Capítulo 06

Miguel me encarava em silêncio, os braços cruzados, e eu conhecia bem aquele olhar carregado de juízo. Não demoraria para ele abrir a boca.

MIGUEL: O que pretende fazer com Ella, Ethan?

Passei a mão pelos cabelos, contornando a mesa lentamente, até parar diante dele.

“Ella é temperamental, sim. Mas é brilhante. Tem um raciocínio rápido e instintivo que poucos possuem. Se for moldada da forma certa… pode ocupar o lugar que eu quero.”

Miguel balançou a cabeça, sério.

MIGUEL: Ela é boa demais para isso. Não é justo você colocar a garota no meio desse fogo.

“Eu vou protegê-la com a minha vida, Miguel. Ela foi escolhida por mérito, não por acaso. Essa bolsa não caiu no colo dela: eu vi competência, vi algo que não vejo em muitos advogados formados há anos.”

Miguel se aproximou um passo, e sua voz saiu mais firme.

MIGUEL: Então não estrague isso. Não coloque Ella nos seus jogos. Não tente transformá-la em uma peça no seu tabuleiro, Ethan. Isso pode queimar você.

Minha expressão se endureceu. O tom dele estava me irritando.

“O que você quer dizer com isso, Miguel?”

Ele me encarou.

MIGUEL: Que você vai se apaixonar por ela. Se é que já não está. A menina é simplesmente linda, e não precisa ser gênio para ver que ela te atrai.

Dei uma risada seca, sarcástica, e bati levemente a mão no encosto da poltrona.

“Deixa de conversa estúpida, Miguel! Eu não sou como você, que só pensa com o p3ni@s. Eu tenho objetivos a alcançar, e me apaixonar não faz parte do plano.”

Miguel sorriu de canto, aquele sorriso irritante que me dava vontade de quebrar-lhe a cara só para apagar.

MIGUEL: Se convença disso, Ravelli. Mas olha nos meus olhos e me diz que não pensou nela nem por um segundo hoje. Eu me arrisco a dizer que você pensa nela todas as noites.

O silêncio foi minha resposta. Eu não lhe daria o prazer de ouvir.

“Já deu por hoje. Vai embora, Miguel. Está me deixando irritado com suas teorias estúpidas!”

Ele riu, satisfeito, pegou o casaco e foi em direção à porta, mas antes de sair ele gritou.

MIGUEL: Boa sorte domando o furacão, amigo! Vai precisar de muita coragem para domar aquela fera. Eu me arrisco a dizer que quem será domado vai ser você.

A porta se fechou, e o silêncio voltou. Peguei um copo, servi o whisky e caminhei até a janela. Manhattan brilhava como um colar infinito de luzes. Apoiei a mão no vidro frio e fechei os olhos. Mas, em vez de estratégias e números, a imagem dela invadiu meus pensamentos. Molhada pela tempestade, com os olhos desafiadores, a boca vermelha soltando veneno contra mim.

Seu olhar me desafiava, e o meu desejo era ir atrás dela. Nunca gostei de ser desafiado, principalmente por uma mulher. Era inaceitável.

“Ela faz parte do jogo, apenas isso, Ethan. Não dá ouvidos para a porra do Miguel que fica te infernizando.”

Dei um gole longo, tentando engolir aquela sensação estranha que me perseguia desde a tarde.

DOIS DIAS DEPOIS…

O escritório estava movimentado, mas minha atenção estava em outra coisa: a ausência dela. Nenhum sinal de Isabella Fontana desde aquela noite. Nenhuma mensagem, nenhuma justificativa. Ela simplesmente resolveu testar meu nível de paciência.

“Está brincando comigo”

Murmurei, batendo a caneta contra a mesa.

À tarde, fui para a universidade. Entrei na sala com a postura impecável que todos esperavam, mas quando os olhos percorreram as fileiras, a cadeira dela estava vazia.

Ela está me desafiando.

Deixei a pasta sobre a mesa com um estalo seco. Os alunos se calaram imediatamente.

“Boa tarde. Hoje vamos falar sobre um tema essencial para qualquer jurista que pretenda compreender o funcionamento das sombras da lei: criminologia aplicada à psicologia criminal.”

Lia estava à minha frente. O olhar assustado de sempre, mas com algo a mais que não consegui identificar.

Comecei a caminhar entre as fileiras, a voz firme preenchendo o ambiente.

