📕 Capítulo — Fumaça e Pele Molhada
Narrado por Muralha
Horas se passaram desde o galpão.
O sangue do Galo já devia ter secado no asfalto da frente da delegacia.
Diguinho deixou o bilhete pendurado no pescoço do defunto, igual encomenda maldita. E o recado foi dado — do jeito que tinha que ser.
Agora, era eu, a sala vazia, e um cigarro queimando lento no canto da boca.
A janela entreaberta deixava o vento trazer um pedaço da rua — cheiro de asfalto, cachorro latindo, e um samba chorando longe, lá da laje da Dona Dirce.
Sentei afundado no sofá, tronco largado, só de bermuda, a mão firme segurando a fumaça que me impedia de pensar demais.
Porque pensar... dói.
E tudo ainda doía.
O peito, a mão, a culpa.
Até que eu ouvi o barulho.
Porta do banheiro abrindo devagar, vapor saindo junto com ela.
Ela.
Alana.
Pé no chão frio, cabelo pingando, só com a minha camisa no corpo.
E puta que pariu…
Como é que uma guerra anda descalça e ainda assim parece vencer tudo?
A camisa tava