Percorri o caminho até meu apartamento quase de forma automática, o que estranhamente ocasionou o fenômeno de não ver o tempo passar. Durante todo o percurso, não pude deixar de pensar no convite de Aleksander Schefler, mas também, pensei sobre minha conduta. Desde o começo do meu relacionamento com Max, sempre fomos fiéis um ao outro, prezando a lealdade e a fidelidade como base forte para a construção da relação.
Mas se tenho minhas convicções íntegras, porque disse sim para seu convite? Como posso amar meu namorado mas ao mesmo tempo me sentir extremamente atraída por outro homem? Um homem treze anos mais velho do que eu, com uma bagagem emocional totalmente desconhecida por mim. Tudo isso parece ser irrelevante, pois no momento que meus olhos encontraram os dele, esqueci completamente dos meus critérios, crenças e conduta. Aceitar seu convite foi moralmente errado, por ser aluna dele, mas principalmente por ser comprometida. Entretanto, o que venho sentindo por ele é maior que tudo isso, logo, não consigo dizer não à nada em relação ao que se trata sobre ele. Abro a porta do apartamento e mais uma vez o silêncio absoluto escancara uma realidade em minha face: você está sozinha outra vez! O sentimento da solidão é amargo, mas hoje, decidi que não irei me entregar à ele. Vou até a cozinha em busca do vinho que me espera na geladeira, uma taça, ou algumas, é o que eu preciso depois desse dia tão cheio de emoções. Enquanto checo as mensagens no celular, acabo percebendo que durante o dia todo, Max não mandou nenhuma mensagem, nem uma ligação ou recado. Que estranho, mesmo em suas viagens à trabalho ele sempre reservou um tempo para ligar ou mandar uma mensagem carinhosa desprevenida. Então decido ligar para ele. Após alguns toque, a ligação é atendida. — Alô, oi Spencer. Sua voz soava embargada, como se tivesse dificuldade para falar. Um sentimento de estranheza me invadiu. — Oi Max, você sumiu o dia todo, esperei por uma mensagem sua. Como estão as novidades na construção do resort? — Ahh é que estive muito ocupado, quase não tive tempo para pegar no celular… sem novidades por enquanto, as obras já iniciaram mas ainda há muitos detalhes para serem alinhados… — Você está rouco? — … um pouco. Tivemos uma reunião de negócios com os diretores e investidores, acabamos extendendo a reunião para uma social. Você sabe como essas pessoas são, um drink, depois outro… excedemos um pouco na bebida. Sua frase foi como um soco no estômago. Nunca fui do tipo namorada controladora, mas esse ato incomum de Max despertou minha desconfiança. Sentia que ele estava me escondendo algo. Max nunca foi do tipo que excede na bebida. — Em um bar chamado Coco village… depois passamos em uma boate local. Mas foi coisa rápida, logo fomos embora. Bingo! Aí estava o algo à mais que estava escondido. Não foi apenas uma simples reunião de negócios, eles ficaram bêbados e depois todos foram para uma boate. Essa atitude claramente não estava alinhada com uma postura de quem está trabalhando em negócios sérios mas sim, como quem está a passar férias num lugar paradisíaco. Por isso seu sumiço. — Entendi. Pelo visto estava muito legal né, tão interessante ao ponto de esquecer de me avisar, ou mandar uma simples mensagem… Não quero bancar a chata, Max, você sabe nunca fui assim, mas sua atitude… confesso que estou um pouco chateada. — Você está exagerando… mas tudo bem, me desculpe. Isso não vai se repetir. Já está quase acabando o prazo, logo estarei de volta. Sua voz parecia mecânica, como quem lê um script. Não havia arrependimento ou qualquer vestígio de remorso. Essa foi a primeira vez em que ele agiu assim, o que torna o fato ainda mais incomum. Será que havia mulheres juntas com ele? Um silêncio se estendeu entre nós e minha mente em turbilhão, começará a imaginar as mil possibilidades do que realmente pode ter acontecido. Será que Max não lembrou de mim pois está começando a sentir desejo por outra mulher? Uma voz em segundo plano, quase como uma impostora, ecoou na mente: — Se isso acontecer, será apenas revanche da parte dele… A imagem de Aleksander estampada em meus pensamentos, como um lembrete, me fazendo admitir que secretamente, eu “errei” primeiro. Aliás, continuo errando, pois penso nele na mesma frequência, que penso em Max. Subitamente minha vontade de continuar a conversa com Max se esvaiu. — Outra hora conversamos… estou com uma leve dor de cabeça, ainda tenho algumas coisas à fazer. Te ligo amanhã. Até. Antes mesmo de ouvir o até logo de Max de volta, desliguei o celular. Sei que foi grosseiro da minha parte, mas infelizmente eu não tinha mais nada pra falar. Completo a taça de vinho novamente, um pouco além, na esperança de que o álcool possa anestesiar meus pensamentos. Ligo a tv e escolho o primeiro filme clichê duvidoso que me aparece. Jogada no sofá, me dedico a acabar com a garrafa de vinho, minha única companhia nessa noite solitária.