Na manhã seguinte, despertei antes do despertador. Yves ainda dormia, a respiração calma enchendo o quarto com uma paz frágil. O sol entrava em listras pela persiana mal fechada, e a cidade começava a respirar do lado de fora. Mas dentro de mim, algo se movia com mais intensidade do que o habitual.
Caminhei até o banheiro e acendi a luz. Ainda sonolenta, abaixei-me para lavar o rosto. Quando ergui o olhar, meus olhos me encararam de volta no espelho — os próprios, mas... não exatamente.
Havia algo diferente naquele reflexo. Não era o rosto, nem o cabelo, nem os traços — todos familiares. Mas o jeito como aquela imagem se sustentava. Como se alguém estivesse ali, prestes a rir de um segredo.
Pisquei, como se isso pudesse dissipar a sensação. Não dissipou.
— Você de novo... — sussurrei para o espelho, quase em tom de brincadeira, mas sentindo uma pontada real de desconforto.
Não era a primeira vez. Havia semanas em que eu sentia essa presença — uma espécie de versão alternativa de mim m