[NARRADO POR DANIELA VASCONCELLOS]
O estalo da pasta sendo jogada na mesa ecoou no gabinete.
— “Isso é piada, Vilela?!”
Ele se encolheu, mas tentou manter a pose. O maldito sempre tenta.
— “É o que os bombeiros e os policiais relataram. Carro em chamas, batida feia, dois corpos irreconhecíveis. Tudo indica que eram eles.”
Eu caminhei até a janela. O céu de concreto da cidade refletia meu humor: cinza, carregado, pronto pra tempestade.
— “Eles acham que eram eles.” — repeti, com sarcasmo no canto da boca. — “Mas tu me conhece. Eu não trabalho com ‘acham’. Eu trabalho com provas. Eu trabalho com certezas. E sabe o que isso aqui me cheira, Vilela?”
Me virei de volta pra ele. Olho no olho.
— “Encenação.”
Ele tentou rebater:
— “Mas teve perícia, teve—”
— “E nenhuma identificação confirmada.” — interrompi, seca. — “Dois corpos carbonizados. Ninguém tem vídeo. Nenhuma porra de câmera pegou o momento da batida. Tu quer mesmo que eu engula isso?”
Ele abaixou o olhar.
— “A senhora