada e intimista traz uma atmosfera aconchegante, tornando o ambiente perfeito para passar horas mergulhada em livros, que sempre foram minhas paixões. A tarde discorre como água entre os dedos, as horas sempre passam rápido demais quando se está lendo algo interessante. Olho no celular, são 18:20, o sol já se punha e aos poucos o entardecer alaranjado foi dando lugar a escuridão do anoitecer. Pego meu casaco de tricô e decido buscar um café ao final do corredor, onde fica localizado uma pequena cafeteira. Ao regressar, percebo que os poucos alunos que estavam na biblioteca já foram embora, sobrando apenas eu e mais duas garotas. O silêncio perdura por toda biblioteca, tornando possível ouvir com exatidão as batidas do relógio. Volto ao meu lugar e começo a redigir meu trabalho no notebook, apenas mais algumas anotações serão necessárias para terminá-lo. Subitamente, uma figura alta surge do meu lado esquerdo, me fazendo dar um pulo de susto na cadeira ao percebê-lo. — Desculpe, não era minha intenção te assustar.. Sua voz grossa soou doce e familiar aos meus ouvidos, e antes mesmo de levantar meus olhos em direção aquela figura imponente, eu já sabia de quem se tratava: Aleksander Schefler. No mesmo instante, minha mãos começam a suar com o nervosismo inevitável que me atinge. Esse é o efeito que ele causa em mim, todas as vezes que ouço sua voz, que estou em sua presença. É inerente a forma como ele desordena meus sentidos. — Sem problemas, professor Schefler.. estava imersa em minhas últimas anotações do trabalho, não o vi se aproximar. Retiro uma mecha de cabelo detrás da orelha, numa tentativa frustada de esconder o rubor que começava a irradiar em minha face. Por um instante, me questiono se ele percebeu o motivo desse ato. — Precisa de ajuda com algo? — disse ele, enquanto seu rosto fazia menção aos escritos na tela do meu notebook. — História da arquitetura sempre foi uma matéria que despertava meu interesse. Arte e arquitetura se completam. — Concordo, arte e arquitetura são facetas complementares, uma não existe sem a outra, mas obrigada pela ajuda, já estou finalizando os últimos tópicos. A verdade é que ainda faltavam alguns tópicos, mas a figura alta parada em minha frente me causava certa inquietação, assim como ocasionava uma deliciosa pulsação entre as pernas. — Posso me sentar com você? Haviam outras mesas disponíveis e vazias na biblioteca, mas sua pergunta me fez questionar: Porque com tantos lugares disponíveis, ele faz questão de sentar comigo? — Claro! Fique à vontade professor Schefler.. — Pode me chamar de Aleksander, me sinto melhor sem essa formalidade entre nós. Suas pupilas dilatadas cintilavam como pérolas negras, fazendo-se destacar em seus olhos azuis claros. Os cílios fartos e alongados delineavam os olhos com perfeição, causando certo fascínio. — Como desejar. A frase soou ambígua e o silêncio permaneceu entre nós por um momento. Ambos se olhando, era nítido o desejo crescente partilhado. — Spencer.. sei que pode soar antiético o que vou fazer agora, mas gostaria de lhe fazer um convite.. Um choque invade meu corpo sem hesitação, as batidas do meu coração disparam, como cavalos velozes em uma competição. Concordo em silêncio com um leve aceno, após um olhar profundo, ele prossegue: — Podemos tomar um café juntos? Desde que te vi no primeiro dia de aula, não parei de pensar um minuto em você.. sei que sou seu professor e eu não deveria me envolver com uma aluna, mas o que eu senti ao te ver, eu não havia sentido antes. Não sou o tipo de homem que deixa escapar algo valioso assim, espero que não me compreenda de forma errônea. Ele havia sido direto e claro em suas palavras mas uma parte de mim mal podia acreditar naquele convite proferido. O desejo era explicitamente mútuo, ambos desejavam secretamente a mesma coisa. Desde o primeiro olhar, desde as primeiras palavras compartilhadas. — Eu aceito. Ele soltou um suspiro, quase aliviado, era nítido sua tensão ao esperar minha resposta. Seus olhos cintilaram e um sorriso alegre se formou em seus lábios. — Me passe seu telefone. Seu tom de voz era firme e decidido, como alguém que não espera ser contrariado. Sem hesitação, anoto meu número em uma folha da agenda e estendo suavemente em sua direção. Sua mão, quente e macia ao toque, permanece em minha palma um tempo além do considerado normal. Meu corpo subitamente reagiu ao seu toque, corando minha face ao mesmo tempo em que uma pulsação invadiu-me entre as pernas. — Bom.. já está ficando tarde e eu preciso ir embora pra casa. — Digo com urgência, não porque eu queria fugir, mas se permanecesse mais tempo ali, acabaria fazendo algo que me traria arrependimento e culpa. Seus lábios convidativos me excitavam. Ele concorda sem pestanejar. — Nos falamos depois, Spencer. Foi um .. prazer ter esse momento com você. — Até, Aleksander.. Me levanto e dispenso dele com um sorriso, e mais uma vez, mesmo sem olhar para trás, posso sentir seu olhar voraz me seguindo até esvair de sua frente. Enquanto caminho, fico refletindo se de certa forma ele poderia notar que fiquei molhada enquanto conversávamos.