[NARRADO POR CAIO – O MURALHA]
Ela saiu do banho ainda com o cabelo pingando, camisa velha minha no corpo, olho firme como se soubesse o que eu tava pensando.
E sabia.
Fiquei parado no meio do quarto, a arma já travada na cintura, o sangue quente nos olhos. Mas foi nela que eu mirei. No silêncio dela. Na guerra que ela carrega por dentro e disfarça com pose de comando.
— “Tu vai comigo,” — falei.
Ela não respondeu na hora. Só me olhou. Daquele jeito dela. Como se enxergasse além da raiva, além do morro, além de mim.
— “É melhor eu não ir.”
— “Por quê?”
— “Porque a presença da farda num lugar onde tu quer derramar sangue… só vai complicar mais.” — a voz dela era reta, mas tinha farpa. — “Tu sabe disso, Caio.”
— “Foda-se a farda. Eu tô falando contigo. Com a mulher. Com a Alana. Não com a porra do Estado.”
— “Mas eu sou a porra do Estado agora.” — ela rebateu, seca. — “E se eu cruzar aquele beco contigo do jeito que tu tá… a guerra que hoje é só tua, vira minha també