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Entre Promessas E Cicatrizes
Entre Promessas E Cicatrizes
Por: Hillary C.
Capítulo 1 – Um Brinde ao Inesperado

O salão da mansão Moretti em Londres estava decorado como uma cena de filme antigo. Os Candelabros cintilavam, os convidados murmuravam elogios falsos e Emma sentia-se como um objeto em leilão. Aos vinte e cinco anos, era inteligente demais para acreditar em contos de fadas, mas ingênua o bastante para pensar que podia sair ilesa de um casamento arranjado.

Ela sabia que era seu destino desde quando nasceu, seus pais sempre deixaram claro que ela não poderia escolher com quem casar, nunca a impediram de viver sua vida, ter relacionamentos e uma carreira, mas disseram-lhe que aos 25 anos ela deveria estar pronta para assumir sua responsabilidade com a família. 

Emma nunca soube com quem casaria, apenas sabia que seria algum filho de um possível sócio de seu pai, ela realmente não se importava, não acreditava que se apaixonaria e viveria uma felizes para sempre, mas esperava que seu relacionamento ao menos fosse bom, seus pais tinham um relacionamento arranjado e viviam bem, se respeitavam, cuidavam um do outro, era o mínimo que ela queria. Mas Emma não era idiota. 

Durante toda sua vida, ela esteve envolvida na empresa de seu pai — David Moretti —, o acompanhava para todos os lados desde novinha, quando sua mãe ainda era assistente ficava ao seu lado na mesa quando saía da escola e durante a adolescência, apaixonou-se pela ideia de desenhar suas próprias peças e com um talento legítimo, com apenas 15 anos, ela era uma das estilistas da empresa. 

Porém, com 22 anos, após formar-se na universidade, Emma quis mais, ela iria assumir toda a empresa algum dia, precisava estar pronta, por isso grudou-se no seu pai e o acompanhou em reuniões, viagens e com seu carisma, fez ótimos negócios e parcerias, Emma sabia conversar, sabia convencer as pessoas de que ela era totalmente confiável e capaz, não era ingênua e nunca aceitava um acordo sem uma cláusula que protegia sua empresa de futuros problemas. 

Foi óbvio quando ela assumiu o cargo de vice-presidente, seu nome ficou extremamente conhecido na cidade e no país, empresas rivais tentavam conseguir convencê-la de que ela poderia crescer ainda mais se saísse dos braços de David, mas Emma jamais aceitaria, seja qual fosse a proposta, entretanto seu pai não sabia disso. 

Desde que Emma havia assumido seu papel ao seu lado, as vendas das peças Moretti triplicaram, fornecedores ligavam diariamente oferecendo seus serviços e o lucro da empresa aumentava a cada dia, ele não poderia perder sua filha, ele estava ciente disso e Emma também, por isso ela fez algo que deixaria seu pai indeciso, ele não poderia dizer que estava decepcionado, surpreso ou orgulhoso, mas ele tinha uma certeza, ela era alguém excepcional. 

Com uma apresentação de tirar o fôlego, contratos perfeitos, sem um defeito ou uma brecha, Emma apresentou a seus pais um acordo, ela casaria com quem eles quisessem, mas se o casamento não desse certo nos primeiros 2 anos, ela poderia se divorciar e a parceira entre as empresas teria que durar por 10 anos a partir da data de noivado. Era fácil, as roupas Moretti eram vendidas igual água, desde as peças chiques para a realeza a peças mais simples para trabalhadores informais. Era um bom negócio para as duas empresas. 

Ela havia prometido que faria o possível dentro dos dois anos para que o relacionamento desse certo, mas não aceitaria menos que respeito dentro da relação, uma das cláusulas do contrato era que o noivo não deveria saber da possibilidade do divórcio, porque isso o faria pisar em ovos ao redor dela e ela não queria isso. 

Queria conhecer seu futuro marido de verdade, sem falsidade, sem necessidade dele fingir ser algo que não queria ser e que não era de fato. Emma queria ter a oportunidade de aproximar-se da pessoa com quem se casaria, ela só não sabia que o futuro noivo era um babaca e que continuaria sendo babaca com contrato ou não.

Quando conheceu seus sogros, os Bennett, Emma se encantou, mas não se surpreendeu com a escolha, a família Bennett era uma empresa do ramo têxtil, entretanto, ainda eram novatos, um contrato de 10 anos, beneficiaria as duas famílias e de quebra daria aos Bennett a entrada para a vida pública e assim, mais clientes. 

Ela entendeu o porquê da escolha, quando os Bennett’s crescessem no mercado, eles deveriam ser extremamente gratos aos Moretti's e aceitariam qualquer contrato, desde que garantisse que eles seriam os exclusivos, que as peças novas seriam feitas com seus tecidos e nenhum outro. Para crescer fariam e aceitariam de tudo. Seu pai — David Moretti — e seu futuro sogro — Charles Bennett — se conheciam há algum tempo, poderiam ser até considerados amigos, mantinham contato desde que se conheceram no período universitário, mas não mantinham negócios, pois o pai do Charles queria continuar como uma empresa pequena e familiar. 

Charles quando assumiu — cerca de 5 meses que antecederam o noivado — queria mais e recorrer a um velho amigo, era a solução.

Emma livrou-se de pensamentos observando as pessoas a sua volta, que a olhavam com curiosidade, ninguém sabia que ela estava em um relacionamento, sempre havia recebido propostas e mais propostas enquanto trabalhava, sabia que a maioria das pessoas ali, estavam apenas curiosas, queria conhecer seu futuro marido. 

No fundo, Emma também queria. 

