Max encostou-se a uma das colunas do terraço, os braços cruzados sobre o peito enquanto observava os jardins da fazenda. O dia se arrastava em um ritmo exasperante desde que chegara ali. Não deveria ter vindo. Talvez se tivesse permanecido em seu apartamento na capital, afundando-se em mais uma garrafa de uísque, não teria que encarar a realidade incômoda que se desenrolava diante de seus olhos. Ele os viu assim que saíram da estufa. Eduardo, sempre impecável, tinha os cabelos ligeiramente desalinhados – algo que jamais passaria despercebido a Max, conhecendo a mania de perfeição do irmão. Cecília, por sua vez, trazia as faces coradas e os lábios inchados de um jeito que fez seu sangue ferver nas veias. O que diabos tinham feito ali dentro? A imagem de suas mãos em Cecília o atingiu em cheio, como um soco no estômago. Max cerrou os punhos, lutando contra a onda de ciúme que o invadia sem piedade. Ele não tinha o direito de sentir aquilo – e sabia disso. Cecília era a mulher de Ed
A manhã na fazenda Monteiro de Alcântara seguia em seu ritmo calmo, com o aroma de café fresco se espalhando pelo salão de refeições. O sol iluminava suavemente o ambiente, mas, para Cecília, tudo parecia fora de lugar. Desde a rejeição de Eduardo na estufa, um peso insuportável a acompanhava. Ela se oferecera — algo impensável para uma dama — e ele, com todo seu ar de correção, a afastara como se fosse indigna. Mas não era o noivo que a assombrava. Era Max. O toque dele ainda queimava em sua pele, a lembrança de seu corpo sobre o dela fazia seu coração acelerar de um jeito que a envergonhava. E desde aquela noite, ele sumira. Nenhuma palavra, nenhum olhar. Como se ela não fosse nada. Cecília ajustou o colar de pérolas, tentando conter as emoções enquanto tomava seu lugar à mesa. Ao seu lado, Helena estava sempre composta, enquanto Amélia exalava um brilho de malícia. — Você está estranha. — A voz de Amélia soou, carregada de curiosidade. — Não estou. — Cecília rebateu, em
A viagem até a fazenda dos Vieira de Sá começara antes do nascer do sol. A carruagem balançava suavemente enquanto deixavam para trás as ruas de paralelepípedos do Rio de Janeiro e seguiam pela estrada que os conduziria até São Paulo. O ar ainda carregava o frescor da madrugada, e a névoa pairava sobre as colinas como um véu delicado. Cecília mantinha as mãos enlaçadas no colo, tentando em vão controlar a inquietação que se espalhava por seu peito. A cada quilômetro percorrido, a realidade de que em breve estaria sob o mesmo teto que Max se tornava mais inescapável. — Não entendo seu nervosismo, Cecília. — Gabriel quebrou o silêncio, recostado confortavelmente no banco de couro. — Não há nada de assustador na fazenda dos Vieira de Sá. — Para você, talvez. — Helena interveio com um tom mais suave, mas um sorriso cúmplice nos lábios. — Mas Cecília está indo para conhecer o lugar onde viverá pelo resto da vida. "Se eu chegar a me casar com Eduardo…" A ideia a atravessou como uma a
Eduardo a conduziu para dentro da casa, e Cecília sentiu o ar mudar assim que cruzaram a porta principal. O interior da fazenda era tão imponente quanto o exterior. O mármore polido refletia o brilho suave da luz do entardecer, e os móveis pesados, de madeira escura, davam ao ambiente um ar quase solene. A cada passo que dava ao lado de Eduardo, seu coração parecia pesar mais. A lembrança de suas mãos em Max, do calor dos beijos, ainda queimava em sua pele. E agora, ali, com o homem a quem deveria prometer seu futuro, ela mal conseguia encará-lo. — Imagino que não seja muito diferente da sua casa — Eduardo comentou, conduzindo-a por um longo corredor decorado com pinturas a óleo de paisagens rurais. — É... — Sua voz saiu baixa, e ela precisou se esforçar para acrescentar: — Um pouco mais... formal, talvez. Ele riu suavemente. — Meu pai sempre teve um gosto mais austero. Quando nos casarmos, você poderá dar seu toque feminino à casa. — Seus olhos se suavizaram quando a observo
