Os primeiros rascunhos de Depois da Última Carta começaram a surgir com a mesma intensidade com que as nuvens carregadas anunciam uma tempestade.
No papel, tudo fluía: os personagens ganhavam profundidade, as cenas se entrelaçavam com lirismo. Mas, fora do papel, entre Aurora e Davi, uma névoa de tensão começava a se formar.
— Você acha que essa cena está repetitiva? — Aurora perguntou, mexendo nas anotações sobre o capítulo quatro.
— Um pouco — Davi respondeu, sem tirar os olhos do tablet. — Já é a terceira vez que eles discutem no mesmo tom. Tá ficando previsível.
Ela franziu o cenho.
— É a terceira vez que você diz isso hoje.
Ele soltou um suspiro audível.
— É a terceira vez que você escreve a mesma discussão com palavras diferentes.
Silêncio.
A sala, antes criativa e aquecida pela conexão dos dois, ficou fria. Aurora se afastou, segurando o caderno com força.
— Se quiser escrever você sozinho, fica à vontade — ela disse, ríspida. — Talvez assim fique menos previsível.
Davi ergueu