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Capítulo 3 – Entre o Luto e o Gelo

A noite ainda não havia terminado quando Elisa e Eduardo chegaram à cobertura. O carro deslizou silencioso pelas ruas iluminadas do Rio de Janeiro, mas o clima dentro dele era sufocante. Elisa manteve o olhar fixo nas luzes da cidade que passavam velozes pela janela, como se quisesse se agarrar àquele movimento para não pensar no vazio que a esperava. Eduardo, por outro lado, permanecia calado, rígido no banco ao lado, como se cada palavra fosse um peso que ele não estava disposto a carregar.

Ao chegarem, o porteiro abriu as portas com respeito exagerado, refletindo o prestígio de quem habitava aquele prédio. O elevador os levou em silêncio até o último andar, onde as portas se abriram para revelar a cobertura de Eduardo. O espaço era amplo, moderno e impecavelmente decorado. Cada detalhe revelava luxo e sofisticação, mas também a frieza de quem transformava o lar em um cartão de visitas. Não havia calor, não havia vida.

Elisa entrou devagar, como quem invade território inimigo. O salto fino ecoava sobre o mármore polido, e ela sentiu uma pontada de desconforto. A grandiosidade daquele lugar a oprimia, e ao mesmo tempo, deixava claro que não pertencia ali.

Eduardo tirou o paletó e o largou no encosto do sofá, sem se preocupar com ela. Serviu-se de um uísque no bar da sala e bebeu um gole demorado antes de se virar para a recém-esposa.

Este é o nosso lar agora ... disse, sem emoção. Espero que saiba se comportar à altura.

Elisa ergueu os olhos para ele, tentando decifrar se havia alguma provocação escondida em suas palavras. Mas encontrou apenas a máscara fria que ele sustentava desde o altar.

Não precisa se preocupar, Eduardo. Não tenho intenção de envergonhá-lo. . Sua voz saiu firme, mas por dentro o coração batia descompassado.

Ele assentiu com um meio sorriso irônico e se afastou em direção ao quarto principal, deixando-a sozinha em meio ao luxo gelado da sala. Elisa respirou fundo, tentando conter a angústia que crescia dentro de si. Naquela noite, não era apenas o silêncio que a sufocava, mas a certeza de que, mesmo casada, estava sozinha.

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A manhã seguinte chegou pesada, anunciada pelo toque insistente do telefone. Elisa, ainda deitada na cama de hóspedes — pois não tivera coragem de dividir a cama com Eduardo —, atendeu com a voz embargada de sono.

Do outro lado, a notícia caiu como um raio: Francisca Santos havia falecido durante a madrugada.

Por um momento, Elisa ficou muda, como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. O coração se apertou e uma dor profunda tomou conta dela. A avó fora sua única referência, sua fortaleza silenciosa, e agora se fora sem sequer despedir-se.

As lágrimas vieram em silêncio, escorrendo pelo rosto enquanto ela apertava o telefone contra o ouvido.

Como… como assim? Eu falei com ela ontem… murmurou, sem acreditar.

Foi rápido, Elisa. O coração não resistiu. Ela se foi em paz ... respondeu a voz do outro lado, cheia de pesar.

Eduardo entrou na sala ao ouvir o choro e parou à porta, observando-a sem se aproximar. O copo de café ainda em mãos, ele parecia um estranho diante da dor dela. Quando Elisa desligou a ligação, os olhos vermelhos e a respiração entrecortada, ele apenas perguntou, sem emoção:

O que aconteceu?

Minha avó… a voz dela falhou. Ela morreu.

Um silêncio pesado se instalou entre os dois. Elisa esperava, talvez, um gesto mínimo de consolo, uma palavra de apoio. Mas Eduardo apenas baixou os olhos e deu mais um gole no café.

Sinto muito. A frase saiu seca, como uma formalidade que ele precisava cumprir. Providenciarei o carro para o enterro.

E foi embora.

Elisa sentiu o peito arder. A ausência de empatia era tão dolorosa quanto a própria perda. Sozinha na sala luxuosa, ela chorou como não fazia desde criança, abraçando-se como única forma de consolo.

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O enterro foi discreto, mas carregado de emoção. Elisa vestiu-se de preto e ficou ao lado do caixão, observando o rosto sereno da avó uma última vez. As palavras do padre pareciam distantes, abafadas pela dor surda que tomava conta de seu peito.

Eduardo estava lá, é claro, cumprindo o papel de marido exemplar diante da sociedade. Suas mãos estavam firmes, sua postura impecável. Mas não havia nada além disso. Ele não tocou Elisa, não ofereceu o ombro, não disse nada além de frases protocolares a conhecidos e amigos da família.

Para os presentes, ele parecia um homem forte, sustentando a esposa em um momento difícil. Mas Elisa sabia a verdade: estava completamente só.

Quando o caixão foi descido à terra, uma parte dela pareceu ser enterrada junto. Era como se tivesse perdido não apenas a avó, mas também a única ponte que ainda a ligava ao passado, ao lar, ao afeto.

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De volta à cobertura, a frieza de Eduardo tornou-se ainda mais evidente. Ele se trancava no escritório por horas, mergulhado em papéis e negócios, como se nada tivesse acontecido. Elisa vagava pelos corredores amplos, perdida entre paredes de vidro e móveis caros, tentando se acostumar a uma vida que mais parecia uma prisão dourada.

No primeiro jantar após o luto, sentaram-se à mesa longa e imponente, mas o silêncio era tão cortante que Elisa mal conseguia engolir a comida. Eduardo, com o olhar fixo no prato, quebrou o silêncio apenas para dar uma ordem.

Amanhã teremos um jantar com investidores. Quero que esteja presente.

Ela o encarou, surpresa.

. Minha avó foi enterrada hoje, Eduardo. Eu não estou em condições de...

A vida não para, Elisa. Ele a interrompeu com frieza. Você precisa entender isso se quiser viver ao meu lado.

As palavras dele soaram como facas, mas também despertaram algo dentro dela. Um misto de raiva e determinação. Elisa não respondera naquele momento, mas em seu íntimo prometeu que não deixaria que Eduardo a esmagasse.

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As noites seguintes foram de silêncio. Elisa chorava baixinho em seu quarto, enquanto Eduardo permanecia distante no dele. Mas mesmo na arrogância dele, havia algo estranho: em alguns momentos, quando pensava que ela não percebia, o olhar dele se demorava sobre ela. Havia curiosidade, talvez até um resquício de humanidade, mas logo ele se escondia atrás da máscara de frieza.

Elisa, por sua vez, começava a descobrir que sua maior força seria justamente o silêncio. Não o silêncio da submissão, mas o silêncio que guarda promessas. Promessa de resistir. Promessa de, um dia, quebrar as barreiras que Eduardo erguia.

Naquele primeiro dia de vida juntos, marcado pelo luto e pela distância, ficou claro que a convivência seria uma guerra silenciosa. Eduardo com sua arrogância, Elisa com sua resiliência. Dois mundos opostos, forçados a dividir o mesmo teto.

E no fundo, sem perceber, algo começava a germinar no coração de ambos. Não era amor, não ainda. Mas era a semente de uma história que nenhum deles conseguiria controlar.

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