A escuridão do corredor da casa dos Vieira de Sá era cortada apenas pelo brilho trêmulo da lamparina que Cecília segurava com mãos tensas. O silêncio da noite pesava em seus ombros como uma sentença, cada passo ecoando pelas paredes imponentes enquanto ela tentava se convencer de que precisava apenas de um copo de água – nada mais. Mas então, o destino – o terrível destino – colocou Max em seu caminho. Ele subia as escadas que levavam à adega, com uma garrafa de álcool na mão, a camisa branca com os primeiros botões abertos e a expressão sombria que parecia gravada em seu rosto desde sua chegada. O coração de Cecília acelerou no peito, o ar se tornando denso ao redor deles. Ele parou quando a viu, e por um longo instante, nenhum dos dois disse nada. Apenas ficaram ali, presos em uma tensão que ameaçava romper a frágil fachada que ambos tentavam sustentar. — Não consegue dormir? – A voz dele saiu baixa, rouca, quase um desafio. Ela ergueu o queixo, forçando uma compostura que
A tensão que envolvia Cecília e Max era densa como o ar antes de uma tempestade. O beijo entre eles se aprofundava em um misto perigoso de raiva, desejo e culpa. A cada toque, a cada suspiro abafado, ficava mais claro que nenhum dos dois conseguia resistir à força que os puxava um para o outro – mesmo quando tudo ao redor gritava que aquilo era errado. As mãos de Max, firmes e possessivas, desceram pela curva da cintura de Cecília, puxando-a contra ele, como se quisesse apagar qualquer distância que os separasse. O corpo dela respondeu imediatamente, o coração martelando dentro do peito, os nervos em chamas sob cada carícia. — Você não devia estar aqui… – murmurou ele contra os lábios dela, mas não houve qualquer convicção em sua voz. — E você não devia me querer – retrucou, as palavras saindo ofegantes enquanto suas mãos deslizavam pelos ombros largos, sentindo o calor que queimava sob a pele dele. Max soltou um riso baixo e amargo, pressionando-a mais contra a parede do corre
Cecília mal conseguia respirar ao fechar a porta do quarto, os dedos tremendo levemente enquanto tentava não fazer barulho. O corpo ainda latejava — uma mistura de culpa, raiva e desejo. Sentia a pele sensível onde as mãos de Max a tinham tocado, marcado. Deslizou para a cama ao lado de Helena, que dormia profundamente, alheia ao caos que se desenrolava dentro da irmã. Cecília tentou se cobrir e encontrar algum descanso, mas cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Max. Os olhos intensos, a forma como seu nome soava mais grave na boca dele. O gosto dele ainda estava em sua língua. Ela não era mais a mesma mulher. E sabia que, se alguém descobrisse o que fazia nas sombras, o escândalo a destruiria. Na manhã seguinte, tentou ocupar a mente. Conheceu as dependências da casa, absorvendo cada detalhe do lugar que em poucos meses deveria chamar de lar. A Fazenda dos Vieira de Sá era diferente da sua. Onde a propriedade dos Monteiro de Alcântara era exuberante e festiva, es
Ele a puxou pela cintura e a boca dele desceu sobre a dela em um beijo desesperado e faminto. Cecília resistiu por um instante, mas depois derreteu em seus braços, as mãos agarrando sua camisa enquanto ele a pressionava contra a mesa de leitura. O gosto dela era como fogo e pecado, algo que ele jamais deveria tocar de novo — mas que não conseguia abandonar. Os dedos dele traçaram a curva do corpo dela sob o tecido fino da camisola, e ela arfou quando ele a puxou ainda mais para perto, o corpo dele moldando-se ao dela de forma indecente. — Eu te quero, Cecília — ele murmurou contra seus lábios. — Sempre quis. Ela não respondeu, mas o modo como seu corpo se curvava em direção a ele, como se procurasse cada toque, cada beijo, já dizia o suficiente. Mas então… o som seco de um livro caindo cortou o ar. Max congelou. Cecília ficou rígida em seus braços, o peito subindo e descendo em pânico. Ele se virou devagar… e o que viu fez seu sangue gelar. Eduardo estava parado na entr