“Quando falamos de um crime, a maioria pensa apenas no ato. Mas para um estrategista… o crime é apenas a ponta do iceberg. O que me interessa é a mente. Por que alguém cruza a linha? O que leva uma pessoa aparentemente comum a cometer um ato extremo?”

Silêncio. Ela não estava ali para responder ou me questionar. Era a única capaz de me enfrentar nos diálogos.

Alguns alunos anotavam freneticamente. Eu continuei, com um leve sorriso que ninguém entendeu. Um sorriso cheio de intenções.

“Às vezes, basta um gatilho. Um momento de raiva. Uma frustração acumulada. Uma sensação de impotência. Tudo isso pode transformar um ser humano… em algo perigoso.”

Apoiei as mãos na mesa, inclinando o corpo para frente, os olhos varrendo a sala e parando em Lia Watson.

“Agora, me digam: quando uma pessoa ultrapassa os próprios limites… quem é o culpado? Ela? Ou quem a empurrou até a beira do precipício?”

O silêncio foi absoluto. E eu só conseguia pensar nela. No copo d’água no meu rosto. Na porta batendo. Na imagem dela destruindo meu carro. Sorri sozinho.

“Pensem nisso para a próxima aula.”

Lia Watson levantou-se rapidamente e saiu. Era como se estivesse escondendo algo, ou até mesmo tentando me dizer algo.

Percebi pela forma que agiu. Em

Como seu corpo estava rígido, suas mãos trêmulas.

No quinto dia, estava em minha sala no escritório. Nada de Ella aparecer, e atendendo ao pedido do Miguel de ter paciência com ela, não liguei e também não fui atrás dela.

“Teve alguma notícia dela, Miguel?”

MIGUEL: Não, mas estou indo agora no apartamento dela. Eu realmente estou preocupado com ela. Você não está?

“Desde o primeiro dia, Miguel. Ella Fontana não é de correr. O normal seria estar aqui no dia seguinte me incomodando com seu olhar curioso e suas respostas rápidas e sem pensar. Garota linguaruda, isso sim!”

MIGUEL: Você está com saudades dela. É tão óbvio que está apaixonado que nem consegue esconder.

Estava em pé diante de sua mesa com as mãos no bolso. A minha expressão me condenava e a possibilidade de algo ruim ter acontecido com Ella me deixou aflito.

“Miguel, você já terminou os relatórios? Já fez a parte da Isabella? VAI TRABALHAR SEU FOLGADO! Fica com conversinha… eu deveria comprar sua parte e te colocar para fora daqui. Não faz nada para me ajudar, só atrapalha minha vida, porra!”

MIGUEL: Hahaha! Está extremamente apavorado com a ideia dela ter ido embora… não sei, desaparecido, não é mesmo?

Antes que eu pudesse responder ouvi gritos na recepção.

“EU VOU FALAR COM ELE SIM, SUA FOLGADA! NÃO VAI ME IMPEDIR!”

MIGUEL: É a amiga da Ella… a Lia Watson, não é isso?

Por um momento, mesmo não sabendo o motivo, meu coração errou as batidas. Eu sabia que tinha algo errado. Que algo muito grave estava acontecendo.

LIA: Por favor me ajuda… Ella precisa de ajuda e eu não aguento mais ficar em silêncio.

Ela empurrou a porta e foi logo falando.

“ Calma Lia… se acalme e me diga o que está acontecendo.”

Miguel pegou um copo com água e sentou Lia na poltrona. Ela estava pálida, trêmula e gagueja o tempo todo.

LIA: Eu fiquei quieta até agora porque pensava que o senhor tinha feito isso com ela… mas hoje os caras apareceram no nosso apartamento.

“Seja mais clara Lia… Do que está falando?”

LIA: A Ella voltou aquela noite para o apartamento toda arrebentada. O rosto dela está horrível… os braços, ela está com a costela fraturada. Eu pensei que você tinha agredido ela por causa do carro. Mas hoje dois homens entraram no apartamento, quebraram tudo. Eles me trancaram no meu quarto e foram até ela… eles abusaram dela e disse que o irmão dela é quem deixou eles entrarem lá.

“ Onde está Lia?”

LIA: Jogada no chão do apartamento… ela abriu a porta para mim. Me pediu para não contar para ninguém, ou iam nos matar. Mas eu sei que o senhor é o único que pode ajudar ela e também nos proteger.

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