Os Bennett’s já haviam chegado, Danielle disfarçadamente digitava mensagens no celular de forma frenética, provavelmente tentando saber o paradeiro de seu filho que ainda não havia aparecido, Emma não estava ansiosa, mas sim nervosa, não gostava de causar cenas, e sabia que caso ele não aparecesse estava na primeira página das tabloides. De repente ela ouviu um burburinho e virou-se curiosamente, foi quando ela o viu. 

Lucas chegou atrasado ao próprio noivado. Usava um terno sob medida, um sorriso blasé e a arrogância de quem achava que não precisava conquistar ninguém, ele caminhou até seus pais, recebendo um olhar de desaprovação de sua mãe e depois olhou em volta do salão. 

Seus olhos percorreram Emma de cima a baixo, claro que ele a conhecia, havia visto inúmeras fotos de sua futura esposa, com um sorriso de lado, ele notou que ela o encarava de volta, por isso com passos lentos, rumou em direção a família Moretti. Cumprimentou Emma com um beijo leve na bochecha, como se estivesse conhecendo uma prima distante, mas aos olhares dos outros poderia ser apenas um cumprimento para o público, guardando a intimidade para dentro de casa. 

— Você é mais bonita ao vivo —  disse. Emma ouviu o comentário e sentiu no tom de voz, o sarcasmo e sorriu de volta, soando tão falsa quanto Lucas soou.

— Você está atrasado, querido — ela respondeu com veneno na voz e Lucas sorriu satisfeito, sentindo que ela seria divertida. 

— Estava fechando um negócio — mentiu. — Desculpe-me por isso, prometo recompensá-la. — Segurou a cintura de Emma e virou-se para cumprimentar seus sogros. 

Naquele momento Emma soube que aquele casamento não seria fácil. 

O salão estava cheio de convidados quando chegou a hora do brinde. David levantou sua taça, com um olhar orgulhoso.

— Um brinde ao futuro do casal! Que esta união traga prosperidade para nossas famílias — David olhou rapidamente para sua família, agradecendo-a pelo olhar. 

Os convidados ergueram suas taças, mas Emma não pôde deixar de sentir um frio na barriga. Lucas, ao seu lado, parecia distraído, olhando para o lado oposto.

— Você está realmente aqui? — Emma sussurrou, chamando sua atenção. Ela prometeu que tentaria, só esperava que Lucas também quisesse tentar. 

— Sim — Lucas respondeu, sem nem olhar para ela. — Só pensando em como isso pode ser um bom negócio — completou e finalmente a encarou. 

— Pense nisso com um negócio Lucas — ela declarou. — Mas lembre-se que você não está lidando com qualquer pessoa, diferente do que você possa pensar, eu sei muito bem o meu valor e exijo respeito. E que você cumpra horários — Emma acrescentou e voltou seu olhar para frente. Seu sogro falava enquanto ela e Lucas sussurravam.

Lucas sorriu, então disse: 

— Como eu disse, é um ótimo negócio. 

Ela revirou os olhos, mas não havia tempo para discussões. O brinde foi feito, e todos aplaudiram.

— Estou tão feliz por ter você na nossa família, Emma. — Danielle Bennett sorriu na sua direção com a taça na mão e Emma assentiu, com um sorriso pequeno.

Olhou para Lucas que apenas olhava em volta, ele pareceu sentir que estava sendo observado e olhou para Emma com a sobrancelha arqueada.  

Emma apenas soltou um suspiro e passou a cumprintar todos que estavam presentes que lhes desejavam felicidades, Lucas fazia o mesmo, ainda com a mão em sua cintura, isso não a incomodava, se essa era a intenção dele.

Após o brinde, cumprimentos e felicitações, a música começou a tocar, e os casais começaram a dançar. Emma observou os outros se divertirem, mas ela e Lucas estavam em um canto, longe da pista, ela nem sabia quando ambos se afastaram da multidão. Apenas percebeu que ambos se dirigiram ao bar.

— Um whisky com gelo — Lucas pediu e olhou para sua noiva que rodava o anel que “ele havia comprado”. — Uma água para minha adorável noiva.  

— Whisky puro, por favor — Emma acrescentou com um leve sorriso. — Você não vai dançar comigo, querido?

— Dançar? — ele indagou olhando para a pista. — Isso não é meu estilo — respondeu calmamente agradecendo as bebidas com um aceno. 

— E qual é seu estilo, Lucas? — Emma perguntou após dar um gole na bebida. — Fechar negócios e ser arrogante? — Sorriu. — Ou chegar atrasado? Espera… na verdade seu estilo é enviar um anel de noivado pela sua mãe durante um jantar que você deveria ter comparecido?

Ele a olhou com um sorriso desdenhoso.

— Exatamente. — Riu. — Sobre o anel, surgiu uma reunião e eu não pude comparecer, realmente sinto muito, acredito que deveríamos ter conversado sobre o que você espera desse casamento e eu também quero que você tenha em mente, o que eu desejo.

Emma respirou fundo, tentando manter a calma. O que ela não sabia era que aquela dança poderia ser a chave para entender seu futuro marido.

— Infelizmente, vamos ter que descobrir o que desejamos ou queremos na convivência, eu viajo amanhã, retorno apenas no dia anterior à cerimônia.

Enquanto os convidados dançavam, Emma se afastou um pouco, observando tudo, ela não esperou uma resposta. 

Seria mesmo possível construir algo com Lucas? Ele não parecia disposto a colaborar.

"Se ao menos ele se importasse” ela pensou. 

A noite avançava, e Emma percebeu que o que parecia um sonho se tornara uma realidade desconfortável. O casamento arranjado era uma negociação, e ela estava disposta a lutar por seu lugar. Lucas parecia achar que ela não era ninguém, que era apenas um peão no meio do tabuleiro, mas esse jogo de xadrez ela também sabia jogar.

— Não vou deixar que isso me quebre.

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