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Capítulo 5 – Silêncios e Cordas

Elisa passou parte da manhã no closet de Eduardo. O espaço era enorme, mais parecido com uma boutique masculina do que com um armário comum. Camisas de grife, ternos sob medida, sapatos italianos perfeitamente alinhados... mas também um certo descuido.

Cabides misturados, gravatas emboladas, sapatos trocados de lugar. Nada grave, mas Elisa conhecia o tipo de homem que Eduardo era. Detalhista, metódico, discreto. E por trás da frieza, ela suspeitava que havia algo ali que precisava de ordem, mesmo que ele nunca dissesse.

Separou as camisas por cor, os ternos por ocasião, limpou os cabides, reorganizou as gravatas por tonalidade. Dobrou meias, alinhou cintos. Colocou etiquetas discretas nas prateleiras e arrumou os perfumes favoritos dele na sequência de uso.

Três horas depois, o closet parecia outro. Limpo, funcional, elegante. Como ela imaginava que Eduardo gostaria.

Ficou ali parada por alguns instantes, observando o resultado com um pequeno sorriso nos lábios. Um gesto pequeno. Mas cheio de intenção.

Talvez ele perceba.

Talvez isso mostre a ele que eu me importo.

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À noite, ele chegou por volta das nove. Sem avisar. Como de costume.

Elisa estava sentada no sofá da sala, lendo. Ao ouvir o som da porta, levantou-se discretamente, o coração batendo mais rápido do que deveria.

Eduardo entrou, largou o paletó no encosto de uma cadeira e seguiu direto para o quarto.

Ela esperou alguns minutos, depois se aproximou da porta entreaberta.

Seu closet... começou, com a voz mansa, organizei hoje. Achei que poderia te ajudar com a rotina.

Ele estava desabotoando a camisa. Nem a olhou.

Ah. Tá.

Silêncio.

Ela esperou mais. Esperou algum comentário, algum gesto. Um olhar. Qualquer coisa.

Mas tudo que veio foi o som do zíper da calça e a torneira sendo aberta no banheiro.

Elisa ficou parada ali por mais alguns segundos. Depois, se afastou lentamente.

E sentiu, pela primeira vez em dias, frustração de verdade.

Não era tristeza. Era uma mistura de exaustão com decepção. Como se aquele gesto silencioso de cuidado tivesse sido jogado ao chão sem ao menos um olhar.

Ela saiu da cobertura minutos depois. Precisava respirar. Sentir o ar do mar. Escapar da prisão dourada onde sua presença era sempre invisível.

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A orla de Ipanema estava calma naquela noite. A brisa soprava suave, misturando o cheiro de maresia com jasmim. Elisa caminhava devagar, os cabelos soltos dançando com o vento, os olhos baixos.

Foi então que o som a atingiu.

Um saxofone.

Notas melancólicas ecoavam da calçada, acompanhadas apenas pelo som distante das ondas. Um músico de rua tocava sob um poste de luz, olhos fechados, corpo levemente inclinado como se conversasse com o instrumento.

Elisa parou.

As notas pareciam entrar nela como agulhas suaves. Era jazz ... Autumn Leaves, talvez. E aquilo a fez sentir algo que não sentia há semanas: vida.

Lembrou-se de si mesma com um violino nos braços, aos quatorze anos, treinando até os dedos doerem. Lembrou-se das apresentações no conservatório, do orgulho em cada nota, do modo como o mundo desaparecia quando ela tocava.

Lágrimas silenciosas encheram seus olhos. Não de tristeza, mas de saudade.

Saudade de si mesma.

Depois de alguns minutos parada, ela se aproximou do músico e deixou uma nota dobrada na caixa de papelão aos pés dele. Ele sorriu e assentiu sem parar de tocar.

Elisa retribuiu o sorriso.

E soube, naquele momento, o que faria.

Ela voltaria a tocar.

Não precisava da permissão de Eduardo.

Nem da aprovação de ninguém.

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No dia seguinte, sem alarde, Elisa fez uma pesquisa rápida no celular. Encontrou um estúdio discreto em Copacabana que oferecia aulas particulares para músicos inativos, pessoas que queriam resgatar uma paixão antiga.

Agendou sua primeira aula para a semana seguinte. Comprou um estojo novo de violino. E à tarde, saiu sozinha para buscar o instrumento antigo na casa da avó, onde ele havia sido guardado.

Ao pegá-lo nas mãos, sentiu como se reencontrasse uma parte de si que estava adormecida. A madeira lisa, o peso conhecido, o cheiro da resina. Era como voltar ao lar.

No elevador da cobertura, subindo de volta para casa, segurava o estojo com firmeza. Pela primeira vez desde o casamento, seus olhos brilhavam de verdade.

Ela não contaria a Eduardo. Não ainda.

Aquilo era só dela.

E talvez, no fundo, fosse exatamente disso que precisava: algo que a lembrasse de quem era antes de se tornar "a esposa de Eduardo Castro".

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