O sol da manhã brilhava forte sobre a vasta propriedade dos Monteiro de Alcântara, lançando um dourado suave sobre os campos bem-cuidados e os vinhedos que se estendiam até onde a vista alcançava. A mansão imponente, de fachada clara e janelas elegantes, preparava-se para o esperado almoço em celebração ao retorno de Eduardo. Nas últimas semanas, Cecília vivera em um estado constante de tensão. Desde aquela noite impensável na taberna, não vira Max novamente. Nenhuma carta, nenhum bilhete, nenhum sinal dele. Era como se ele tivesse evaporado no ar, deixando apenas as lembranças pecaminosas de tudo o que haviam feito. E agora, ali estava ela, em seu quarto, tentando reunir coragem para descer e encarar o homem com quem deveria se casar — e, pior ainda, aquele que roubara sua inocência. Sentada diante do espelho, Cecília ajeitava os cabelos em um penteado elaborado com as mãos trêmulas. O vestido azul-pálido, de tecido delicado e mangas de renda, moldava-se à sua silhueta esguia co
Max encostou-se a uma das colunas do terraço, os braços cruzados sobre o peito enquanto observava os jardins da fazenda. O dia se arrastava em um ritmo exasperante desde que chegara ali. Não deveria ter vindo. Talvez se tivesse permanecido em seu apartamento na capital, afundando-se em mais uma garrafa de uísque, não teria que encarar a realidade incômoda que se desenrolava diante de seus olhos. Ele os viu assim que saíram da estufa. Eduardo, sempre impecável, tinha os cabelos ligeiramente desalinhados – algo que jamais passaria despercebido a Max, conhecendo a mania de perfeição do irmão. Cecília, por sua vez, trazia as faces coradas e os lábios inchados de um jeito que fez seu sangue ferver nas veias. O que diabos tinham feito ali dentro? A imagem de suas mãos em Cecília o atingiu em cheio, como um soco no estômago. Max cerrou os punhos, lutando contra a onda de ciúme que o invadia sem piedade. Ele não tinha o direito de sentir aquilo – e sabia disso. Cecília era a mulher de Ed
A manhã na fazenda Monteiro de Alcântara seguia em seu ritmo calmo, com o aroma de café fresco se espalhando pelo salão de refeições. O sol iluminava suavemente o ambiente, mas, para Cecília, tudo parecia fora de lugar. Desde a rejeição de Eduardo na estufa, um peso insuportável a acompanhava. Ela se oferecera — algo impensável para uma dama — e ele, com todo seu ar de correção, a afastara como se fosse indigna. Mas não era o noivo que a assombrava. Era Max. O toque dele ainda queimava em sua pele, a lembrança de seu corpo sobre o dela fazia seu coração acelerar de um jeito que a envergonhava. E desde aquela noite, ele sumira. Nenhuma palavra, nenhum olhar. Como se ela não fosse nada. Cecília ajustou o colar de pérolas, tentando conter as emoções enquanto tomava seu lugar à mesa. Ao seu lado, Helena estava sempre composta, enquanto Amélia exalava um brilho de malícia. — Você está estranha. — A voz de Amélia soou, carregada de curiosidade. — Não estou. — Cecília rebateu, em
A viagem até a fazenda dos Vieira de Sá começara antes do nascer do sol. A carruagem balançava suavemente enquanto deixavam para trás as ruas de paralelepípedos do Rio de Janeiro e seguiam pela estrada que os conduziria até São Paulo. O ar ainda carregava o frescor da madrugada, e a névoa pairava sobre as colinas como um véu delicado. Cecília mantinha as mãos enlaçadas no colo, tentando em vão controlar a inquietação que se espalhava por seu peito. A cada quilômetro percorrido, a realidade de que em breve estaria sob o mesmo teto que Max se tornava mais inescapável. — Não entendo seu nervosismo, Cecília. — Gabriel quebrou o silêncio, recostado confortavelmente no banco de couro. — Não há nada de assustador na fazenda dos Vieira de Sá. — Para você, talvez. — Helena interveio com um tom mais suave, mas um sorriso cúmplice nos lábios. — Mas Cecília está indo para conhecer o lugar onde viverá pelo resto da vida. "Se eu chegar a me casar com Eduardo…" A ideia a atravessou como uma a
