📕 Capítulo — O Recado no Asfalto
Narrado por Coronel Daniela Vasconcellos
O rádio chiou.
Uma voz nervosa, gaguejando no canal reservado.
— “Coronel… é… é melhor a senhora vir pra cá. Agora.”
Eu nem perguntei por quê.
Só entrei no carro.
E quando cheguei na base da UPP, entendi.
O corpo tava lá.
Bem no meio da rua, como se tivesse sido deixado por um caminhão de lixo com pontaria cirúrgica.
De barriga pra cima.
Olhos abertos.
Rosto inchado.
Um buraco entre as sobrancelhas.
E no pescoço, pendurado com barbante de varal:
"A próxima bala é pra quem usa farda por baixo da camisa."
Silêncio.
Mesmo os PMs que vivem de piada travaram a garganta.
Eu me agachei ao lado do corpo.
Encostei dois dedos no queixo.
— “Galo…” — sussurrei.
Não em luto.
Em cálculo.
O traidor tinha quebrado.
E Muralha… respondeu do jeito mais claro possível: com cadáver e provocação.
— “Filha da puta…” — murmurei, levantando devagar.
Olhei pro alto, pro topo do morro.