O domingo amanheceu com um céu acinzentado, mas o clima dentro de Aurora estava pior do que qualquer previsão do tempo. Ela acordou com a sensação de que algo estava para acontecer — como se o universo estivesse prendendo a respiração antes da tempestade.
Mesmo assim, se arrumou e saiu de casa antes que a mãe criasse desculpas para segurá-la. No caminho, os pensamentos giravam sem parar. A chuva da noite anterior parecia não ter lavado as dúvidas, apenas molhado as memórias.
Ela encontrou Davi na antiga estação de trem. Ele estava de capuz, sentado no corrimão de metal, com os fones nos ouvidos. Quando a viu, tirou um lado e sorriu, mas o sorriso não chegou nos olhos.
— Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou.
Ele fez que não com a cabeça, mas hesitou.
— Não sei. Tô... estranho hoje. Acordei com a cabeça cheia. E pra completar, meu pai veio me dizer que vai se mudar de vez. Pra outra cidade.
— Ele vai te levar?
— Ele perguntou se eu queria ir. Mas... nem sei o que responder. Parte de