Eduardo a conduziu para dentro da casa, e Cecília sentiu o ar mudar assim que cruzaram a porta principal. O interior da fazenda era tão imponente quanto o exterior. O mármore polido refletia o brilho suave da luz do entardecer, e os móveis pesados, de madeira escura, davam ao ambiente um ar quase solene. A cada passo que dava ao lado de Eduardo, seu coração parecia pesar mais. A lembrança de suas mãos em Max, do calor dos beijos, ainda queimava em sua pele. E agora, ali, com o homem a quem deveria prometer seu futuro, ela mal conseguia encará-lo. — Imagino que não seja muito diferente da sua casa — Eduardo comentou, conduzindo-a por um longo corredor decorado com pinturas a óleo de paisagens rurais. — É... — Sua voz saiu baixa, e ela precisou se esforçar para acrescentar: — Um pouco mais... formal, talvez. Ele riu suavemente. — Meu pai sempre teve um gosto mais austero. Quando nos casarmos, você poderá dar seu toque feminino à casa. — Seus olhos se suavizaram quando a observo
A escuridão do corredor da casa dos Vieira de Sá era cortada apenas pelo brilho trêmulo da lamparina que Cecília segurava com mãos tensas. O silêncio da noite pesava em seus ombros como uma sentença, cada passo ecoando pelas paredes imponentes enquanto ela tentava se convencer de que precisava apenas de um copo de água – nada mais. Mas então, o destino – o terrível destino – colocou Max em seu caminho. Ele subia as escadas que levavam à adega, com uma garrafa de álcool na mão, a camisa branca com os primeiros botões abertos e a expressão sombria que parecia gravada em seu rosto desde sua chegada. O coração de Cecília acelerou no peito, o ar se tornando denso ao redor deles. Ele parou quando a viu, e por um longo instante, nenhum dos dois disse nada. Apenas ficaram ali, presos em uma tensão que ameaçava romper a frágil fachada que ambos tentavam sustentar. — Não consegue dormir? – A voz dele saiu baixa, rouca, quase um desafio. Ela ergueu o queixo, forçando uma compostura que
A tensão que envolvia Cecília e Max era densa como o ar antes de uma tempestade. O beijo entre eles se aprofundava em um misto perigoso de raiva, desejo e culpa. A cada toque, a cada suspiro abafado, ficava mais claro que nenhum dos dois conseguia resistir à força que os puxava um para o outro – mesmo quando tudo ao redor gritava que aquilo era errado. As mãos de Max, firmes e possessivas, desceram pela curva da cintura de Cecília, puxando-a contra ele, como se quisesse apagar qualquer distância que os separasse. O corpo dela respondeu imediatamente, o coração martelando dentro do peito, os nervos em chamas sob cada carícia. — Você não devia estar aqui… – murmurou ele contra os lábios dela, mas não houve qualquer convicção em sua voz. — E você não devia me querer – retrucou, as palavras saindo ofegantes enquanto suas mãos deslizavam pelos ombros largos, sentindo o calor que queimava sob a pele dele. Max soltou um riso baixo e amargo, pressionando-a mais contra a parede do corre
Cecília mal conseguia respirar ao fechar a porta do quarto, os dedos tremendo levemente enquanto tentava não fazer barulho. O corpo ainda latejava — uma mistura de culpa, raiva e desejo. Sentia a pele sensível onde as mãos de Max a tinham tocado, marcado. Deslizou para a cama ao lado de Helena, que dormia profundamente, alheia ao caos que se desenrolava dentro da irmã. Cecília tentou se cobrir e encontrar algum descanso, mas cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Max. Os olhos intensos, a forma como seu nome soava mais grave na boca dele. O gosto dele ainda estava em sua língua. Ela não era mais a mesma mulher. E sabia que, se alguém descobrisse o que fazia nas sombras, o escândalo a destruiria. Na manhã seguinte, tentou ocupar a mente. Conheceu as dependências da casa, absorvendo cada detalhe do lugar que em poucos meses deveria chamar de lar. A Fazenda dos Vieira de Sá era diferente da sua. Onde a propriedade dos Monteiro de Alcântara era exuberante e festiva, es