Voltei pra casa andando devagar, como se cada passo ainda carregasse o eco da conversa com Lorenzo. O céu estava mais escuro do que eu lembrava, mas havia uma leve brisa, dessas que parecem segurar a gente no lugar, pedindo silêncio antes da próxima decisão.
Yves estava com Vanessa, e o apartamento estava mergulhado numa paz frágil quando cheguei. Aquela ausência de barulho que não é exatamente solidão, mas quase.
Tirei os sapatos e fui direto pro quarto, como se ainda estivesse seguindo alguma trilha invisível deixada por ele — Lorenzo. A forma como me olhou. A calma na voz. A frase final, que ainda ecoava em mim:
“Continue escrevendo. Às vezes, é assim que a gente entende o que sente.”
Me sentei na cama com o caderno no colo e uma caneta já na mão. Mas não escrevi.
Fiquei ali, olhando a página em branco.
E então comecei a desenhar.
Primeiro os traços soltos. Ombros largos. Um coque frouxo. Um olhar firme demais pra ser inventado. E depois, quase sem querer, minha mão desenhou