📖 Capítulo 3 – Desejos e Barreiras
As primeiras semanas de namoro à distância trouxeram um misto de encanto e inquietações. Ane sentia o coração vibrar cada vez que o celular apitava com uma mensagem de Moreno. Ele, sempre atencioso, a chamava de “meu bombom de chocolate” e, entre uma brincadeira e outra, dedicava-lhe pequenos poemas. Ainda assim, a mente dela não conseguia descansar completamente. Era noite no Brasil quando Moreno ligou em vídeo. Ane estava na sala, a mãe assistindo televisão no quarto ao lado. A luz amarelada do abajur iluminava o rosto dela. — Oi, meu amor. — Ela sorriu, ajeitando os fios cacheados que teimavam em cair sobre o rosto. — Hola, mi bombón. — Ele devolveu o sorriso, com aquele olhar que parecia atravessar a tela. — Estás muy hermosa hoy. Ane corou levemente, mas logo desviou o olhar. Havia algo que lhe pesava no coração. — Moreno… posso te perguntar uma coisa mais delicada? Ele endireitou o corpo na cadeira, curioso. — Claro, mi amor. Pregunta lo que quieras. Ela respirou fundo. — Você já teve muitos relacionamentos… e foi trocado em alguns deles, não foi? Ele suspirou, passando a mão pelo cabelo curto. — Sí… y no fueron experiencias fáciles. Por eso ahora valoro tanto lo que siento contigo. Ane assentiu, mas não estava convencida. — Eu não sou ciumenta, Moreno. Mas a distância… e o passado… me fazem pensar. Eu sei que você é homem, que tem desejos. E eu… tenho minhas convicções de fé. Do outro lado da tela, Moreno ficou em silêncio por alguns segundos. Queria ser honesto sem magoá-la. — Ane, soy hombre, sí. Tengo deseos, claro. Pero también tengo paciencia. No quiero arruinar algo tan bonito por apresurarme. Quiero que confíes en mí. Ela apertou os dedos sobre o colo, tensa. — Às vezes eu fico com medo… medo de você cansar de esperar. Ele se inclinou para mais perto da câmera. — Escúchame bien: no soy perfecto, pero cuando te miro, siento que encontré algo que nunca tuve. No es sólo deseo, es amor. Y eso vale más que todo. As palavras tocaram Ane profundamente. No entanto, a luta dentro dela continuava: como conciliar a fé, que lhe ensinava a esperar e preservar certos limites, com o amor que crescia a cada dia? — Moreno… eu oro todos os dias pedindo a Deus para nos dar direção. — Os olhos dela marejaram. — Eu quero que seja diferente com você. Ele a observou, sentindo uma mistura de ternura e frustração. Não acreditava em Deus, mas não queria ferir a fé dela. — Yo no oro… pero escribo. Y cada poema que hago para ti es mi manera de pedir al universo que no te alejes de mí. Ane sorriu entre lágrimas. — Você é romântico demais… — Sólo contigo, mi bombón. Houve um momento de silêncio, pesado e doce ao mesmo tempo. Ela pensava no que tinha acabado de ouvir, ele tentava controlar a vontade de dizer que a desejava mais do que podia admitir. No fim, trocaram palavras suaves, promessas tímidas de confiança. Quando desligaram, Ane permaneceu sentada, refletindo. Pegou novamente a Bíblia que estava sobre a mesa e ficou orando, pedindo forças para lidar com aquele amor improvável. Do outro lado do mar, Moreno pegou o caderno e começou outro poema. Sua letra apressada preenchia as linhas: "Te pienso con calma, aunque mi cuerpo te reclama, porque más allá del deseo, lo que quiero es tu alma." Ele fechou o caderno com um suspiro profundo. Amava Ane, mas dentro dele ardia um fogo que precisava ser controlado. Paciente, disse a si mesmo. Paciente. Mas, em seu íntimo, não sabia até quando conseguiria esperar.